| Capítulo 3|

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Joe estava sentado no capô de sua caminhonete, no estacionamento do hospital. Ele tomava refrigerante e olhava o pôr do sol, decidindo se, após trazer as roupas de Bea para ela, voltava pra casa ou ficava. Não tinha muito o que fazer na fazenda. É claro que o trabalho continuava como se nada tivesse acontecido, mas, após isso, o silêncio predominava. Todos os moradores e funcionários da Pejari esperavam que Peter chegasse. Ninguém se reunia mais em frente ao rio ou faziam brincadeiras em torno da fogueira. As noites eram reservadas para as orações pela vida do Coleman, e o silêncio aumentava a espera. No tempo vago, Joe abriu mão de parte de seu guarda-roupas e organizou algumas das peças de Bea. Primeiro em cores, depois em categorias. Ele não sabia como fazer aquilo, mas esperava que ela gostasse de tudo, que se sentisse confortável no novo lar, que passasse uma borracha em seu passado. Joe queria que ela se sentisse bem ao lado dele, para sempre.

- Tem espaço para mais um?- Ele escutou a voz de Mabel, e assentiu, com um sorriso. A mulher tinha uma vasilha nas mãos e mastigava a comida.

- Almoçando agora, senhora Madison?- Ele perguntou, ajudando-a a subir na caminhonete.

- É, foi o único tempo livre que encontrei. - Ela ofereceu um pouco, mas ele negou.- E por favor...não me chame de senhora, me sinto uma velha. Tenho só trinta e quatro.

- Não quis ser ofensivo.- Joe olhou para baixo, sorrindo sem jeito.- Todos os dias é assim, uma correria?- Ele questionou, olhando para o hospital. Percebeu também, nesse momento, que nunca tivera tempo para conversar com Mabel a sós.

- Nem sempre. Mas essa época costuma ser mais agitada...Peter escolheu o dia certo para sofrer um ataque cardíaco, não?- Ela brincou, e os dois riram.

- O que você tem feito por ele...nossa.- O cowboy elogiou.- Fez toda a diferença. Acho que se não tivéssemos você na família, tudo seria bem mais complicado.

Mabel esperou terminar de mastigar para responder.

- Eu faria de tudo, mesmo se não o amasse.- Ela piscou, e seus olhos azuis brilhavam. Joe entendeu mais uma vez como funcionava estar feliz por cuidar de alguém. Por fazer o bem.

- Você o ama mesmo.- Comentou o rapaz, mais para si.- Queria que Beatrice enxergasse isso.

- Ela está no tempo dela.- A doutora comentou, fechando sua vasilha de comida. O semblante energético dela sumiu.- Não é fácil ter dezessete anos e lidar com um turbilhão de coisas como Bea está lidando, de uma vez só. A adolescência em si já deixa traumas, e às vezes eu olho pra ela e...- Mabel olhou profundamente nos olhos de Joe.- Eu me reconheço na Beatrice.

- Me perdoe perguntar...mas a senho...- Joe se corrigiu.- Você teve muitos problemas nessa idade?

- Ah...se você considerar ser expulsa de casa aos dezessete por estar grávida...- Ela riu.- São coisas diferentes, mas ambas as situações exigem um amadurecimento muito precoce da nossa parte. Pra ser sincera, a sociedade sempre exige muito de nós desde cedo. E por ser mulher, Bea não está ilesa.

- É.- Joe não sabia como conversar sobre aquilo. Desde que conhecera Bea, ela o explicava muitas coisas sobre os privilégios masculinos e o que mulheres são fadadas a passar desde pequenas. Ela sempre dizia que tinha uma vida muito fácil, por isso não sentia na pele da mesma forma que outras mulheres, e ela reconhecia isso. No fim, Joe percebeu que a posição de ouvinte era a melhor a se tomar, nesses casos.- Sabe, Mabel, vou te contar uma coisa.- Ele cruzou os braços.- Nunca comentei nada sobre a relação de Peter e Judith com Beatrice. Porque, desde quando cheguei na vida dos Coleman, a senhora Judith nunca deu a mim ou ao meu irmão uma única chance. Ela sempre nos julgou, dizia que iríamos querer tirar a herança dos filhos dela, e na verdade, vendo toda essa ambição, agora entendo o porquê. Enfim. Eu enxergava sim o mal nela, mas não achava justo ficar dizendo isso pra Bea, entende?- Mabel concordou.- Assim como eu já escutei ela falar bem da mãe e fiquei calado, eu já escutei ela falar mal de você, e me mantive calado.- ele riu, olhando totalmente para a médica.- Eu não influencio as opiniões da Bea, porque sei que no fim ela aprende sozinha, sem ser ludibriada, vai ser do jeito dela. Por mais que sofra.

[Livro 2] Onde cê tá meu amor? [Concluída]Where stories live. Discover now