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Mil

Parece que sair de noite pra colocar o lixo pra fora sem blusa deixa você resfriado.
Eu não sabia, sério.
Porque se eu soubesse que estaria assim, morrendo de dor em todo o meu corpo, sentindo um cansaço inexplicável só de levantar pra beber um copo de água e ficar com meu nariz parecendo uma fonte de ranho, eu não teria feito isso.
Estava jogada no sofá, com o cabelo que tava um ninho que só, a coberta em cima de mim, pantufas, meias quentinhas, um pijama velho e desbotado, uma caixinha de lenços do lado (e não era porque assistia a um filme, ou haviam terminado comigo), porque a cada 5 minutos eu tinha que soar meu nariz se não eu morria numa tsunami de ranho.
Minha mãe apareceu há umas 2 horas, fez um chá e disse que havia localizado a vovó.
Ela chamou a mesma pra vir aqui, porque mamãe iria viajar por um mês.
Pelo menos ela me avisou.
Eu já tava acostumada com essas coisas.
Mas acho que vovó tinha que ficar quietinha na casa dela, não queria dar trabalho e sim, ajudar.
Então eu liguei pra mesma e disse para não vir.
Ela insistiu umas duas vezes, mas depois concordou comigo e combinamos que amanhã eu levava minhas coisas e ficava lá por alguns dias.
Até que eu melhorasse ou até que mamãe voltasse.
Até que foi legal não ir na escola, mas eu tava morrendo, sozinha.
Essas eram as horas em que eu mais sentia a falta da Nev.
Por mais ou por menos, Tony disse que viria mais tarde, então isso me alegrou.
E então, eu ouvi uma batida na porta.
Será que mamãe esqueceu alguma coisa?
Ou minha avó que resolvou vir, mesmo eu dizendo que não precisava?
Ou será que Tony resolvou vir pra cá mais cedo?
Me arrastei até a porta, com o cobertor e todo o ranho que agora compunha a maior parte do meu nariz.
Nenhuma das três opções.
  - Stan?
  - Mil - Ele se assustou um pouco ao me ver - Você tá bem?
  - Do sim - Soou errado devido meu nariz estar trancado.
  - "Da" é? - Riu - Entra aí, não fique na friagem! - Me empurrou pra dentro da minha própria casa e entrou, fechando a porta.
  - Como conseguiu meu endereço?
  - Fontes secretas - Riu e me olhou - Ew. Você tá um caco.
  - Eu do doende.
  - Doende? - Riu - Mas pode ficar calma! Seu médico chegou baby - Disse e eu comecei a rir, mas depois tossi - Eita, calma, não morre.
  - Obrigado por vir - Sorri de lado, sincera -  Eu até te abraçaria agora, mas não quero passar isso pra você.
  - Eca! Abraços? Eca! - Ele abriu os braços - Vem cá.
Me aproximei dele e abracei o mesmo, que ficou dando tapinhas na minha costa.
Nos separamos.
  - Senta aí, desculpa a bagunça, eu não to muito bem...
  - Imagine. Tá sozinha aqui?
  - Sim, minha mãe viajou...
  - E sua avó?
  - Na casa dela...
  - Que doideira! Vai ficar aqui sozinha?
   - Vou - Sorri - Quer chá?
   - Não confio você na cozinha.
  - Não esquenta, minha mãe quem fez - Ri e fui pra cozinha lentamente.
Stan correu.
  - Eu pego - Ele disse e eu apontei pra onde estava e ele pegou.
Nos sentamos no sofá e nos cobrimos, bebericando o chá.
Liguei a TV.
  - Ei, posso te perguntar uma coisa? - Não resisti a curiosidade.
Stan concordou com a cabeça.
  - É verdade que você e o Troy estão saindo?
Gabe se engasgou com o chá e eu dei tapas na sua costa.
  - Não, não... É coisa da Nat, sabe como é... - Ele parecia nervoso.
Eu ri.
  - É! Uma vez ela inventou que minha irmã foi pro exterior porque tava grávida! Tipo, que nada a ver! - Ri.
  - Sua irmã? Exterior?
  - Pensei que soubesse  - Ri - Achei que você era amigo do Tony.
  - Também achei.
Peguei o meu celular e procurei uma foto minha e da minha irmã. Mostrei pra ele.
Stan franziu o cenho.
  - Por que tem duas de você?
Eu ri e tossi.
  - Essa é a Névilie, minha irmã gêmea.
  - Espera... Você tem uma irmã gêmea que está no exterior? - Ele segurou meu celular, analisando a foto - Porém eu sei quem é você.
Ri.
  - Por incrível que pareça, é fácil saber quem sou eu quem sou ela. Név foi pro Canadá terminar o ensino médio.
  - Ela vai terminar o terceiro lá?
  - Aqui. 12 meses. Acho que ela volta em Agosto, ou ano que vem, sei lá, não sou boa com contas.
  - Legal, mas... - Ele devolveu meu celular - O que o Tony tem a ver com ela? 
  - Pensei que soubesse! Bem, ele era/é apaixonado pela minha irmã. TIPO, MUITO! Só que ela nunca deu bola pra ele, sabe, ela não quer nada a sério, e é bem popular.
  - O que?
  - Pois é...
  - Achei que ele gostava de você...
Suspirei.
  - Ele sempre diz isso. Mas... Isso só começou quando a Név partiu, então... Acho que tem data pra acabar... É uma questão de tempo, eu lembro ela, somos gêmeas - Rimos - Eu sou o que ele tem mais próximo dela. Acho que fez sentindo...
  - Fez sim - Rimos... Ele olhou pra xícara e brincou com elas em sua mão, quase derrubando o chá - Você... Gosta dele?
Suspirei novamente.
  - Já gostei, mas... Aprendi que ele só tem olhos pra irmã. E... Eu tenho quero alguém que goste de mim pelo que eu sou, e não pelo que ele criou de mim só porque minha irmã gêmea que ele era a fim de mudou.
Nos encaramos e Stan piscou.
  - Você está certa.
Sorri pequeno, sem mostrar os dentes.
  - E você? Teu coração pertence a Stroy Sulivan?
Ele riu e terminou o chá. Rápido ele, eu ainda estava na metade.
  - Pertenceu a uma garota, há um tempo atrás. Eu pensei que realmente daria certo, eu até pensei em levá-la para o altar...
Sorri.
  - Isso é bem fofo...
  - Pois é... Só que não rolou...
  - É uma pena.
  - É sim - Ele confessou e se perdeu em seus pensamentos.
  - E não há mais ninguém?
Ele olhou para um ponto fixo, e demorou mais que o esperado pra responder.
  - Por enquanto não.
  - Então somos dois - Nos olhamos e sorrimos.
  - Somos dois.
O olhar intenso demais e por medo, eu o cortei.
Por que ele dizer que não havia ninguém doeu em mim?
Eu esperava que ele dissesse...
Alguma coisa. Alguém, pelo menos.
Fiquei desapontada e me senti mal por sua presença.
  - Mil... - Me puxou, fazendo deitar a cabeça no seu colo e esticar a cabeça no sofá - Há alguns meses você disse que queria conversar...
  - Sim...
  - Vamos fazer isso. Me pergunte algo que queira saber sobre mim.
  - Okay - Disse, animada - Mas... Por que isso de repente?
  - Agora que somos amigos, quero que você me conheça melhor.
Sorri de orelha a orelha e isso fez meu coração disparar.
  - Primeiramente... Seu amigo tá mesmo a fim da minha amiga?

O Garoto do Ônibus Where stories live. Discover now