~ 13 ~

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Você nunca percebe o quanto uma pessoa é amada, querida e faz falta antes dela simplesmente morrer.
Isso é meio indelicado, mas eu nunca parei pra pensar num mundo sem irmãzinha do Tony.
Eles sempre foram muito próximos, acho que ela era quem mais dava atenção pro Tony na casa dele.
O pai trabalha muito e a mãe sempre corria pra lá e pra cá com as coisas dela (digamos que a Sra. Cravo é vaidosa, nada menos esperado de uma mulher de classe e de poder).
Não consigo imaginar o quão está doendo perder sua irmã mais nova.
Eu, vovó, Stay, Spencer, Tôfyla e Pietro (os pais deles) e por incrível que parece, Stanlin.
Diferente dos filmes, não estávamos de preto e não estava chovendo, mas isso não diminuía o clima ruim e pesado.
Faziam alguns meses que a família Cravo descobriu que Cindy estava muito doente.
E desde então, ela piorou.
Aí ela melhorou esse mês, e Tony voltou a me dar a atenção excessiva que sempre dava.
Não que eu não goste do carinho dele, mas eu entendi totalmente quando ele meio que se afastou.
Poxa, é a irmã dele!
Claro que eu entendo!
Não quero nem pensar se algo acontecesse com minha vovó ou minha mãe! Já perdi meu pai, não quero perdê-las tão cedo.
Não quero lembrar desse dia.
Não quero me lembrar do meu melhor amigo chorando.
Após o final da cerimônia fúnebre, vovó convidou Stan, Stay, Spencer e os pais deles pra casa dela, tomar um cafézinho.
Tôfyla recusou educadamente com um sorriso cansado.
Me despedi dos irmãos e eles foram embora.
Stan aceitou o convite da minha avó, e eu estranhei.
Até me preocuparia com isso, se não visse Tony, de costas, conversando com alguém.
Eu precisava ir até lá.
Não por obrigação, mas por carinho.
Eu simplesmente precisava ir lá.
Depois eu perguntaria a Gabe o que ele pretendia aprontar.
  - Já volto... - Disse e vi vovó e Gabe sorrir de leve. Senti o olhar deles queimando minhas costas, enquanto me aproximava lentamente de Tony.
  - Antônyo - Disse baixinho depois que a pessoa se afastou dele. Ele se virou, me olhando.
  - Émili... - Sorriu de uma forma triste e deixou as lágrimas caírem.
Sem pensar duas vezes, abracei-o bem forte. Uma das mãos afagando seu cabelo com certo desespero.
Ouvi seu choro e comecei a chorar junto.
  - Eu... Eu não sei o que dizer...
  - Não tem... Não tem o que dizer... - Falou entre o choro alto, me abraçando de volta - Só fica comigo. Por favor.
  - Eu vou ficar. Você sabe que eu nunca vou embora.
Nos separamos e eu limpei suas lágrimas com os dedos delicadamente.
  - Você ligou pra sua mãe? - Suspirou, tentando se recompor.
  - Sim, liguei... - Disse, secando o canto dos meus olhos - Ela disse que não vem. Mas mandou dizer que sente muito, que sua irmã era uma ótima garotinha.
  - E sua irmã?
Dessa vez fui eu quem suspirei.
  - Mandou dizer que te ama.
Ele riu baixinho.
  - Me fala a verdade.
Não respondi e ele deu um soquinho no meu ombro.
  - Mas essa é a verdade!
  - É errado mentir pra mim hoje...
Rimos baixinho e ele olhou pro Gabe, que conversava com minha avó - Ela gostou dele.
Segui o olhar do mesmo.
  - É... - Sorri, sem pensar. Eles pareciam estar numa boa conversa.
Tony se inclinou pra perto de mim.
  - Espero que ela não me esqueça.
  - Que isso. Ela te adora.
  - Ah é?
  - E também, você tem a reputação de encantar as mulheres da minha família, então...
Rimos.
  - Então eu te encanto?
Sorri de lado.
  - Você é um garoto incrível.
  - Que mais?
  - Cheiroso, maravilhoso... - Sorri e me aproximei, ficando na ponta dos pés para beijar seu rosto - Te amo, parceiro.
  - Te amo, parceira - Disse e não sorriu. Não posso culpá-lo por isso - Ah, sua mãe tinha razão. Minha irmã era mesmo incrível.
  - Era sim. Tchau, Tony.
  - Tchau, Mil.
Olhei ele uma última vez, antes de me virar e andar em direção da vovó e do Stan que pareciam animados demais para um pós-enterro.
É hora de investigar.

O Garoto do Ônibus Where stories live. Discover now