| Capítulo 18 |

904 86 18
                                    

Beatrice encarava o espelho com uma falta de confiança que nunca tivera antes. Era estranho encontrar tantos defeitos em si mesma sendo que, há alguns meses, seu hobbie favorito era olhar para seu reflexo. Não era mais a mesma.

- E então, eu estive pensando que se eu usar o brinc...- Maeve parou e fechou a porta sem desviar o olhar.- Uau.

- É, eu sei.- Beatrice respirou fundo.- Eu estou horrível.

- O quê?- Maeve chegou por trás da garota, passando a mão na parte amassada da saia rosa.- Você está fantástica.

- Claro que você não discordaria.- ela se virou, olhando a barriga à mostra e os babados da saia. Era um look perfeito. Não sabia dizer exatamente qual era o problema.

- Ai, pobre Beatrice.- Maeve zombou.- É difícil carregar o peso de ser perfeita?- Ela puxou a mão da garota e a sentou na cadeira da escrivaninha.- Vamos, você prometeu que me deixaria te maquiar no Natal!- A outra abriu uma gaveta, empolgada, enquanto Bea ainda tinha os ombros caídos.

- Vai ter que caprichar muito, porque eu estou horrível.- Ela dizia em tom baixo.- Olhe essas olheiras!

- Sh...para de mexer.- Maeve pedia, enquanto tentava preparar a pele de Beatrice.- Agora que parei pra pensar...você tem dezessete anos...onde estão suas espinhas e manchas e todas essas coisas?

Beatrice não conseguiu segurar uma risada.

- Eu faço tratamentos de pele desde muito nova. Era algo que Judith não deixava passar, nunca.- Ela respirou fundo.- Mas não, não sou perfeita. Acontece às vezes, principalmente por causa da maquiagem, mas eu consigo controlar bem. Quer dizer...conseguia...- Bea olhou para seu quarto enorme.- Quando morava em Columbus, e tinha meu quarto, e muitos cremes para passar todas as noites. Em Dooferhill eu me sinto uma dinossaura.

As duas riram alto.

- Você pode pedir para que Lucien te traga o que precisa, é simples.- Comentou Maeve, antes de pedir para que a Atwell fechasse os olhos.

- Não é. É diferente. Eu queria poder sair e fazer minhas compras com meu carro, e depois ir pra minha casa. Queria estar na Pejari.- confessou a garota.- Queria estar com a minha família.-Bea só escutou um suspiro, mas como se esperava, Maeve não disse nada.- Você não queria estar com a sua família?

Ela se demorou, enquanto olhava para a paleta de sombras e para a roupa de Beatrice.

- Honestamente? Não.

- Por quê?

- Nunca tive um fim de ano bom.- Ela sorriu de canto, mas seu olhar era triste.- Eu vivia nos quartos dos fundos estudando enquanto escutava as comemorações, as taças, os fogos...mas eu não vivia isso. Na adolescência, eu até ia dormir mais cedo para não ter que escutar.

- E por que você não se juntava a eles?- Perguntou Bea.

- Porque iriam querer a filha da empregada sentada à mesa em um dia especial?- Ela pediu novamente que a garota fechasse os olhos. Beatrice não sabia o que dizer. Até onde sabia, Maeve vinha de uma família rica, afinal, ela não tinha recebido uma herança e estava sendo massacrada pelos irmãos na justiça por causa disso. - O meu pai me dava presentes no dia seguinte. Mas eu achava que era por pena, então sempre recusava. Nossa relação foi muito difícil. Por isso não faz sentido que ele tenha deixado a herança pra mim. Não faz...sentido nenhum.- Como um estalo em sua cabeça, as coisas finalmente fizeram sentido. Beatrice se controlou para não abrir a boca em surpresa. Então, Maeve Andrews era o típico fruto entre o patrão e a empregada. Era de se entender a indignação dos irmãos dela.

- Herick Andrews era seu pai?- Perguntou a garota. A outra apenas assentiu.- Caramba Maeve. Você é tipo...muito, muito rica agora.- A Atwell sabia que precisava controlar o que dizia, mas estava espantada demais. - Quero dizer...hã...Por que você nunca...nunca disse nada? Você nunca se revoltou ou disse "eu vou sim tomar chocolate quente nessa lareira porque, dane-se, é natal!" ?

[Livro 2] Onde cê tá meu amor? [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora