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Mil

Olhei-o, as lembranças um tanto tristes voltando.
  - Ele só gosta de mim porque ela não está aqui. Mas sabe... Não tem mais problema... Quando ela voltar, ele voltará a correr atrás dela. A Nev nunca gostou dele, mas... Você sabe...
Ele sorriu, e eu sabia que era por pena.
  - Sabe, Stan... Você não pode chegar me julgando só por fotos da minha irmã gêmea.
  - Desculpa, eu fui um idiota. Mas só saber, assim, você não gosta mais dele?
  - Não - Ri.
  - E quando pretende contar isso?
Suspirei.
  - Se eu fizer isso agora, será muito insensível né? Então vou esperar um pouco... - Desviei o olhar pra parede, vendo uma foto da minha irmã com o Tony.
Suspirei, como que eu vou dar o fora em alguém?
Isso é bem errado de se pensar.
Agora eu estou me sentindo mal.
  - Eu vou te esperar...
Estou me sentindo muito errada agora.
Espera... O Stan falou alguma coisa?
Olhei para o mesmo, que me olhava atentamente, como se esperasse uma resposta.
  - O que você disse?
  - Você ouviu, não ouviu? - Ele tentava esconder um certo desespero, sem sucesso.
  - Não ouvi.
Stan desviou os olhos de mim, um tanto frustado e perdido, e ele nunca desviava os olhos.
  - Pode repetir?
  - Eu disse que já vou indo. Está tarde e minha mãe deve estar preocupada...
  - Mas... - Franzi a testa - Você disse que ela não liga de você sair e...
  - Eu preciso ir - Ele me cortou, passando de pressa por mim e indo até a porta.
Segui-o, um tanto correndo pelas escadas até a sala da casa da minha avó.
  - Já vai querido? - Ela perguntou, se colocando de pé e nos acompanhando até a porta.
  - Sim, está tarde...
  - Você pode ficar, se quiser - Minha avó disse.
Eu e Stan arregalamos os olhos.
  - N...não é q...que... Minha m...mãe... - Eu nunca o vi gaguejar tanto.
  - É s...só um convite, n...não precisa... - Fechei os olhos. Droga. Nem falar direito eu consigo. Abri os olhos.
  - Eu mando mensagem - Stan disse, olhando por uma fração de segundos pra mim e sorrindo de um jeito nervoso - Tchau vó, tchau Mil - E saiu praticamente correndo.
Ao ouvir o barulho da porta sendo fechada pela minha avó, eu soltei todo o ar que nem percebi que estava segurando.
Saí num pulo, correndo pras escadas.
  - Onde vai querida? - Vovó questionava. Mas algo em seu olhar mostrava que sabia bem mais do demonstrava saber.
  - Preciso pensar - Respondi, afobada e corri pro meu quarto, ou melhor, pro meu quarto e da Nev.

***

Bati na porta do casarão que o Tony morava.
Por mais que eu viesse aqui várias vezes, eu nunca me acostumaria com aquela casa. Era enorme.
Enorme e solitária.
Ele atendeu com um sorriso, mas sem mostrar os dentes.
  - Hey Miiiiil!
Sorri.
  - Você parece bem animado.
  - Claro, você está aqui - Meu sorriso aumentou e ele passou pro lado para que eu pudesse entrar - Hoje a noite é só nossa.
  - Ah é?
  - Sim, como sempre, meus pais não estão.
  - Bom, hoje você tem minha companhia - Disse, tirando meu moletom e jogando em qualquer lugar. Tony me olhou - Que foi? Eu já sou de casa - Brinquei.
  - Claro que é.
  - E então? Que filme vamos assistir?
  - Hm... Estava pensando numa comédia...
  - Comédia romântica - Eu completei.
  - Perfeito. Preciso de um pouco de comédia na minha vida - Ele suspirou.
  - Tony... - Eu disse, meu coração ficava em pedaços vendo meu possível melhor amigo triste.
  - Não me olhe assim... Eu só quero um abraço.
  - Isso você não precisa pedir.
  - Mas se eu não pedisse agora, você daria? - Ergueu uma sobrancelha e me encarou.
Rimos e eu abracei o mesmo bem apertado, tentando passar, com sinceridade, tranquilidade, carinho e companhia.
  - Você não está sozinho, sou sua amiga.
  - Todos os dias você prova que eu não estou sozinho, Émili - Sorrimos um para o outro - Agora vamos parar de melação e assistir logo esse filme?
  - O filme de comédia romântica? - Começamos a rir e ele deu play no filme.

***

O filme terminou e eu sorri, satisfeita com o desfecho. Do jeitinho que eu gostava: do óbvio. O casal ficou junto no final e tudo mais.
O Tony estava deitado no sofá, a cabeça no meu colo. E eu o enchia de cafuné.
  - Ah, não foi tão ruim o filme assim né? - Ri - Eu sei que você gostou.
Não houve resposta.
  - Que foi Tony? O gato comeu a sua língua? - Comecei a rir - Nossa, eu pareço a vovó falando.
Parei de fazer cafuné nele e me inclinei para vê-lo.
Estava dormindo de um jeito muito fofo. Parecia em paz.
Sorri, boba.
  - Parece que o meu colo não é tão ruim assim - Sorri, fazendo carinho em sua bochecha e saindo com cuidado do sofá, colocando a cabeça dele delicadamente no mesmo para não acordá-lo.
Peguei minha bolsa e meu moletom, olhando uma última vez o Tony.
  - Espera aí... - Corri pro quarto que eu sabia que era dele e fucei o guarda-roupa, procurando uma coberta.
Voltei pra sala e cobri o mesmo.
  - Agora sim - Disse baixinho e sorri, indo até a porta e dando de cara com os pais do Tony.
Pode-se dizer que eu queria me enfiar no buraco e não sair mais de lá, que vergonha!
  - Oi - Eu disse, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
  - Olá querida! - Ela me abraçou e depois sorriu. Não sei como, mas os pais do Tony gostavam muito de mim. A mãe dele então...
Ri baixinho.
Ela me tratava quase como uma filha, o que era meio esquisito já que ela não gostava da minha irmã.
Dá pra entender? - Que bom que você está aqui com o Tonyzinho... - Se o Tony tivesse acordado, ele a mataria pelo apelido. Sorri, mostrando os dentes e as covinhas - Eu fico preocupada com ele aqui, sozinho. Ele não dorme há dias. Obrigada por fazê-lo dormir.
Tenho certeza que corei.
  - Que isso... Amigos são pras horas boas e pras horas ruins - Sorri - Estou aqui sempre que vocês precisarem.
  - É muito bom ouvir isso, Mil - Ela parecia nem se importar de ser pega nos espionando. O pai do Tony estava na cozinha, provavelmente morrendo de fome - Ah, minha avó mandou torta.
Os olhos dela brilharam.
Ri.
  - Sério? Que maravilha! A torta da sua avó é a melhor! Agradeça a ela por nós.
  - Sim, claro. Agradeço. Bem, já vou indo...
  - É tarde, por que não fica? Nós arrumamos o quarto de hóspedes pra você.
Comecei a rir, me lembrando do episódio do dia anterior, quando minha avó convidou o Stan pra dormir em casa.
  - Eu disse algo de errado?
  - Não, não - Respondi, me forçando a parar - Desculpa, eu me lembrei de algo engraçado.
  - Ah, sim - Ela sorriu - Se você quiser também, eu peço pro motorista de levar pra casa. Não é seguro uma menina tão linda sair essas horas na rua.
  - Muito obrigada, mas minha mãe vai ficar preocupada se eu não voltar...
  - Sua mãe não está viajando?
Eu queria muito rir, agora eu entendia o lado do Stan.
  - Sim, ela...
  - Então fique... Só está noite. Fique e jante conosco. Pela manhã você vai embora. O Tony disse que você conseguiu outro emprego.
  - Sim, eu consegui numa peça da Sunshine.
  - Sunshine? É uma ótima escola. Isso não me surpreende, você é muito talentosa.
  - A senhora está fazendo eu me achar - Eu disse, sincera e ela riu.
  - Só digo a verdade. Sabe que eu sou uma mulher bem direta.
Sorri.
É, eu sabia muito bem.
Ela era radiante, sempre elegante, com as melhores roupas, as melhores fragrâncias, os melhores sapatos e era simpática. Pelo menos, comigo.
Era uma mulher incrível, que cuidava dos seus negócios, e estava sempre ao lado do marido.
Ela já foi modelo, agora cuidava de uma agência de modelos.
Então, um elogio vindo dela era sim, bem relevante.
E bem, uma de suas características, era a persuasão. Ela sabia persuadir e convencer as pessoas.
Então, o possibilidade de eu passar a noite em sua casa, não era bem um convite e sim, uma ordem.
E eu não ousava desobedecê-la.

O Garoto do Ônibus Where stories live. Discover now