|Capítulo 1|

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Era uma manhã fria de 5 de Outubro, quando Maeve desligou o despertador que marcava cinco e quarenta e cinco e se arrastou até seu banho.

No espelho, as olheiras de meses de cansaço acumulado a deixava triste. Os brilhos nos olhos não mais existiam. Ela sentia que, a cada manhã, seu eu se perdia, em algum canto daquela casa vazia. Ligou a tevê enquanto fazia seu café, mas já sabia das notícias. Em todos os lugares, o que mais se comentava era a situação hospitalar de Peter Coleman e, depois, sobre o roubo que a família sofreu. Maeve suspirou. Se sentia responsável por aquele acontecimento, mesmo que não estivesse trabalhando na noite que tudo aconteceu, aquilo de alguma forma poderia ter sido evitado.

Agora, não adiantava mais. Todos os problemas que a queda da família Coleman sofria, caia em suas costas. Era a contadora do banco e, além do mais, prometera ao advogado deles que resolveria tudo, sem ter idéia de como conseguiria, principalmente sem nenhuma instrução.

Maeve, ao caminhar para seu quarto, tropeçou em um objeto que emitiu um barulho. Ela tentou sorrir, se abaixando para pegar o brinquedinho de Buff, seu cão perdido há uma semana. Sem ele, a mulher se sentia um pouco mais infeliz, já que Buff era o único motivo para que ela voltasse todos os dias para casa, e tentasse recomeçar. O cão, na verdade, era o seu ponto de refúgio, e ele não estava mais ali.

Pensar em perder Buff e em como nunca poderia substituí-lo fazia com que Maeve pensasse em todas as suas coisas que nunca mais poderiam ser. Sair cedo da casa do pai e dos irmãos por ser filha bastarda, e não ter pra onde voltar. Conseguir todas as suas coisas sozinhas, se afundar em dívidas e sofrer assédio do dono do banco que trabalha, todos os dias, em uma insistência interminável de "por favor, seja minha amante." Por fim, há dois meses, ganhou um processo de seus irmãos por ter recebido grande parte da herança do pai, que faleceu e ninguém a informou. Todas essas coisas faziam a respiração de Maeve se tornar mais pesada, os olhos quererem se fechar para sempre, a vida não fazia sentido e isso há décadas. Trabalhar apenas para pagar suas contas não mais lhe satisfazia, e, nas últimas semanas, a mulher se considerava apenas uma máquina. Estava ligada. Não viva.

Ela saiu de casa, verificando duas vezes se trancou a porta, e então caminhou lentamente até o ponto de ônibus mais próximo. Ao entrar no banco, ela sabia que não teria tempo de atender nada nem ninguém, antes de checar, mais uma vez, todas as câmeras e documentos do dia em que Peter Coleman fora roubado naquela instituição.

No terceiro dia após o caos, Maeve já não procurava mais por Trevor Estionne, seu chefe, na sala dele. Era bom que ele não estivesse ali, já que isso poupava sua saliva e desculpas esfarrapadas do porquê não querer ser paga para dormir com ele. Por outro lado, as coisas ficavam mais difíceis sem o senhor Estionne. Ela precisava lidar com a situação do roubo bilionário sem auxílios, e nesse mesmo momento se questionava qual seria a ligação entre o sumiço do homem, na mesma noite. No fim, Maeve só queria resolver esses problemas e, com toda certeza, deixar esse emprego exaustivo e infeliz.

O dia se prolongou da mesma maneira que todos os outros dias. Ela não parava para almoçar fora ou respirar um pouco de ar puro, porque sentia que o trabalho injetado em sua veia fazia mais sentido que a liberdade de existir com outro propósito.

Olhou para o relógio, que marcava dez da noite, e decidiu que já era hora de voltar para casa e sua cama, seu único conforto. Quando a mulher estava no andar de baixo, antes de perceber qualquer outra coisa, seu corpo emitiu um sinal para que se abaixasse e, no mesmo segundo, ela escutou o estrondoso barulho dos vidros sendo arrebentados, e muitos cacos voando. Maeve abraçou o próprio corpo com muita força e, ao olhar em volta, viu que os poucos clientes ali presentes estavam assustados e amontoados, mas não feridos.

[Livro 2] Onde cê tá meu amor? [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora