14. Percepção

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Eu sempre tive medo de me tornar tudo aquilo que julguei ser terrível. Mesmo que seja em ocasiões raras, de uma forma imperceptível ou de maneiras mascaradas eu julgo algumas ações e não me envergonho de afirmar isso, somos humanos, somos falhos, incapazes e imperfeitos. Julgar o outro, faz o nosso inútil ego crescer e traz à tona aquela falsa ideia do ''eu faço melhor'' surgir tão rápido quanto um raio. Você é acostumado a sempre resolver os problemas dos outros a sua maneira e a criar estratégias e soluções que ao seu ver são óbvias. Mas como que a pessoa que está passando pelo problema não viu isso? Como ela se deixa envolver dessa forma? Que tola! 

A grama do vizinho é sempre mais verde, os problemas visto de fora são sempre muito fáceis de se resolver. Complicar pra quê? Sofrimento em dobro é perda de tempo e tolice! Julgar o outro é algo subjetivo, faz parte da "natureza humana". Mas e a famosa empatia? Ela é bastante falada, mas muito pouco usada. O colocar-se no lugar do outro vai além do só ''não quero pra ela o que não quero pra mim." É estar na situação, é entender e muito mais que isso é sentir a dor do outro e ter a convicção de que alguns problemas não são tão fáceis de se resolver, mas que tem sim solução. E eu quando sinto medo do meu "eu terrível" eu me vejo em situações de completa solidão e até mesmo aflição, é confuso pensar que posso me tornar aquilo que eu mais desprezava, eu posso me tornar aquelas pessoas que não se deliciam em olhar o céu, que não mantém viva a esperança do amanhã, que esquecem de onde vieram só por ter chegado longe demais ou que não apreciam uma boa música e simplesmente não conseguem se erguer depois de uma queda. 

- Uma dose de tequila por seus pensamentos! - Tequila me cairia muito bem agora. Eu demorei muito para começar a beber, sempre fui uma adolescente com muitas travas e algumas  inseguranças, beber passava longe dos meus planos mas daí a vida adulta me bateu na porta e eu descobri que é muito mais difícil passar por ela sem a ajuda do álcool.  

- Dose aceita Falcão, ao estilo Mexicano por favor! - Estamos a caminho da casa de Vitória e nada além da sua risada podia ser ouvida naquele táxi. Lá fora a cidade está  naquele estado de sonolência, onde você tá meio dormindo e meio acordado, algumas luzes já apagadas, enquanto outras alertas e pulsantes fazendo jus ao título  de cidade que nunca dorme. 

- Como a senhorita preferir, mas antes os pensamentos. Tu tá ai toda quietinha, não gostou da ideia de ter vindo? Se tu não quiser, tudo bem! 

- Não, Vi. - Eu não sei explicar, mas o meu corpo sente a necessidade de toca-lá e pela segunda vez na noite a minha mão foi em busca desse contato e então procurei a dela - Claro que eu gostei da ideia, mas é que... - Meus pensamentos! Meus pensamentos? Nem eu mesma sei o que tanto penso, ando confusa e dispersa demais. - Nem eu mesma sei o que tô pensando, desculpa. 

- Não se desculpe por pensar!  Henry Ford diz que "Pensar é o trabalho mais difícil que existe" e talvez por isso poucas pessoas não se dediquem como deveriam a ele. Pensar é reflexão Ninha, faz bem se organizar aqui. - Com sua mão livre ela levemente encostou em minha testa. - E bem aqui! - E em seguida deixou a mão sobre o meu peito, o que me fez ter certeza absoluta de que ela conseguiu sentir o ritmo acelerado do meu coração. - Lá fora é tudo complicado demais, aqui dentro deve está sempre o mais leve possível, somos tão pequenos diante de toda essa imensidão não traga pra si todo o peso do mundo. 

Existe dois tipos de pessoas na vida: As práticas, Vitória Falcão. Temos um problema? sim! Vamos resolver ou tentar da melhor forma possível, mas se realmente não tiver jeito a gente se molda e aprende a lidar com essa nova situação, porque a vida é presente e ligeira demais pra não ser de amor. E do outro lado existe as pessoas não práticas, Ana Clara Caetano. Temos um problema? Sim! Vamos resolver, mas antes vamos sofrer, sofrer e talvez sofrer ainda mais um pouco e se depois de todo esse sofrer não tiver encontrado uma solução, a gente procura o erro, se martiriza e ainda se culpa. Sei que a vida é presente e ligeira demais pra não ser de amor, mas o amor também machuca e lidar com a dor de coração quebrado é pesado demais. 

SensaçõesWhere stories live. Discover now