|Capítulo 26|

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Eram oito da manhã, e Roman já estava, há muito tempo, sentado de frente para o computador em seu escritório. Ele conversava por meio de mensagens com o psicólogo que visitara Beatrice nos últimos dias, e copiava atenciosamente as prescrições médicas. Precisava trocar alguns medicamentos, pedido feito pela nutricionista, e também seguia a orientação da equipe médica de procurar o auxílio de um psiquiatra.

Beatrice não gostava daquela situação. Todas as vezes que recebia a visita de um médico, dizia não precisar de ajuda, dizia que Roman estava sendo superprotetor e desesperado.

Mesmo o pai querendo acreditar que tudo ficaria bem, tinha medo de deixá-la sozinha. Ele via que a garota estava se esforçando, e sabia que, se agisse da maneira que gostaria, estaria tirando o fôlego da filha e sufocando-a com seus cuidados. Cuidados quais não pôde acompanhar quando Beatrice teve que vacinar pela primeira vez. As primeiras tosses. Os primeiros exames. O primeiro dente arrancado. A primeira vez que caiu de bicicleta. Roman não estava lá em nenhuma das ocasiões. E, de alguma forma, precisava superar isso, já que ela estava grande o suficiente para se cuidar.

No começo, ele até pensou que Bea estivesse certa mas, quando ela fora diagnosticada com bulimia, o Atwell não pôde simplesmente negligenciar a situação. Ele se afastou do trabalho. Se dedicou completamente a cuidar de sua filha, como nunca havia feito antes. Talvez, ajudando a curá-la também o curasse de alguma forma.

Antes que saísse de seu escritório, Lucien o parou no meio do caminho.

- O presente que seu genro enviou já chegou. Está com Maeve lá embaixo.

- Não o chame de "meu genro." - Roman grunhiu em tom de brincadeira. - Certo, mande uma mensagem para Joe do meu celular e avise. Vou acordar Beatrice.

Lucien assentiu, colocando as mãos dentro dos bolsos da calça.

- Roman...- O outro se virou.- Quando a assistente social chega?

- Depois do horário de almoço. - ele suspirou fundo.

- Temos algum plano?

- Sem plano. - Declarou, derrotado.- Seja o que for, vou entregar nas mãos do destino. Maeve está certa, não posso fazer escolhas pela Beatrice. E, aparentemente, estar conosco não a faz bem, então...- Ele se demorou para terminar.- Prometi a ela, Lucien. Sem mais joguinhos. Ela já ficou muito brava com toda a situação da internet, mesmo dando um celular novo, mesmo falando com a família todos os dias. Não quero ter mais motivos para afastá-la.

O Delance assentiu.

- E se ela for embora?

- Nós ao menos tentamos, não é?- Roman deu batidinhas nos ombros de seu melhor amigo.

- Deixe-me conversar com ela. Deixe-me dizer a Beatrice o quanto é importante que ela fique, depois de tantos anos...deixe-me dizer que tudo que ela acha que sabe sobre o seu passado é uma grande mentira!

Roman coçou os olhos.

- Beatrice já é grande o suficiente para tomar as próprias conclusões, meu amigo.- Respirou fundo.- O que ela decidir, está feito. Deixe isso com ela.

E então, ele saiu, entrando no quarto da garota e tomando cuidado ao balançar seus ombros e acordá-la.

Não demorou muito para que Bea abrisse os olhos.

- Já é de manhã?- Perguntou, sonolenta.

Roman assentiu e ofereceu à filha um copo de água. Desde que começou a tomar antidepressivos para o tratamento da bulimia, o homem fazia de tudo que podia  para cuidar dos efeitos colaterais. Eram muitos, e mesmo quando Bea dizia não sentir nada, ele se preocupava. Estaria pronto se ela tivesse a menor dor de cabeça que seja, se tivesse náuseas, insônia ou tremores.

[Livro 2] Onde cê tá meu amor? [Concluída]Where stories live. Discover now