Capítulo 1

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      Voltar nunca é fácil, ainda mais quando se passa tanto tempo longe de casa. Após dois anos, onde não conseguimos impedir que aquela bomba explodisse no barco, estava voltando.
       Meses depois que a bomba explodiu, e que fui engolida pelas águas, acordei em um outro navio, responsável por tráficos ao longos dos mares. Não era uma convidada, mas sim uma prisioneira para o trabalho forçado. Primeiramente,  eles me responsabilizaram de limpar a embarcação, meses depois, passei a cuidar dos prisioneiros.
         Houveram várias tentativas de fuga, mas todas elas eram frustradas e terminavam em castigos físicos. No começo resistia, lutava contra eles. Mas depois, percebi que não era prudente me desgastar tanto com fugas não planejadas. Demorei dois anos para conquistar a confiança de cada um, as fugas pararam, e os castigos também.
       Aquele era um navio comercial, eles faziam parte do mercado negro, isto é, estando nos mares, nunca ficavam mais de duas noite em um só  local. Então era quase impossível saber exatamente onde estava. Mas depois da confiança  ganha, passei a ter acesso não  só a localização  do navio, como também as rostas de comércio.
       Ao longo do tempo, não tive informações do mundo exterior, e acho que ninguém naquele navio teve. Não havia televisões, radio, ou qualquer outro meio de comunicação.
      Naquele lugar, passei noites horríveis, imaginado se meus amigos, minha família, ou qualquer um, sabia se estava viva. Conheci pessoas corrompidas pelo mal, mas também fiz uma amizade. O nome dele é Taú, pertence a uma tribo africana do Norte da África. Nos conhecemos três meses depois de minha chegada, ele é  um homem digno, que se recusava a fazer as atrocidades que aqueles homens ordenavam. E foi numa dessas rebeldias que nos encontramos, ele estava sendo espancado por mais de sete homens quando o defendi. Aquela foi a primeira vez que fiz algo que realmente valeu a pena naquele barco, é  claro, sofri as consequências, mas pelo menos salvei sua vida. Nos anos seguintes, Taú não se desgrudou mais de mim, não por medo, ele era forte, não forte o suficiente para acabar com aqueles nove homens que o espacavam, mas não era o tipo de pessoa que precisava da minha proteção. Quando perguntei porque fazia aquilo, ele explicou que em sua aldeia, se alguém salvar sua vida, deve segui-lo pelo resto da vida, essa era sua cultura, e afirmou, que mesmo longe de casa, pretendia cumpri-la.
     Quando finalmente colocamos o plano em prática, a única saída para não  sermos perseguidos e mortos, foi explodir o navio onde estávamos.
    Agora, Taú e eu estávamos no Porto de Seattle, em Washington. É de noite, e apesar do pouco movimento, nossas roupas começavam a chamar atenção dos homens que por ali passavam.

-Por que estão nos olhando? - indaga.

-Não sei, deve se por causa das nossas roupas... estão velhas e sujas.

-Temos que trocar?

-Sim, mas antes vamos fazer uma parada. Preciso visitar alguns amigos.

-É  muito longe?

-É, e nessas condições não podemos pegar um taxi, por isso, vamos roubar um carro.

-O que é  taxi?

-Digamos que... É  um carro com motorista particular, e ele adora desfalcar o seu bolso.

-E isso é  bom?

-Não Taú, não é.  Por que tantas perguntas? Está com medo?

-Taú não tem medo, Taú está curioso. - diz, deixando transparecer o seu leve sotaque francês.

      Caminho até  um dos carros do estacionamento, procurando por um modelo antigo, e que ainda não fosse dotado de GPS. Se roubassemos um novo, ele seria facilmente rastriavel.
      Quebro a antena de um deles, e introduzo no espaço entre a lataria do carro e o vidro, para destrancar a porta. Segundos depois, já dentro do automóvel, descasco os fios azuis e vermelhos, para unir negativo com positivo e fazer ligação  direta. O ronco do motor é ouvido, e somente então  Taú adentra o carro para partimos.
        As ruas de Washington  continuavam as mesmas, pouca coisa mudou. Algumas lojas novas abriram, e a iluminação das ruas agora eram bem maiores. Taú observava tudo pela janela, e pelo olhar dele, soube que ele nunca vira algo assim.

-Por que tantas luzes? - indaga.

-Pra chama a atenção, chamamos isso de Marketing.

-Quanto mais luzes, melhor é a loja?

-Nem todas, a maioria é pura enganação.

-Então o comércio com poucas luzes é  o melhor?

-Nem sempre.

     Ele me olhou com a testa franzida, deixando claro o quanto achava aquilo loucura.

-Vocês são complicados!

-Espera só você  conhecer a Sara, ela compra muitas roupas, mas não usa nenhuma.

-Taú não entende o sentido.

-Nem eu que convivia com ela a anos entendia.

-O que eles fazem com as roupas?

-Guardam.

-E um dia eles usam?

    Ri com a pergunta.

-Nem sempre Taú, é por isso  que eu compravá somente o necessário.

-Taú também tem que comprar roupas e não usar?

-Somente se você quiser, e se conseguir ficar bem longe da Sara. Ela tem uma compulsão maníaca de levar pessoas que odeiam compras para o Shopping.

-Taú vai se lembrar disso.

     Chegamos a minha antiga casa, a fachada continuava a mesma, até  o porteiro da entrada era o mesmo. Estacionei o carro do outro lado da rua, e coloquei a cabeça pra fora da janela para observar o muro que protegia a mansão.

-Morava aqui... todos juntos.

-E eles ainda vivem ai?

-É  isso que vamos descobrir...

-Quem é  aquele homem  na entrada?

-Aquele é o porteiro...

-Também é  seu amigo?

-Mais ou menos... Mas não  quero que  me veja, ele é  do tipo que não sabe guardar segredo, e quero fazer uma surpresa aos meus amigos. Pode desmaia-lo?

      Sem responder, Taú saiu do carro, e seguiu até  a portaria para falar com o homem. Ele o desmaiou, e escondeu o corpo atrás da mesa, enquanto me dava passagem.
       Andamos até a porta de entrada, e antes que pudesse entrar, Taú segurou no meu ombro e perguntou se estava bem.

-Estou nervosa... esperei tanto por isso, pensei tantos modos de encontra-Los, que agora nenhum deles parece o certo.

-Taú está aqui, vai dar tudo certo.

     Movimentei a cabeça, agradecendo pelo apoio, e retirei um grampo do bolso pra abrir a porta. Assim que  entramos, a primeira coisa a se fazer foi digitar a senha do alarme, para evitar que ele disparasse. Felizmente, ainda era a mesmo.
     Subo as escadas de vagar, ouvindo os passos silenciosos de Taú atrás de mim. No segundo andar, caminho por cada quarto, buscando algum rosto conhecido entre a penumbra dos cômodos.
      Ouso um click, anunciado o engatilhamento de alguma arma, e travo no lugar, escutando os passos de Taú cessarem atrás de mim.

-Fiquem onde então! 

     Forço os meus olhos a enchergar no meio da escuridão, e não vejo nada. Entretanto, decido obedecer a ordem.
      A luzes são acesas, e somente então a figura da voz feminina que segurava a arma se manifestou. Era Diana, ela estava diferente, seu cabelo loiro estava na altura do ombros, e o seu olhar surpreso por me ver a fez vacilar por alguns segundos com a arma nas mãos.

-Você? Como...?

-É uma longa história. Mas o importante é  que estou de volta.

      O sentimento de surpresa de Diana, agora foi substituído por fúria e raiva.

-Como ousa aparecer aqui?!

-Quê? Espera, Diana, sei que fiquei fora por muito tempo, mas acredite, não foi por escolha própria. Pode abaixar a arma agora.

       Ela segurou a arma mais forte, e apontou para o meu rosto.

-Natasha Morgan, você está presa por terrorismo e traição ao governo dos Estados Unidos!

*****

    

      

    

     

Agente Morgan 3Où les histoires vivent. Découvrez maintenant