~ Epílogo ~

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~ Epílogo ~

  - E foi assim que eu e a mamãe ficamos juntos - Stanlin finalmente terminou sua história.
  - Resumindo: eles se conheceram no ônibus. Stan era bem chato e Mil uma doida. Demoraram, mas ficaram juntos. Se separaram, 5 anos depois, ficaram juntos - Ester disse de um jeito entediado.
  - Que isso, não estraga a história! - O mais velho disse.
Maria Dafine bateu palminhas.
  - De novo papai, de novo!
  - Não, Dafine, por favor, não! Ele conta essa história todo dia! Eu não aguento mais!
Stan mostrou a língua para a adolescente emburrada e sua filha riu, abrindo os braços.
Ele pegou-a no colo, sorrindo pra mesma.
  - Será que eu também vou conhecer o amor da minha vida no ônibus, pai?
Ester riu alto.
  - Olha só o que você colocou na cabeça da coitada!
  - Maria Dafine Clara Gabriel, o que conversamos sobre namorados antes dos 90 anos?
  - Blá, blá, só depois dos 90, já entendi - Pulou do colo do pai e foi para o sofá.
  - O que? Que menininha abusada! - O adulto fez drama - Sabe o que merece?
Dafine riu, já preparando-se pra correr.
  - Merece cócegas!
  - NÃAAAAAAAAAAAO! - Correu pela casa, sendo perseguida pelo pai, que a alcançou e a encheu de cócegas - P...para! P...p...para! - Soltava gargalhadas altas e gostosas, arrancando um sorrisão do pai babão.
  - Eu paro, mas com uma condição - Parou e olhou pra garotinha com uma expressão misteriosa.
  - Qual?
  - Vamos fazer cócegas na Ester.
Sorriram diabólicos um para o outro e andaram calmamente até a sala, como quem não quer nada.
A jovem mexia distraidamente no celular, digitando rápido, os olhos atentos na conversa.
Stanlin contou até três nos dedos com a filha e gritou:
  - JÁ!
Então os dois pularam no sofá em cima de Ester e a encheram de cócegas.
O celular foi parar no chão durante o processo, assim como o corpo da adolescente.
A dupla dinâmica não perdeu o tempo, partiram pra cima da pobre vítima, fazendo ainda mais cócegas.
Ela gritava e chorava de tanto rir, dizendo que os mataria quando se levantasse.
Seria uma guerra em tanto.
Em meio a tanta gritaria, risada e júrias bobas, a porta da sala se abriu, revelando uma Émili cansada.
Esta adentrou sua casa, parando assim que viu a cena: Os três no chão, berrando e rindo.
Negou com a cabeça, não sabia quem era mais criança.
Ficou para ali por um tempo, apenas refletindo e permitiu-se sorrir de lado.
  - MAMÃE! - Maria Dafine foi a primeira a perceber a presença dela, parando tudo que estava fazendo e correndo até sua mãe.
Mil, sem hesitar, pegou a pequena no colo.
  - COMO FOI SEU DIA?
  - Foi bom e o seu? - Sorriu para a pessoinha, admirando tamanha empolgação.
  - FOI MUITO LEGAL! EU E O PAPAI BRINCAMOS DE ESCONDE-ESCONDE, PEGA-PEGA, FIZEMOS ALMOÇO, BUSCAMOS A ESTER NA ESCOLA, IRRITAMOS A ESTER, PULAMOS CORDA!
  - Nossa, quanta coisa vocês fizeram - Disse, meio cansativa - Vocês não tem dó da Ester não?
  - Não, Émili. Definitivamente não - Ester se intrometeu na conversa.
Então Mil soltou sua filha no chão para dar um abraço na adolescente.
Soltou-a e suspirou, cansada.
Stanlin percebeu isso.
  - Escuta, por que vocês duas não fazem a janta? - Disse, apontando para Ester e Dafine.
A mais velha revirou os olhos, enquanto a mais nova pulou, animada com o fato de ajudar. Ambas dirigiram-se para a cozinha, deixando os adultos a sós.
Essa foi a deixa para Émili se jogar no sofá, totalmente exausta.
Stanlin sentou-se ao seu lado.
  - Foi corrido hoje, amor?
Mil murmurou.
  - Amor? - Stan repetiu.
  - Desculpe, estou muito cansada. Com uma dor de cabeça horrível e um pouco de ânsia.
  - Ânsia? Comeu algo que não lhe fez bem?
  - Na verdade eu não comi nada o dia inteiro.
  - É, você nem veio pro almoço. Sentimos sua falta.
  - Passei mal o dia inteiro, e fiquei correndo pra lá e pra cá. Tínhamos que terminar um vestido e... - Foi interrompida por um beijo.
Não daqueles, desesperados, mas daqueles que acalmam, bem delicados e carregados de carinho.
Afastou-se dele e sorri ladino, porém fraco porque sua cabeça latejava.
  - Amor, você sabe que hoje o pessoal vem jantar em casa né?
Mil arregalou os olhos.
  - Como pude esquecer? Eu...
  - Calma, calma... Vai tomar um banho quentinho, eu cuido disso... Sei que deve estar bem cansada.
  - Sério? Certeza que não precisa da minha ajuda?
  - Não preciso não.
  - Ok... - Correu pro banheiro, deixando um Stan confuso e pensativo para trás.
Suspirou e levantou-se.
Arrumou toda a bagunça rapidamente: Brinquedos espalhados pela casa, carregador, fone de ouvido, papéis, desenhos, livros, canetas, lápis de cor, todos os objetos que podia pegar e guardar.
Andou até a cozinha e mandou as crianças banharem e se arrumarrem, assumindo a cozinha para si.
Stanlin passava praticamente o dia inteiro em casa.
Dafine e Ester iam pra escola de manhã, então ele tomava o tempo livre para programar.
Trabalhava programando sites, aplicativos, nunca pensou que faria isso, mas até que se dava bem na área.
Ele estava satisfeito, gostava do que fazia, as vezes era estressante, mas o que nunca é estressante na vida?
Levando essa filosofia, ele sempre sorria ao ver suas filhas (considerava Ester como uma) chegarem da escola.
Aí ele parava tudo e passava a tarde com elas.
Até Émili chegar e aproveitar o resto do dia com eles.
Ultimamente ela estava bem aérea e estressada, sempre com dores aqui e ali, reclamando de enjoos, dores de cabeça e tontura.
Gabriel estava muito preocupado.
Sim, ele sabia que Émili amava o trabalho, sabia que ela sempre fora dedicada em tudo que fazia, até nas mais simples coisas.
Mas tinha medo que o trabalho abalasse o psicológico da esposa, às vezes ela passava o dia inteiro lá, mais as noites em claro, isso realmente o preocupava.
Tinha cuidado por ela.
  - Droga... O que eu coloco aqui mesmo? - Perguntou-se.
Eles sempre concordaram que a comida de Ester era a melhor dos três, sendo seguida pela dele e por último, a de Émili que era pior.
Ela sempre dizia que nasceu com outro talento nos dedos: O da moda. Passou longe da culinária.
Todos riam, mas era verdade.
A comida de Stan era em si boa, só que às vezes ele esquecia de um tempero ali, um alho aqui, um pouco a mais de água lá.
E ficava muito ruim.
Ouviu a campainha tocar e se desesperou.
Havia passado tanto tempo assim encarando a panela?
  - ESTER, ATENDE LÁ! - Berrou e desligou o fogo - Droga, eu disse pra Mil que cuidaria disso.
Pensou um pouco e largou a semi-comida lá, forçando o melhor dos sorrisos.
  - Quer ajuda aí, cunhado? - Ouviu a voz irônica de Névilie.
  - Quero, pode pegar o telefone e pegar para aquela pizzaria que vocês gostam.
  - Ué, pensei que fossem cozinhar - Tony entrou, segurando os dois nenês, um em cada braço.
  - Tiooooooooo! Tioooooooo! Vamos brincar? - Dafine apareceu na cozinha, puxando Antônio que passou uma de suas crias para sua mulher, seguindo a criança para a sala.
  - Então, é que o gás acabou... - Stan mentiu, coçando a cabeça.
  - E eu nasci ontem - Név disse.
  - Ele nasceu - Apontou pro bebê.
  - Tenho pena da minha irmã, deve aguentar essas piadinhas o dia inteiro.
  - Tenha pena de mim - Ester disse.
  - Coitada.
  - Ei, ei! Por que ainda não ligou pra pizzaria? Quero essa pizza na minha mesa pra ontem.
  - Que cunhado exigente - Név revirou os olhos e passou seu filho pra Ester, que o pegou com cuidado e começou a nina-lo.
Névilie saiu da cozinha para falar no celular.
  - O gás não acabou, né? - Ester questionou o óbvio.
  - Não - Stan respondeu - Mas ninguém precisa saber. Muito menos Émili.
  - Posso pensar no seu caso se me deixar faltar a escola amanhã...
Encararam-se.
  - Do jeito que eu ensinei - Stanlin disse e então a porta da cozinha foi escancarada, revelando alguém bastante escandalosa.
  - OOOOOOO - Spencer gritou, cumprimentando (e assustando) todos que ali estavam - Vejo Stanlin, mas não vejo Émili.
  - Para de ser escandaloso, tem um bebê aqui - Ester disse.
  - Sim, eu - Spen sorriu de modo fofo.
Gracy entrou no cômodo já revirando os olhos.
  - Spencer se toca, você tem 23 anos.
  - 22...
  - 23, você acha mesmo que eu não sei a sua idade?
  - Parece que tem 5 - A adolescente se intrometeu na possível dr.
  - A Émili está no banho - Gabriel disse, ignorando todo o resto da conversa - Cadê o Júlio e o Chani?
  - Eles disseram que já estavam chegando - Gracy, provavelmente a única responsável do grupo, respondeu.
  - Achei que já estivessem aqui - Spencer disse e depois se aproximou de Ester, fazendo caras e bobas pro neném.
  - Assim você vai assustar ele - Ela disse.
  - Se ele não se assustou com você, não se assusta com mais nada.
  - Será que dá pra você se controlar? - Gracy pediu - Obrigada.
  - E aí, como é estar noiva de uma criança? - Stanlin zombou, apontando uma colher pra ela como microfone.
  - Como é fingir que o gás acabou porque não sabe cozinhar? - Név voltou - Já pedi as pizzas. Porque só o Antônio como uns 8 pedaços.
  - Ei, ei, ei, eu não como 8 pedaços. Como 7 e meio - Ele se defendeu.
  - Grande diferença - Spencer ironizou.
  - Às vezes eu me pergunto se nós realmente somos adultos - Émili falou, brotando no meio deles.
  - ÉMILIIIIIIIII - Spencer berrou e abraçou.
Stan revirou os olhos.
  - Isso foi uma prova de que não, não somos adultos - Stace falou e se aproximou para abraçar amiga.
Logo os noivos, namorados, comprometidos e casados se ajuntaram, alguns no sofá, outros nas cadeiras, outros ainda não chão, mas todos na sala.
Chani e Júlio chegaram atrasados, Chani sempre meio bêbado, mas nada com que já não estivessem acostumados.
Colocaram o papo em dia, jogando babados na rodinha.
A pizza chegou, quase 40 minutos depois. Já estavam reclamando quando ouviram a buzina na moto.
Enquanto Chani queria causar com o entregador, Júlio o segurava, Stroy filmava e o resto só ria, Émili é Névilie andaram até o quarto, Mil trancando a porta atrás de si.
  - Trouxe o que eu pedi?
  - Claro - Név tirou algo de sua bolsa e deu pra irmã.
  - Mas... Você acha mesmo que pode ser isso? - Émili perguntou num tom de incerteza.
  - Olha... Foi isso que eu senti quando fiquei grávida dos gêmeos.
Deram de ombros.
Mesmo sendo tão diferentes, às vezes conseguiam ser tão parecidas.
Mesmo sendo tão idênticas, às vezes eram tão diferentes.
  - Eu vou fazer o teste...
  - Não entendo o seu nervosismo. Se der positivo, não será seu primeiro filho.
  - Eu sei, mas não tenho certeza se estamos preparados pra mais alguém. Não é que eu não queira. Mas eu passo quase o dia inteiro trabalhando, tá bom, o Stan fica aqui com as crianças e o vovô, só que... Ele também tem o direito de ter o tempo dele, e nós duas sabemos bem o que é crescer com uma mãe ausente. Não quero esse tipo de coisa pra Dafine, muito menos pra Ester que já ficou tanto tempo no orfanato.
  - Mil, você tá exagerando. Você é uma ótima mãe. Só de você me falar isso é uma prova. Você se importa com eles, e muito. Talvez mais do que com você mesma. E se der positivo, tá tudo bem. O Stanlin te ama, as meninas também. Assim como todos nós. E eu tenho certeza que nossa mãe vai adorar ter mais um neto. Você sempre será uma ótima mãe, não tenha dúvida disso.
Os olhos da outra gêmea marejaram.
  - Obrigada Név - Respirou fundo, tomando coragem e entrou no banheiro.

O Garoto do Ônibus Where stories live. Discover now