- Por que estou dizendo isso? Você se lembra como foi nossa despedida? Ao menos disso você se recorda?
- ... Não. Na verdade, vim para o Brasil porque meus pais estavam endividados na Europa e eles disseram que seria melhor para mim voltar à origem. Foi um desafio imenso reaprender a falar português!- É, você realmente cumpriu com o que disse. Você disse que não queria se lembrar de nada do Rio de Janeiro.
Contei tudo o que me lembrava para ela, que apenas parecia indignada. Indignada de não se lembrar verdadeiramente de mim e nem do que eu dizia e de ter feito algo tão cruel aos olhos de uma criança de dez anos.
- Pode parecer bobo ter rancor de algo tão ridículo e infantil, - disse, imaginando o que Elisa diria - mas você foi o meu primeiro amor, e eu acredito que, acima de todos os outros, o primeiro sempre é o mais importante. Minha primeira decepção amorosa marcou bastante minha trajetória. Confesso que, até alguns anos atrás, eu ainda lembrava de você.
- Te entendo completamente. Os traumas da infância ficam para sempre na nossa memória. Me desculpe por isso. Podemos... Recomeçar?
- Acho que sim.
- Ótimo. Eu sou Elisa. - disse, me estendendo a mão.
Sorri, feliz com o fato de que ela tinha levado a sério o recomeço. Sua essência não se perdera.
- E eu sou Thomas.
Apertamos nossas mãos e sorrimos quando minha mãe chegou na sala.
- Eli? É você! - Carmem a abraçou apertado. Elisa também não a reconhecia, mas gostara e correspondera o abraço.
As garotas começaram a conversar e eu fui para o meu quarto, sem paciência para as típicas conversas de pessoas que não se veem faz tempo.
Eu iria fazer meus deveres, mas recordei-me do beijo (dos beijos, na verdade) da noite passada, e senti o desejo de ligar para Stace. Será que eu deveria ou seria inconveniente demais? Quando tomei coragem para discar, Zack me ligou.
- Alô.
- E aí, cara! Qual é a boa?
- ... Por que você não me mandou mensagem, Isac Rodrigues?
- Thomas! Já falei que não é Isac! É Zack! Zé-qui!
Zack odiava seu nome de nascença. Dizia que era nome de velho e que espantava as garotas. Será que "Thomas" também era?
- Fala o que você quer logo!
- Credo, que grosseria! Mais respeito com seu melhor amigo!
Fiquei em silêncio até que o garoto manifestou-se:
- Que tal uma tarde de videogames hoje?
- Chego aí em dez minutos.
- Eu sabia que você adoraria a ideia. Anda logo, nerd.
Desliguei e corri para a garagem, pegando minha bicicleta e indo para a casa de Isac.
(...)
- Caramba, Thomas! Você me derrotou em um minuto! - Zack me disse, depois da quinta partida que jogávamos.
- Ser nerd tem suas vantagens. - dei de ombros.
- Você está estranho hoje.
- Estranho como?
- Sei lá, parece mais retardado. Na verdade, parece afim de alguém.
Sorri, um pouco constrangido.
- É, você acertou. Eu e Stace...
- Vocês se beijaram e agora você acredita que ela é o amor da sua vida.
Eu era tão decifrável assim?
- Mas você está igual um idiota, então com certeza está gostando dela.
- Idiota é você! - joguei um travesseiro nele.
- Olha quem fala! - ele revidou com outro travesseiro.
Como duas crianças, iniciamos uma guerra de travesseiros. Até que ele parou, boquiaberto, como se visse a oitava maravilha do mundo na porta de seu quarto.
- Olá, rapazes. - Elisa cumprimentou-nos.
Depois disso, Zack passou a tarde inteira jogando com a garota e eu apenas assisti o espetáculo.
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Amor nos olhos azuis [CONCLUÍDO]
Teen FictionEm todos os livros de romance, vemos uma garota narrando sua grande paixão de colegial. Mas já pensaram se, em algumas dessas histórias, o garoto narrasse seu amor? Thomas é um garoto tímido, introvertido, inteligente e dedicado, ou simplesmente um...