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― Meus caros, diferente dos anos anteriores, a tradicional Caçada será realizada apenas e tão somente nas dependências internas da Academia. ― Althariel anunciou.

O burburinho de lamentos preencheu o salão de banquetes durante o café da manhã. Althariel os ignorou.

― Não se esqueçam que o Expresso-voador partirá pontualmente as 10:30 e a segunda viagem ao 12:00. Aqueles que não entregaram a sua autorização de saída para a Sra. Twyla que o façam imediatamente.

O sino badalou e Althariel deu um largo sorriso. Helena reparou que ele nutria certa preocupação. Todos os professores nutriam.

― Feliz Dia dos Grãos e lembrem-se as pequenas fadas amam chocolate.

Todos os aprendizes, sem exceção, correram pelas dependências da Academia em busca dos presentes, antes que as pequenas fadas os encontrassem. Em uma das esquinas Helena trombou com Vince e gargalhou.

― Já está novinha em folha. ― Ele falou.

― Você tem alguma dica para mim? ― Helena suplicou.

― Na janela mais alta a leste. ― Ele sussurrou. ― Você tem alguma dica para mim? ― Ele perguntou esperançoso.

― Na janela mais alta a oeste. ― Ela gargalhou.

― TRAPAÇA. ― Gritou Cordélia no fim do corredor.

Se fossem vistos trapaceando, poderiam perder todos os chocolates para o delator. Vince e Helena subiram a escada correndo e seguiram em direções opostas. Helena encontrou pendurado na janela mais alta um ovo de chocolate com recheio de caramelo. Preso à embalagem vermelha havia um bilhete.

Já que não posso dependurar nenhum calouro.... Sinto muito por ontem – V.

Sem dizer nada, mas com um sorriso estampado no rosto, os dois voltaram para a Caçada.

Encontrar os presentes de Susan e Iadala foi fácil e, por pura sorte, encontrou os presentes de Jacob e a lembrancinha carinhosa de Jim e Wesley. Os dois haviam escondidos no mesmo lugar.

Na biblioteca achou o ovo de chocolate de Twyla e se arrependeu de ter escondido o presente dela no mesmo lugar. Tão previsível.

― Helena. ― Chamou Thomas, ela tinha acabado de encontrar a caixa de biscoitos caseiros embaixo da mesa deles no salão de banquete. ― Onde você escondeu o meu? ― Thomas perguntou com a boca cheia de chocolate.

― Como se você fosse esperar o fim da Caçada para comer, não é? ― Helena sorriu. ― Escondi na bagunça do seu dormitório, aproveita e arruma aquele lugar.

Thomas assentiu e antes que partisse, Helena agarrou o seu braço.

― O que Will te deu?

― Um licor de chocolate, ele deixou na minha mochila. Porque?

― Não é nada. ― Deu de ombros. Era o presente que faltava ― Corra antes que alguém encontre o que comprei para você.

― Ele não costuma participar dessas coisas. ― Charlotte disse atrás dela.
Ao contrário dos outros aprendizes que carregavam malas e mochilas pesadas para o átrio. Charlotte vestia uma calça de couro comum e uma regata cinza. Os cabelos ruivos trançados e presos num coque.

― Nem você pelo visto.

― Gostei dos bombons perto do estábulo. ― Ela riu. ― Eu não participo, mas comprei uma coisa para você. ― Ela estendeu o pacote dourado.

Helena rasgou a embalagem e viu balinhas de chocolate em formato de espada. Não pode deixar de sorrir.

―Nossa, estou surpresa. ― Helena riu. ― Porque está vestida desse jeito? Não vai para casa no feriado?

― Tenho uns assuntos a tratar por aqui. ― Ela disse de modo evasivo. Helena não insistiu. ― Pensei que tivesse alertado sobre Will.

Helena corou, sem saber exatamente o porquê, então sorriu.

― Todos vocês querem me alertar sobre algo. ― Ela deu de ombros. ― Talvez eu faça simplesmente o oposto do que vocês querem.

O sol estava a pino quando eles se reuniram próximo aos estábulos para a partida de Helena. O Expresso-voador serpenteava no céu levando a última leva dos aprendizes.

― Helena, não se aventure. ― Twyla disse com um sorriso e lhe deu dois beijos no rosto. Helena sorriu e foi dominada por um frio na barriga.

― Espero que eles gostem de mim. ― Ela suspirou. Não estava pronta para uma rejeição daquelas.

― Ei, eles vão amar você. ― Twyla assegurou com um sorriso, então a abraçou pela terceira vez.

Rufus ajudou Helena a subir na carruagem e ela não deixou de reparar em suas mãos macias.

― As suas mãos. ― Ela comentou. ― Estão curadas.

Rufus assentiu nervoso e pôs as mãos nos bolsos. O mesmo olhar submisso que Mora carregava. Não faltaram lágrimas e pedidos de desculpa por parte da desprovida quando Helena lhe deu uma caixa de bombons pela manhã.

Helena ajeitou o manto áspero e surrado que foi obrigada a vestir. Pelo cheiro não era lavado há meses. Do gramado, Charlotte escondeu um sorriso.

― Use o capuz. ― A ruiva a lembrou.

Argth. O capuz odioso cobria todo o penteado elaborado que Mora havia feito naquela manhã. Helena acenou. Não usaria aquilo de jeito nenhum.
Pouco antes da carruagem partir, viu Ivan gesticular de maneira incisiva com Althariel. Twyla também se envolveu na discussão, mas o diretor parecia irredutível, então se virou e caminhou de volta para a Academia com todos ao seu encalço.
Algo estava errado.

As suas preocupações foram postas de lado, quando olhou de relance o seu reflexo na janela e gritou. O rosto de um homem velho rechonchudo, imitou o seu gesto.

― O que é isso? ― Ela gritou.

― Capa-Disfarce para disfarces rápidos. ― Will fez propaganda.

Ela revirou os olhos esbugalhados sob aquele rosto horroroso e tirou o capuz.

― Não vou ser tratada como uma criança.

― Só coloca quando chegarmos a cidade. ― Will fechou os olhos e fingiu adormecer. ― É uma ordem.

Helena cruzou os braços e encostou a cabeça no vidro da janela e olhou a Academia ficar aos poucos para trás até desaparecer por completo numa curva.

A estrada era ladeada pela floresta densa e verde. Ela inspirou o ar gelado e deixou que o vento brincasse com os seus cabelos cacheados.

As Raças IrmãsWhere stories live. Discover now