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Mil

Eu havia acabado de contar tudo que havia acontecido entre mim e Gabe, inclusive meus sentimentos para Stay, que começou a rir feito uma doida.
  - Stay! - Repreendi - Eu acabei de contar tudo o que eu sinto e você achou graça?
  - Eu to rindo mesmo! Rindo da sua lerdeza, Émili!
  - Aish, não precisa jogar na cara...
  - É sério! Você não vê?
  - Ver o que?
Stace vou a rir da minha cara.
  - Fala Stace!! - Gritei, agitando-a.
  - Gabriel está com ciúmes de você!
Parei de agitá-la e ergui uma sobrancelha.
  - O Q...que?
  - Claro! Pense comigo: Porque você acha que ele te desafiou a beijar alguém da roda?
  - Não entendi muito bem porque ele fez isso...
  - É porque ele queria que você beijasse ele, Émili! Acorda!
  - Será?
  - Não é "Será" é "com certeza"! Gente... Você não tava brincando quando disse que demorava pra entender as coisas...
  - Ô, vacilona... Mas... Também tinha o Tony na roda. E se o Tony pediu ajuda pro...
  - Não! Aquele garoto é meio a fim de você, sério... Eu percebi no jeito que ele te olha, Émili... Aquele dia na festa do Tony, como você caiu na água? Ele te empurrou?
  - Não, na verdade... - Parei de falar.
  - Na verdade? - Ela pediu que eu continuasse.
  - Ele tentou me beijar - Disse e ela bateu palmas, gritando:
  - EU SABIA! - Riu - Você tem que fazer alguma coisa!
  - Do que adianta? Ele tá bravo porque eu beijei seu irmão!
  - Vai lá e beija ele! - Stay disse, mexendo as mãos como se tivesse um plano.
  - Nem pensar!
  - Tem ideia melhor?
  - Deisstir e gostar de quem gosta de mim. Não de quem me humilha e fica bravo por qualquer coisa.
Stay sorriu.
  - Essa também é uma boa opção, mas... Émili... Acha que gosta pouco dele a ponto de esquecer?
  - Acho sim. É só uma fase.
Sorrimos uma para a outra, e ambas sabíamos que não era só uma fase.

***

Suspirei e entrei no ônibus, após pagar o motorista.
Não olhei pro Gabe.
Mordi os lábios e passei reto do banco que sentei nos últimos 3 meses, me sentando nos últimos.
Calma Mil, calma.
Você não vai passar mal.
Você não vai olhar pra ele.
Não vai.
Se ele quisesse, ele te dava um "oi", certo?
Nada certo.
Mordi mais forte meus lábios, tentando ignorar a vontade que eu estava de falar com ele.
E então... Meu celular tocou.
Um toque animado, ecoando por todo o ônibus.
  - A...alô? - Atendi, envergonhada.
  - Alô, você é a Émili que mandou currículo pra trabalhar no figurino da escola Sunshine?
Engasguei.
  - S...sim, sou eu.
  - Nós queríamos ter a oportunidade de uma entrevista com você.
Fiquei boquiaberta.
  - Claro... Claro - Ri um pouco, sem graça - Quando seria?
  - Teria que ser agora.
  - A...agora?
  - Me perdoe a pressa, mas é que temos muitos candidatos e pouco tempo. Teremos uma peça em 3 meses, e realmete precisamos de assistência nos figurinos.
Segurei meu grito.
Se eu conseguisse o estágio eu ia ajudar a fazer o figurino de uma peça da escola???
AAAAAAAAAAAA, alguém me acorda desse sonho!
Não tive que pensar muito pra resolver que perder mais um dia de aula não iria interferir tanto no meu futuro assim, não é?
Que eu não me arrependa.
  - Claro. Pode ser.
  - Consigo te ver em 30 min?
Caramba.
Eu to muito longe da escola.
  - Sim, consegue sim. Muito obrigada pela oportunidade.
  - Nós que agradecemos. Até daqui a pouco, Émili.
  - Tchau - Desliguei e suprimi outro grito de empolgação.
Agora eu tenho que correr.
Juntei minhas coisas de um jeito desastroso, mas rápido, e corri pra frente do ônibus.
  - Já vai descer Émili?
  - Entrevista de emprego daqui meia hora! Por favor, pare esse veículo!
Ele riu.
  - Sua sorte é que estamos chegando no ponto - Ele parou - Boa sorte, Émili.
  - Obrigada - Pisquei pra ele e desci correndo pela rua.
Ok, plano de última hora:
Correr até a escola Sunshine em menos de 30 minutos, chegando com tempo o suficiente para recuperar o fôlego e entrar plena naquela sala pra conquistar quem quer que seja com minha doçura e talento.
LUTANDO, ÉMILI!
1,2,3...
Comecei a correr pela avenida movimentada. O sinal estava quase ficando verde, mas eu passei rapidamente pela rua, desviando de uma moto e ganhando vários xingamentos e buzinas.
É pelo meu futuro!
Eu tinha que atravessar mais uma rua, e aí estaria na rua da Sunshine.
Parei na borda da calçada, arfando e olhei no meu celular o horário.
10 minutos.
Ai, ai, aiiii!
Eu vou morrer.
Vamos lá, é só uma rua.
Sinal verde.
Tem muito carro.
Suspirei e tomei coragem.
Pisei com um pé na rua e antes que pisasse com o outro, senti um puxão pela cintura.
Tombei pra trás e caí, quando alguém me segurou, tipo aquelas cenas de filme.
  - Nem pense em fazer isso - Não acreditei quando ouvi aquela voz.
  - Gabriel?
  - Você é doida ou o que? - Disse e eu comecei a ficar brava. Quem ele pensa que é pra me seguir e me impedir de conseguir minha entrevista?
Me soltei dele e bati o pé no chão, como uma criança raivosa.
  - Não adianta birra, como não funciona!
  - Virou serial killer pra me seguir? - Retruquei.
  - Não vou deixar você atravessar essa rua sozinha! Do jeito que é  desmiolada, um carro passa por cima!
Revirei os olhos.
  - Obrigada pela preocupação, "pai" - Ironizei e fiz menção de ir pra rua, mas ele segurou minha mão, entrelaçando nosso dedos.
Senti pequenos choques e meu coração deu uma falhada.
  - Não vou deixar você atravessar sozinha.
  - Virou meu pai?
  - Eu poderia ser outra coisa.
Chegamos a outra calçada.
  - O que disse? - Perguntei, não acreditando no que eu ouvi. Encarei ele.
  - Nada...
  - Diz novamente.
  - Eu poderia ser mais - Disse em alto e bom tom.
  - Gabe? - Pedi uma explicação e vi ele se aproximar de mim. Olhei pra baixo, nervosa.
Meu coração batia rápido e alto. Será que ele podia ouvir? Porque o barulho era ensurdecedor - O q...que está fazendo?
Beijou minha testa e me abraçou.
  - Estou pedindo desculpas.
  - O que? Você, pedir desculpas?
  - Não sei viver sem sua amizade, de qualquer forma.
Nos separamos e eu queria abraça-lo de novo porque foi a melhor sensação que eu já senti.
  - Também não sei, Gabriel.
  - Ah, qual é? Cadê o "Stan"?
Ri baixinho, mas lembrei que o tempo tava passando.
  - Olha, sem querer ser chata, mas eu tenho uma entrevista na Sunshine em... - Olhei meu celular - 3 minutos!
  - Sunshine? 3 minutos? WOW! VAMOS! - Me puxou pela mão e corremos para lá.
  - 1 minuto - Ele disse e nós paramos.
  - Como eu estou? - Perguntei e sorri.
  - Hm, deixa eu ver... - Se aproximou e mexeu no meu cabelo - Hm, não, não... Sim, sim, agora sim!
Eu ri.
  - Cabeleireiro?
  - E você a estilista, não seria o par perfeito?
"É, seria", pensei.
  - Que nada. Você trabalha sozinho, se eu bem sei.
  - Eu abro uma exceção - Riu e colocou as duas mãos, uma em cada ombro meu - Tá linda.
Fiquei com a boca entreaberta, incapaz de emitir qualquer som.
Senti minhas pernas fraquejaram devido ao olhar que nós trocávamos um com o outro.
Ele me segurou, e sorriu.
Ah, aquele sorriso.
Acho que meu caso é mais grave do que pensei.
  - Opa, não cai agora - Riu - Eu seguro suas coisas. Vai - Me empurrou e eu, sem conseguir dizer nada, andei até a porta.
  - Émili! - Chamou e eu me virei - Boa sorte.
Sorri e entrei, era muito pra minha cabeça e meu coração: abraço, beijo na testa e entrevista?
Alguém me segura.
Entrei e respirei fundo.
  - Eu consigo. Sou Émili, meu sonho está na minha frente. Eu vou conseguir - Respirei fundo novamente e mexi os ombros, caminhando até a recepção.

O Garoto do Ônibus Onde as histórias ganham vida. Descobre agora