|Penúltimo capítulo|

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Beatrice nunca se sentiu tão desesperada. A dor que a consumia não poderia ser descrita para Roman, que tentava incansável e falhamente ajudá-la. A essa altura, o homem já estava com a camisa branca manchada, novamente, pelo tom avermelhado da água.

- Ligue para um médico!- Beatrice implorava. Roman saiu do banheiro, se apoiando nas paredes para não escorregar com a água, mas, ao escutar um trovão, olhou novamente para a filha.

- A tempestade está horrível. Não tem como ninguém vir até aqui com o risco de atolar o carro.

Beatrice grunhiu, trincando os dentes.

- Eu estou sangrando.- ela abriu os olhos, com um olhar que machucava seu pai.- Ele vai morrer. Vai morrer se não o tirarmos daqui.

Roman analisou a situação rapidamente.

- Já está sem oxigênio, ok.- Ele ergueu as mangas da camisa.- Respire fundo, meu amor. Não vou deixar nada acontecer com vocês dois.

E então ele saiu do banheiro, sem dar explicações.

Bea se sentiu ainda mais sozinha e confusa, praguejando por morar tão longe de uma cidade, praguejando os exames que diziam que seu filho nasceria dali a duas semanas.

E, agora, seu maior medo é não morrer durante o parto em uma banheira, em uma casa afastada da cidade. Seu maior medo era perder outro Lucien. De perder o ser humano que ela mais amava no mundo, ainda que nunca o tenha visto.

A dor que sentia na espinha era insuportável. Beatrice sabia que, de alguma forma, precisava expulsar a criança de seu corpo. Ela agarrou, determinada, as bordas da banheira. Não teria chegado até ali para deixar que seu filho morresse.

A Hammar puxou o ar e, com toda a força que tinha em seu diafragma, tentou empurrar o bebê. Viu que seria pior do que imaginou. Além de ser extremamente doloroso, ela não via como conseguiria fazer isso estando tão fraca e exausta.

A dor se espalhou pelo quadril e coxas, mas ela não se concentrava mais naquilo que a machucava.

Roman chegou ao banheiro aos tropeços, carregando coisas que caiam de sua mão a todo momento. Ele jogou tudo no chão e se organizou. Parecia mais calmo que antes.

Suas mãos trêmulas arrumaram cerca de três toalhas molhadas no chão, como um colchonete. Quando conseguiu ver a imagem do pai nítida, Beatrice jogou a cabeça para trás, arfando.

- Vamos tirá-lo daí.- disse Roman, convicto.- Na semana em que Lucien teve aulas sobre parto, ele reclamou o tempo inteiro.- O Atwell respirou fundo, despejando álcool em gel em uma tesoura extremamente pontiaguda.- Eu provavelmente absorvi alguma coisa.

A mulher tentou não pensar na dor que estava sentindo, mas percebeu que suas lágrimas e seu suor se misturavam em seu rosto.

- E se não tiver absorvido?- Disse, quase sem voz, reprimindo um grito.

Roman a ignorou, confiante demais na única coisa que podia salvar a vida de sua filha e seu neto, ao mesmo tempo.

Impaciente, ele retirou os sapatos e colocou os pés com meias dentro da banheira. Se ajoelhou, agora, levando a água ensanguentada até metade de sua calça marrom.

- Filha.- disse, tentando firmar a voz, enquanto posicionava as pernas de Bea na posição tradicional. Precisou segurar firme antes que a garota o chutasse, se retorcendo.- Concentre-se na minha voz. Você vai precisar puxar todo o ar que conseguir e depois empurrar, pode fazer isso?

Beatrice chorava copiosamente.

- Não...eu já tentei.- suas mãos escorregaram pelas bordas da banheira, e Roman as firmou de novo.- Eu não consigo, é demais para mim. Está...doendo muito.- Ela suspirou.

[Livro 2] Onde cê tá meu amor? [Concluída]Où les histoires vivent. Découvrez maintenant