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Gabe

Eu e Tony dormimos na casa do Troy, então peguei carona com ele e cheguei mais cedo no teatro aquele dia.
Eu sabia o que tinha que fazer, então nem esperei a Émili chegar e fui conversar com a Gracy (a loirinha protagonista, quem eu teria que beijar na peça).
Enquanto os meninos iam comprar nosso café, me aproximei da garota alta de cabelos loiros compridos encaracolados e com sardas.
  - Bom dia Stan - Ela me disse. Gracy sempre foi gentil não só comigo, mas com todos, até com Émili. Mal sabia ela que a baixinha de cabelos castanhos não gostava dela - Chegou mais cedo hoje.
  - Bom dia - Nos abraçamos - Sim. Precisava falar com você - Cocei a cabeça.
  - Sério? - Ela olhou em volta para conferir se estávamos sozinhos e depois voltou seu olhar para mim - Também preciso falar com você.
  - Ah é? - Ri, surpreso - Pode ir primeiro.
  - Eu primeiro? - Riu alto, corando levemente - Não sei se consigo.
  - Pode contar - Sorri - Pode confiar em mim.
Ela me encarou de modo intenso por alguns instantes e depois sorriu de volta.
  - Eu queria um conselho. Estou a fim de um menino, mas... Como posso dizer?
  - Ele não te nota? - Arrisquei.
  - Isso! Quer dizer... É mais ou menos... - Seu sorriso vacilou e ela corou ainda mais - O que eu faço?
  - Sei que parece idiota no momento, mas... Só não deixe de fazer.
Gracy mordeu os lábios, inclinando a cabeça pro lado, demonstrando confusão.
  - Como assim?
  - Olha, você pode se arrepender bem mais por não tentar nada do que se arrependeria se tentasse... - Disse de modo calmo - Experiência própria. É meio nada a ver, mas eu...
  - Você?
  - Eu sou completamente apaixonado por uma garota aí e... Me arrependo muito por não tentar. Acho que a perdi - Confessei, recebendo expressões surpresas de Gracy. Eu queria tanto que eu me virasse para trás e encontrasse a Émili, como naquelas cenas de filme onde o protagonista confessa que estava errado e joga na rodinha todos os seus sentimentos, se vira e a pessoa está lá, ouvindo tudo.
Eu me virei, mas não havia ninguém.
É, minha vida não é definitivamente um filme.
  - Sinto muito, Stanlin... - Gracy respondeu com seu tom suave e sorriu de lado - Acho que você ainda tem chances.
  - Obrigada. Boa sorte com... Seu "amiguinho"... - Brinquei e tirei uma risada gostosa dela.
  - Ah, esqueci de mencionar uma coisa.
  - O que?
  - Você conhece ele.
  - Conheço?
  - Aham - Ela riu.
  - Quem é?
Gracy riu de um jeitinho maroto e saiu, deixando no ar quem era.
Suspirei, indo atrás da mesma.
  - Me diz.
  - Só te digo depois que falar o que você ia falar...
  - Ah é - Dei um tapa na minha testa, tinha esquecido a coisa mais importante que ia fazer - Então... Eu gostaria de saber se tem problema eu desistir do papel.
Gracy arregalou os olhos.
  - Largar o papel? Como assim, do nada?
- Prometo que vou explicar - Respondi - Mas me conta quem é.
Ambos olhamos em volta para ver se estávamos mesmo sozinhos e ela se aproximou do meu ouvido.
  - É do seu amigo Tony.
Olhei pra ela praticamente com uma interrogação na cara.
  - Prometo que vou explicar - Ela disse, repetindo o que eu disse.

***

Émili não foi ao ensaio hoje.
Eu queria ver sua reação quando descobrisse que eu não sou mais o protagonista da peça.
Tudo bem que eu quase foi espancado pela diretora geral da peça, mas rimos muito. Querendo ou não eu me apeguei as pessoas que trabalhavam na peça, então... Eu vou sentir falta.
Mas resolver as coisas com a Mil é prioridade agora.
Desci do ônibus praticamente correndo, estava atrasado pra aula.
Cheguei arfando na escola, eu não costumava cansar por correr, mas foi muito no susto, eu nem pensei direito e já estava correndo.
Não tinha ninguém no corredor.
  - Eita... - Peguei desesperadamente o meu celular e o horário - Tô atrasado. Mas... Cadê todo mundo? - Subi pra minha classe, as mochilas estavam lá, as pessoas não.
Passei pelas outras classes... Ninguém.
Desci e passei por quase todas as salas, nenhuma pessoa.
Gente... Cadê as pessoas dessa escola?
Será que é um apocalipse zumbi?
Ouvi gritos e palmas e me assustei, ainda bem que ninguém estava lá pra fazer.
Quase ninguém.
  - Filho... O que faz aqui? - Me virei encontrando a professora de artes.
  - Cheguei atrasado. Cadê todo mundo? - Perguntei.
  - Ah... Tá explicado... Eles estão no auditório.
  - No teatro?
  - Sim. Hoje é o dia da competição de dança.
  - Como pude esquecer? - Bati as mãos na própria testa - Obrigada, Sra. Carllem.
Ela sorriu e continuou seu caminho, virando no corredor dos banheiros.
Segui para o auditório engolindo em seco.
Abri a porta lentamente e atraí alguns olhares. A sorte é que todos estavam entretidos com o grupo que se apresentava.
Procurei meus amigos pela sala e não os encontrei.
Mandei uma mensagem pro Troy.

O Garoto do Ônibus Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora