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O expresso-voador pousou tão rápido na estação de Brascard, que Helena mal pode sentir o impacto. E tão rápido como foi a chegada, foi a sua partida. Antes mesmo que Helena reparasse, Madureira já havia ido embora, levando consigo outros passageiros.

A estação de Brascard fervilhava naquele horário de protetores e outros seres mágicos que carregavam bagagens de um lado para o outro. No alto de uma das paredes havia um grande relógio com mais ponteiros do que Helena podia contar.

― Primeiro vamos até o Laço do Trasgo. ― Ivan ia a frente, abrindo espaço por um grupo de senhoras.

― Laço do Trasgo? ― Helena perguntou. Não parecia boa coisa.

― Você verá quando chegar. ― Disse Charlotte, impaciente.

Por onde Helena passava as pessoas a encaravam. Ela não sabia se eram as suas roupas, sua aparência ou se estava escrito forasteira em sua testa. Mas aquilo a estava incomodando.

O clima estava frio na rua e eles deram de cara para o que Helena pensou ser a principal avenida de Brascard. Era larga, feita de paralelepípedos e era cortada ao meio por um córrego de água cristalina. Nas margens do córrego haviam árvores e bancos de madeira e algumas pontes para atravessar para o outro lado.

Os prédios não eram tão altos, mas eram largos e quando não estavam colados um no outro formavam pequenos becos mal iluminados. As janelas eram grandes e retangulares, e no primeiro andar de cada prédio havia pelo menos umas três ou quatro lojas.

― Você terá tempo para conhecer tudo isso mais tarde. ― Ivan garantiu.

Helena o seguiu pela ponte de madeira ornamentada com flores coloridas e delicados arranjos. Abaixo havia um córrego tranquilo e límpido. Helena se debruçou sobre a ponte.

― Eu não faria isso se fosse você. ― Will a pôs de volta no caminho.

― Porque? É lindo. ― Helena recomeçou a andar.

― Bonito e perigoso.

O quarteto andou por mais cinco minutos. Os prédios largos deram lugar à pequenos prédios de dois andares com uma loja no térreo. Aquela parte da cidade era colorida e animada. As pessoas ziguezagueavam pela rua e não pareciam se importar com os carros.

― Eu não vi nenhum carro. ― Helena se deu conta.

― Não são muito comuns aqui. ― Will explicou. ― Extremamente poluentes e temos um jeito mais prático e rápido de viajar.

― Você disse viajar?

― Chegamos! ― Ivan anunciou. ― Bem-vinda ao Laço do Trasgo.

Estavam definitivamente no prédio mais feio da rua. Ao contrário dos sobrados coloridos e convidativos o Laço do Trasgo, que ficava nos limites da cidade, era uma construção de cinco andares, irregular, feita de metal escuro e cobre. E soltava fumaça ainda por cima!

Helena recuou, instintivamente. Mas antes que pudesse dar mais algum passo para trás, Will a deteve, colocando a mão fria em seus ombros. Uma criatura esquisita saiu pela porta torta de madeira, trajando um vestido amarelo mostarda e um lenço colorido no pescoço.

― Finalmente vocês chegaram! ― Disse a voz rouca e falhada. ― Vocês estão atrasados. Como se não bastasse eu mudar todo o itinerário para atende-lo, vocês estão atrasados! ― Reclamou.

Ivan pigarreou e lançou um olhar para Helena, que ainda estava petrificada pela aparência da mulher. A mulher de meia-idade tinha a pele verde e espinhas purulentas sobre o rosto. O nariz tinha formato de batata e o cabelo branco desgrenhado era ressecado e parecia ter vida própria. Era bastante baixa e falava atropelando as palavras, apesar da voz falhada e rouca.

As Raças IrmãsWhere stories live. Discover now