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Mil

O Tony saiu do palco do mesmo jeito que eu: Decepcionado.
Ele também pegou o papel de reserva, então, tecnicamente estávamos no mesmo barco.
Era minha deixa para falar com ele.
  - Já volto - Anunciei para os meus amigos e me levantei, andando pelas cadeiras do auditório da Sunshine até onde meu ex melhor amigo estava - Hey - Me sentei uma cadeira depois dele.
  - Émili - O mesmo disse de cabeça baixa - Pensei que nunca mais fosse falar comigo.
  - Desculpa - Me senti culpada - Esquece isso. Desculpas não servem pra nada.
  - Eu sei que você não gosta de mim, mas... Não precisava...
  - Tony... Não diga que eu não gosto de você... Somos melhores amigos...
Ele choramingou.
  - Você sabe que eu não quero ser seu melhor amigo... - Negou com a cabeça, ainda sem me olhar.
  - Isso não vai me afastar.
  - Você já se afastou, Mil - Ele finalmente ergueu a cabeça e pude encarar seus olhos - Mas tudo bem - Sorriu fraco - Prefiro ser só seu amigo do que não te ter na minha vida.
  - Tony...
  - Você não vai conseguir me afastar...  Não mais.
  - Você gosta da Névilie, Tony - Disse com cuidado - E eu... Não sou ela.
  - Você é completamente diferente dela, Émili. E... Eu gosto de você porque você é você... Mas... Eu errei com as duas...
  - Antônio...
  - Não me chame assim - Ele disse triste, como se já soubesse o que eu diria.
  - É difícil dizer isso... Mas acho injusto fugir da verdade e não dizer a verdade pra você...
  - Émili...
  - Somos amigos e eu tenho que ser sincera... Você esteve comigo nos piores tempos. É injusto não estar nos melhores! - Peguei as mãos dele - Por favor, me entenda...
Tony fez uma careta, fechando os olhos e concordando com a cabeça, como se minhas palavras o machucassem - Eu não posso tentar com você.
  - Por que? - Ele pediu para que eu conseguisse.
  - Porque eu gosto... - Respirei fundo. Era difícil admitir isso, ainda mais nessa situação. Ele estava a fileiras de mim, vai que ele escuta - Eu gosto do Stan.
Ufa. Saiu.
Toby abriu os olhos e amenizou sua expressão.
  - Eu sabia... - Ele concordava repetidas vezes com a cabeça. Vi Antônio suspirar e me olhar, apertando a minha mão - Tudo bem. Sendo assim... Acho que me resta desistir... Não por causa do Gabe, por respeito a você.
Sorri de lado e abri os braços.
  - Eu não quero que você saía da minha vida, desculpa se isso piora a situação, mas... Me dá um abraço? - Pedi.
Ele concordou com a cabeça de um jeito fofo e me abraçou.
Há um ano eu morreria por esse garoto.
Não que agora eu não faça de tudo para o proteger e o fazer feliz.
Mas posso dizer com certeza: Não sou mais completamente apaixonada por Antônio Cravo.
E isso era um alívio.
Ainda sinto que ele e minha irmã tem uma chance, então... Talvez eu mexa uns pauzinhos pra ajudar nisso.
Só que por ora, eu me focaria em conquistar o dono dos meus pensamentos.
Nos separamos.
  - Ainda somos amigos?
  - Sim - Ele bagunçou meus cabelos - Só preciso desse tempo pra superar e resolver umas coisinhas...
  - Nada mais justo - Respondi. Não gostava da ideia de magoar alguém que amo e considero pra caramba, mas... Se no final acabasse bem, eu lidaria com isso.
  - Mas não pense que eu vou desistir da peça - Ele abriu um sorriso lindo - Acho que você foi só uma desculpa pra minha vontade de atuar.
Rimos.
  - É assim que se fala!
Sorrimos um para o outro, e a sensação boa que me preenchia de resolver tudo isso era enorme.
Só me falta resolver as coisas com o Stan.
  - Émili! - Me virei e percebi que me chamavam da bancada.
  - Licença, Tony - Levantei e andei até eles. Engoli em seco. Afinal, bastava apenas uma reclamação deles sobre o meu trabalho e me demitiam. Óbvio que não queria isso. Sorri pra eles - Sim?
  - Não encontramos um príncipe.
  - Como? - Juro que não entendi.
  - Não encontramos alguém para o papel principal.
  - Mas... Tem o Tony? - Soou mais como uma pergunta do que uma resposta. Era incrível como eu parecia uma bobona perto deles.
  - Sim, mas queremos algo diferente... Ele não nos faz sentir o personagem... É... Apenas queremos alguém que nos emocione, que realmente seja o personagem, não só atue... Que transmita...
  - E os senhores querem minha ajuda nisso?
Eles riram.
  - "Os senhores"... Émili, somos colegas de trabalho e além do mais, você faz parte do elenco agora... Por mais que seja reserva... Queremos sua ajuda, você deve conhec...
  - Me desculpa interromper... - Não consegui segurar o sorriso - Mas eu sei quem pode me ajudar.
Saí praticamente correndo até os meus amigos, tropeçando e quase caindo em cima deles.
Os três me olharam estranho, ok... Eu parecia uma louca, mas...
  - Stanlin Gabriel... - O mesmo estremeceu quando chamei seu nome dessa forma - Eu preciso muito da sua ajuda.
  - Por que eu tô sentindo que eu não vou gostar?
  - Eu faço o que você quiser se aceitar me ajudar...
  - Eu ajudo - Se pôs de pé e foi engraçado o quanto ele não pensou duas vezes em aceitar, mesmo não sabendo o que era - O que é?
Ri nervosamente.
  - Por favor, não me mate.
  - Desembucha, Émili...
  - Você é o protagonista da festa, eeeeee! - Bati palminhas e ouvi as risadas escandalosas da Stay e do Troy.
  - O que?
Puxei ele pela mão até a bancada.
Coitado... Estava perdido, parecia que tinha acabado de acordar.
  - Se apresente - Susurrei.
  - O que?
  - Se apresente pra eles - Disse um pouco mais alto.
  - Ah... Tá bom... - Ele os encarou todo desajeitado. Eu até riria se não estivesse tão nervosa - E aí. Eu sou o Stanlin.
Olhei pra bancada já sabendo que nunca mais eles me pediam ajuda.
Eles se entreolharam e um deles sorriu pro Stan.
  - Parabéns. Você é o novo protagonista da peça.
Ok, por essa nem eu esperava.

O Garoto do Ônibus Where stories live. Discover now