4

47 5 2
                                    

O endereço no papel levou Adriana a um edifício não muito longe de sua casa, construído quase dentro do mar. Camila não escrevera o nome do tal comprador, só o andar e o número do apartamento. Esperava que o porteiro fosse com a sua cara.

-- Posso ajudar? – um homenzarrão perguntou do outro lado da janela da portaria. Pelo tom mal humorado, não parecia muito disposto a ajudar em nada, mas Adriana não daria para trás por causa de um brutamontes, não quando faltava tão pouco para escapar do Ministério do Comércio.

-- Estou procurando pelo morador do apto 302. Não o conheço, mas tenho uma antiguidade que pode interessar a ele.

O grandalhão resmungou que esperasse e pegou o interfone. Adriana apurou os ouvidos para escutar o que ele falava.

-- Tem uma menina querendo falar com o senhor. Tem uma antiguidade para o senhor ver. Está bem – ele apertou um botão e a porta de acesso ao prédio se abriu. Adriana passou pelo detector de metal sem acioná-lo, atravessou o pátio de entrada e calmamente entrou no elevador.

O edifício era bem alto, e o cara morava quase na cobertura, então demorou pouco menos de cinco minutos para chegar. A cada segundo a ansiedade da jovem aumentava, e ela tentava descarrega-la inutilmente tamborilando os dedos.

Quando as portas do elevador se abriram, Adriana se dirigiu ao apartamento 302, hesitando antes de tocar a campainha. Aquele disco era mais valioso do que todos os itens que já vendera, precisava ser inflexível quanto a o que ganharia com ele, não podia ceder à pressão.

Estava com isso em mente ao tocar a campainha, mas quando a porta se abriu, todos esses pensamentos desapareceram.

-- Adriana?! – Pablo exclamou ao vê-la – Você é quem quer vender uma coisa para mim.

-- Pablo... Você não morava num condomínio perto da Ilha Norte?

-- Me mudei há duas semanas. O seu pai não te contou?

-- Nós não conversamos muito – Adriana respondeu sombriamente. Pablo assentiu, compreensivo.

-- Certo. Bom, se vai vender algo para mim, entre, me mostre.

O interior do apartamento estava cheio de caixas, indicando uma mudança recente. O homem puxou uma cadeira para Adriana e sentou-se numa poltrona defronte, com uma mesinha de centro entre os dois.

A duquesa tirou o disco do bolso e pôs na mesa. Pablo inclinou-se e segurou o objeto com as pontas dos dedos como se fosse de porcelana.

-- Esse disco tem a Bíblia Sagrada gravada nele – Adriana explicou – É velho, do século XXI provavelmente, quando o armazenamento digital 5D foi criado e se limitava a textos escritos.

-- Fantástico – Pablo devolveu o objeto à mesa e recostou-se na poltrona – Quanto quer por ele?

-- Considerando que é raro, acho que deve valer perto de vinte mil Monos.

A expressão de incredulidade e indignação que Pablo exibiu fez Adriana sentir o estômago desaparecer, junto com toda a determinação de minutos atrás. Por um momento achou que ele ia recusar, o que aumentou a sua surpresa ao ouvir a resposta:

-- Eu não poderia pagar isso, Adriana, acho que deve valer no mínimo cinquenta mil. Eu estaria te explorando se pagasse menos que isso.

O queixo de Adriana caiu. Ela não conseguiu articular uma palavra durante o tempo em que Pablo fazia um cheque, entregava-o e guardava o cristal recém-adquirido. Depois o homem a acompanhou até a porta, dizendo:

ImigrantesOnde histórias criam vida. Descubra agora