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No Domingo, Troy entrou no café e se sentou na minha frente.

Nós precisávamos ter uma conversa.

- Oi - Eu disse com cuidado.

- E aí bro - Ele não parecia tão irritado comigo quanto eu pensei que estaria.

- Você me chamou aqui - Fui direto ao ponto – É por causa da Émili, não é?

- É – Ele suspirou – É por causa dela sim.

- Você sabe... O que aconteceu na festa, não sabe? – Perguntei, um tanto com medo do julgamento dele sobre a minha atitude. Parece que era minha culpa a Mil ter surtado na festa. Eu não entendi muito bem o que aconteceu, mas eu sabia que não estava tudo bem. E sabia que a culpa era minha.

- Sei... – Troy começou, com cuidado – Émili contou pra Stay, e ela me contou – Dessa vez foi eu quem suspirei – Olha, eu sei que você gosta dela e tudo mais, mas ser bipolar não conquista ninguém!

- Eu não sou bipolar – Revirei os olhos.

- É sim! Você teve uma crise de ciúmes e ignorou ela por vários dias, aí na festa você, do nada, resolve beijá-la?

- Okay, talvez eu seja um pouco bipolar...

- Um pouco? – Troy riu ironicamente.

- Mesmo depois das minhas atitudes confusas, o máximo que uma pessoa normal faria era brigar comigo, mas ela... Surtou e desmaiou... – Franzi o cenho – Eu não sou o culpado pela esquisitice dela – Disse, e no fundo eu sabia que só disse isso pala livrar minha culpa e aliviar minha consciência.

Troy ficou boquiaberto.

- Você está se escutando? – Ele fez uma expressão como se não estivesse acreditando não que ouviu – Não deveria julgar sem saber.

Aquilo foi como um tapa na cara.

- Então me diga o que veio dizer – Mantive-me firme, o orgulho era tudo que eu tinha nessa situação.

- Você poderia agir assim com qualquer outra pessoa, Gabriel. Mas não com a Émili.

- Por que ela é tão especial? Não vai me dizer que você também está a fim dela, porque se for isso... – Revirei os olhos – Ela tem o que? Doce?

- Isso se chama amizade. Você mesmo sabe que eu gosto da Stace, ou seu ciúme o cega tanto a ponto de achar o contrário?

Nos encaramos, faíscas saíam dos seus olhos verdes.

- Ano passado a Émili teve depressão – Ele disse rapidamente. Demorei para processar as palavras dele, fiquei sem palavras. Troy continuou – Há uns 2 anos e meio o pai dela morreu. A mãe dela não processou muito bem, eles se amavam muito sabe... Então ela começou a sair para festas, bebia, sumia por dias... Ninguém sabia onde ela estava, e depois ela voltava.

- Ah... – Só consegui formular isso, nada mais parecia sair. Era como se minha voz estivesse presa no fundo da minha garganta e as palavras sumissem da minha mente. Eu queria desesperadamente dizer e fazer algo, reagir, mas não conseguia. Paralisei.

- A Névilie sempre foi a favorita da mãe dela, mas Émili era a favorita do pai. A morte dele realmente mexeu com todos. Só que a bomba estourou mesmo quando a mãe dela sumiu por 6 meses e as gêmeas tiveram que ficar com a avó durante esse tempo. A irmã mais velha da mãe delas, acho que o nome é Sônia, ela mora no Canadá. É modelo, essas coisas. A mãe do Tony deve conhecê-la, já que foi ela que ajudou na carreira da mesma.

- É... – Eu me sentia um bobão, minhas pernas estavam quebradas e eu tremia de leve. A culpa só aumentou, do jeito que eu tratei a menina que provavelmente eu gosto, tratei-a mal, sem saber no que isso poderia acarretar. Eu sou um lixo. Um otário. [Insira aqui seus próprios adjetivos].

- Então, nessa época, o Tony era completamente apaixonado pela Névilie, e irmã gêmea da Émili.

- Ela me contou...

- Só que a Émili gostava dele. Ele não dava bola, porque estava sempre correndo atrás da Név. Eu sei porque sou amigo dele. Conheci ela. A Mil só tinha a avó, a irmã e a Stay. Claro que todos nós saímos juntos uma vez, mas Stace não pode ir, se não eu teria lembrado – Sorriu de leve, mas eu não pude sorrir. Eram revelações demais – Név conseguiu uma bolsa lá no Canadá e foi morar com a tia. Isso complicou as coisas pro lado da Mil. Não foi só o Tony que ficou mal com a viagem da Névilie. Juntando tudo que aconteceu nesses últimos anos, eu até entendo a Mil explodir, sozinha.

- Eu não consigo imaginar como ela se sentiu...

- Ela ficou mal mesmo quando a avó foi internada.

- O que? A vovó foi internada? – Me inclinei na mesa, preocupado. A avó de Mil foi tão gentil comigo as vezes que fui lá, qualquer mal que pudesse acontecer com a senhora boazinha me dala calafrios.

Troy ficou surpreso com a minha preocupação.

- Sim, Gabe. Ela teve tuberculose. Eu não entendo essas paradas médicas, não sei se ela ainda tem. Ou se foi uma gripe forte que quase virou isso, não sei... Só sei que a vovó ficou mal. E a Mil ficou sozinha.

Meu coração apertou ao imaginar.

- Foi aí que ela e o Tony viraram amigos. Ele e a Stay ajudaram a Émili a superar tudo isso. Ela ficou na casa da Stay essas semanas.

- Semanas? Caramba... – Choraminguei e olhei pro Troy – Eu sou um lixo, não sou?

- Você não é um lixo. Você só... Não sabia de tudo isso. Sabe Gabe, você não precisa ser rude com as pessoas. Todos tem dificuldades. Tu deveria prestar mais atenção nas pessoas a sua volta.

- E a mãe dela?

- Ninguém sabia onde ela estava.

- Que irresponsável! – Me senti irritado. Como uma mãe pode largar uma filha sozinha, nessa situação? Ainda mais a Mil ser menor de idade.

- Nós não sabemos o que se passa na cabeça dela desde que o marido morreu. Ninguém tem culpa, Gabriel. É uma situação delicada. Não é hora de julgar e sim, procurar ajudar. Só sei disso tudo por causa do Tony e da Stay. Quando eu conheci a Émili de verdade, descobri o quão incrível ela é, e o porquê das pessoas se apaixonarem por ela. Você também deve saber, já que né... – Olhou-me com cuidado e eu sabia o que ele diria. Eu o conhecia, era meu amigo – Por que não conta logo pra ela tudo que sente?

- Nem a pau – Troy riu – É sério. Pelo menos por agora não.

- Gabriel sempre preferindo a opção difícil.

- Claro. Acha que eu devo falar com ela?

- Tenho certeza. Só... Tome cuidado agora que sabe de tudo.

- Espero que aquele imbecil do Tony não atrapalhe.

Troy deu de ombros.

- Ele é meu amigo, assim como você. Mas tem um porém...

Encarei-o.

- Qual?

- Stace fará de tudo para que você não chegue perto da Émili. Ela está furiosa com você agora.

- Não tem problema – Disse, decidido – Estou disposto a qualquer coisa para concertar o que fiz.

E eu estava.

Estava disposto a qualquer coisa pela Émili.

O Garoto do Ônibus Where stories live. Discover now