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Charlotte saltou para o beco mais próximo e Thomas veio logo em seguida. Ela ignorou o fedor de lixo que emanava do beco estreito e úmido e se virou para Thomas.

― Você não deveria ter feito aquilo! ― Ela gritou.

― O que? Salvado a nossa pele. ― Thomas chutou o chão.

― Não, me tratado como uma incapaz! Aqueles caras, eles, arght, você viu o que eles fizeram.

― Se você quiser desafiar os Guardiões por mim tudo bem. Eu não posso ter uma prisão disciplinar no meu registro, está entendo? A minha família não é rica para limpar a minha barra não.

Charlotte ficou em silêncio e foi em direção à rua. O pânico se alastrou feito erva daninha e no meio da confusão ela não soube distinguir contra o que estava lutando. O peso das suas ações caiu sob os seus ombros. Todo esse tempo investigando os Profetas do Caos para no final estar errada. Thomas cruzou os braços e parou ao seu lado.

― Deveríamos procurar por Will e Helena.

― Não vamos encontrar ninguém nessa confusão. ― Ela disse, mal-humorada. ― Mas, quer saber? Faz o que você quiser.

― Charlotte... ― Thomas chamou, desconcertado.

A protetora recuou ante o olhar embasbacado do protetor em direito ao seu peito.

― Sério?

― Não é nada disso! ― Thomas se recuperou. ― O seu peito está brilhando. ― Ele disse, embaraçado.

Charlotte olhou para baixo e viu a luz dourada. Puxou a herança do qilin e uma luz dourada e fraca emanou da pedra tal como eram as suas escamas. A protetora tirou o colar e segurou a pedra âmbar em suas mãos. A luz fraca se tornou potente e emanou da pedra numa linha reta que fluía rua abaixo.

― Está mostrando o caminho. ― Disse para si mesma.

Charlotte e Thomas pararam em frente à entrada de uma fábrica abandonada. A luz do amuleto se apagou. A construção próxima ao píer era retangular e coberta de tapumes de madeira. Thomas arrebentou alguns para os dois pudessem entrar.

O cheiro de podridão os atingiu e Charlotte se agachou e vomitou violentamente. Thomas engoliu em seco, enjoado.

― Você está bem? ― Ele perguntou.

A protetora negou com a cabeça, contudo, forçou-se a guardar na memória cada detalhe daquela cena. Cada centímetro de sua vergonha e falha miserável.

O interior da fábrica era completamente vermelho. Não porque as paredes eram pintadas dessa forma, na verdade, elas não possuíam nenhum revestimento além de uma mão leve de cal. O vermelho vivo e gosmento era do sangue nas paredes e no chão. Um filete se estendia quase até as suas botas através dos sulcos do piso de madeira.

Todos eles, homens, mulheres e crianças, vestiam pesados mantos vermelhos. O símbolo da cabeça cortada pela auréola estava em todo o lugar. Charlotte limpou o suor da testa e cerrou os punhos. Uma única lágrima escorreu do seu rosto rubro.

― Se você contar sobre isso, eu juro que mato você. ― Ela disse para Thomas, referindo-se à lágrima. ― Todos esses meses seguindo pitas, arriscando a minha posição, para no final estar terrivelmente errada? ― Ela se questionou.

― Mas você não está errada. Pense com clareza, Charlotte. ― Thomas falou de repente. ― O centauro no telhado era o mesmo que invadiu a festa das fadas com Éfero e as suas armas...

― As mesmas armas dos guardas dos Profetas do Caos. ― Ela se lembrou ― Mas faltava um detalhe, a insígnia, da mesma forma que a adaga contrabandeada.

― Aposto que serão as mesmas armas que encontrarão com cada elfo, fada, duende ou anão dessa cidade. ― Thomas ponderou.

― Mas Éfero...

― Servia ao príncipe, não servia?

― Assim como os Profetas do Caos. ― Ela completou. ― Thomas, olha só para eles. ― Charlotte reparou.

Os cabelos quebradiços e emaranhados, os dentes podres ou faltando, a pele manchada pela vida difícil. As marcas da fome naqueles rostos que eram só ossos e pele macilenta. Então, ela se deu conta.

― São os pedintes. ― Falou. ― As pessoas que os verdadeiros Profetas do Caos faziam caridade. Malditos! E para que? ― Ela se rebelou.

― Eles se fizeram ser ouvidos. ― Thomas examinou. ― Você pode matar facilmente uma criatura, mas uma ideia é como uma erva daninha na mente. ― Charlotte assentiu, perplexa e assustada. ― Eles foram capazes de assassinar pessoas desesperadas e culpar as outras raças só para provar que estavam certos.

― Precisamos ir. ― Ela disse, friamente.

― E quanto aos corpos? ― Thomas retrucou. ― Temos de chamar os Guardiões.

― Você ainda não entendeu, Thomas? Isso é problema! Somos aprendizes, eles, o Príncipe, seja lá quem for o real responsável por isso quer uma desculpa para tomar o poder. E sabe como eles começam? Controlando a educação! Não vamos facilitar para eles. ― Ela discursou.

Thomas deu uma última olhadela naqueles corpos esquálidos e miseráveis. Não era um protetor religioso, mas desejou que as almas daquelas pobres pessoas fossem em paz. Se é que isso era possível. 

As Raças IrmãsWhere stories live. Discover now