43. Inerte

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Você já percebeu como a nossa pupila dilata no escuro? Mesmo sem abrir os olhos, senti que algo estava errado, o receptor não despertou a luz quente que eu esperava sentir, tento mais uma vez e nada da chama iluminar o ambiente e não preciso abrir os olhos para ter certeza disso.

Fico parada diante da porta e tento perceber algo além do meu medo, mas nada, nem mesmo um sinal, um alerta de fogo ou algo assim. Vou ter que abrir os olhos e a essa altura do campeonato eu espero realmente que tenha algo ou alguém aqui, pra fazer toda essa palhaçada fazer algum sentido. Estou me sentido uma idiota de lingerie com os olhos fechados e parada diante da porta do meu próprio quarto. No mínimo eu espero levar um susto ao abrir os olhos, porque eu não iria me perdoar por toda essa atuação.

Chega de espera e especulações. Minhas pálpebras parecem que grudaram uma na outra, mas as forço e abro os olhos.

- Não esperava menos do que uma recepção como essa

Vitória!!!

Eu não acredito no que estou vendo. Fecho os olhos e os abro novamente para ter a certeza de que é ela realmente que está diante de mim. Não posso acreditar. Tudo isso foi planejado e executado por ela? Cadê Bárbara? Vitória está imóvel e me olha dos pés a cabeça e então estende a mão na minha direção.

- Você está maravilhosa! - Até eu conseguir analisar o sorriso safado que ela exibe no rosto, eu não havia me dado conta de que a expressão era por eu estar usando apenas sutiã e calcinha. 

- O que você está fazendo aqui? Você só pode está querendo me matar. ENTRE???? - Digo apontando para o papel colado na porta. - Eu quase chamei a polícia, você tem noção disso? Quer ser presa? Porque era isso que ia acontecer aqui!

Não consigo esconder a minha frustração ao encará-la, claro que estou aliviada em saber que é ela que está aqui e que não corro nenhum perigo iminente, mas eu quase infartei de tão nervosa. Não se brinca assim com o coração frágil de alguém que já sofreu. Por um suspiro eu não chamei a polícia e alarmei o prédio inteiro. 

E se eu tivesse feito isso a minutos atrás, todos estariam agora de cara com tudo o que ela fez no meu quarto...  Meu Deus, o meu quarto!

Tem buquês de girassóis espalhados por todo canto, um conjunto de três velas acesas próximo a porta, nas duas mesas de cantos tem abajures direcionados para cama com uma luz alaranjada, luzinhas de natal contornando a cabeceira e pétalas. Muitas pétalas de rosas vermelhas espalhadas em cima da cama. O ar está frio aqui dentro, mas sinto meu corpo queimar. Vitória está sentada na poltrona que costumo usar de cabideiro e jogo todas as minhas roupas em cima, ela está segurando alguma coisa nas mãos, talvez uma folha de papel, não dá pra identificar daqui. 

Mas se tem algo que posso vê muito bem, é o quanto ela está linda!

Está com os cachos soltos e propositalmente colocados de lado, o que pra mim deixa-a com um ar mais sexy que o normal, o rosto iluminado e a boca um pouco rosada. Ela não precisa se montar em cima de várias maquiagens para se sentir bonita, Vitória é tão natural que chega a perturbar. Está sentada meio de lado, com um vestido preto de alças finas e com as pernas dobradas, tipo borboleta. Ela parece ansiosa, mas além disso está incrivelmente linda e eu queria muito ir até ela e beijá-la, mas estou paralisada.   

- Eu não quero te matar! Quero te beijar...- Ela se levanta e caminha na minha direção, e agora eu posso jurar que estou mais nervosa do que antes.

Seu cheiro doce invade meu olfato antes mesmo do seu corpo se aproximar e eu sinto a necessidade de senti-la mais perto do que nunca e a sensação da minha pele ardendo é extremamente incontrolável. Toda frustração, todo nervosismo e até mesmo a irritação por toda essa atuação, desaparecem no exato momento em que seus braços envolvem meu corpo e sinto o seu peso junto ao meu.

SensaçõesWhere stories live. Discover now