21. Omissão

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Notas: eitu0205 Tu é um ser incrível. Obrigada 💙

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- Entra. 

Qual é o limite de batimentos cardíacos que um coração consegue suportar antes de começar a falhar por bombear sangue rápido demais e faltar oxigênio? Existe uma conta que me dá o cálculo exato, eu sei, já li sobre isso em algum lugar, mas claro que não vou lembrar agora. Porque você nunca gostou de matemática, Ana Clara? É justamente pra essas horas que ela serve, eu posso agora mesmo cair durinha aqui e não saber o número exato da minha pulsação cardíaca.

- Desculpa a demora, eu fiquei presa no Vozes mais tempo do que eu imaginava hoje. - Demora? Que demora? Eu pisquei e Vitória já está na minha porta, nem parece que já se passaram mais de 24horas desde o nosso último encontro. 

- Não se preocupa, passou tão rápido. Vem, entra! 

- Pra mim foi como uma pequena eternidade - Vitória passou pela porta do meu apartamento e puxou meu corpo pela cintura, seu rosto a centímetros do meu, seu cheiro invadindo todo o meu ser e delicadamente se inclinou até que sua boca tocasse a minha. Suave. Leve. Carinhoso. Um selinho que aos poucos pedia passagem para se tornar um beijo. Meu Deus. Como é possível que eu esteja tão entregue assim? Todo o meu corpo implorava para que eu simplesmente respondesse ao seu toque, mas Vitória não é uma pessoa de corpo, ela é de alma e o aviso de Bárbara ressoava em minha cabeça, não posso fazer com que isso comece fadado ao fracasso. E foi por isso que eu apenas fiquei imóvel, sem conseguir me afastar, mas também sem retribuir.

- O que foi Ninha? - Meu coração disparado, minhas mãos geladas, minha garganta seca, o corpo inteiro à beira de um colapso nervoso, uma enorme inquietação tomando conta de todo o meu ser e Vitória como sempre, calma e linda ao meu lado. - Tá tudo bem? - Perguntou enquanto me soltava e olhava profundamente em meus olhos.

- Hm - Achei que tinha esquecido a habilidade de falar - Tá sim, Vi - Mordi os lábios pela insegurança - Eu só... a gente precisa conversar. - Sei que os meus olhos contam a ela todo o meu medo porque enxerguei compreensão ali, mas Vi é um ser de outro mundo e ao invés de me questionar de imediato ela sorriu e segurou em minhas mãos.

- Tudo bem, a gente conversa, mas eu tô morrendo de fome. - Sorriu timidamente me fazendo sorrir junto - Será que a gente pode comer primeiro?

Depois do nosso jantar que com muito trabalho preparei e não por não gostar de cozinhar, mas sim por está nervosa demais para raciocinar direito, sentamos no sofá e entre um abraço e outro, Vitória me virou de costas para ela e começou a massagear os meus ombros.

- Tu me parece tão tensa. - Fechei os olhos e respirei fundo assim que senti o toque suave das suas mãos em minha pele. Eu queria poder guardar, quero conseguir memorizar cada movimento e cada som que vem dela. - Aconteceu alguma coisa? - Como continuar a ignorar todo esse sentir? Vitória me observa, me decora e aprendemos juntas, eu não posso mais fingir que nada disso é real. Preciso parar de me enganar e acreditar que existe uma hora certa pra fazer isso, porque na verdade essa hora nunca vai chegar e assim eu só estou adiando um enfrentamento inevitável. 

Muitas vezes a gente se esconde embaixo de camadas e mais camadas de tintas que vamos jogando em cima do nosso 'eu' para sustentar uma situação que acreditamos ser real, nos escondemos e nos privamos de sentir, de crescer, de viver e seguimos limitados e preocupados com a opinião e o querer do outro como se isso fosse realmente o que importa. 

Eu vivi nessa realidade por muito tempo, eu joguei varias tintas em cima daquilo que era a minha verdade, eu me anulei e me desfiz como um folha de papel na chuva, mas em meio a minha tempestade eu vi uma luz brilhar. E sabe aquela história de enxergar uma luz no fim do túnel quando se está com um pé na porta da morte? Sempre achei que ela fosse real, seja lá qual for a sua morte ou o motivo dela, essa luz pode te salvar ou te afundar ainda mais. No meu caso essa luz me esclarece, me ergue e retira cuidadosamente todas as camadas de tinta que joguei em mim, perder isso e voltar para a escuridão não deveria ser uma alternativa.  

SensaçõesWhere stories live. Discover now