45. Eudaimonia

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Toda despedida carrega por si só uma carga melodramática muito grande. Mas o que  esquecemos de especificar é que no caminho da aprendizagem a despedida não é só necessária, ela é a vida real. E eu já tive que me despedir de muitas coisas ao logo dessa vida, sejam essas escolhas ou obrigações, e todas foram igualmente dolorosas. Quem está pronto pra dizer tchau quando na verdade quer dizer fique? Chega a ser cômico o quão trágico pode ser a vida amorosa de alguém, se você parar para pensar nos caminhos e curvas que temos que pegar em todo esse processo. Com certeza você já ouviu coisas como "ouvir eu te amo hoje em dia é mais fácil do que ouvir um bom dia" ou pior; "o amor virou passa tempo pra quem gosta de brincar" frases banais e tão generalizada que se tornaram reais, por pior que isso seja.

Somos ensinados a amar, mas não a sermos deixados. Fomos criados para da e receber o amor em todas as suas formas e conjunturas, mas não aprendemos a deixá-lo ir na direção oposta. O amor é lindo, significativo, mágico. Quem vai negar que sonha ou já sonhou em viver aquele amor dos filmes clichês românticos ou das novelas, que no fim acabam com felizes para sempre.. Todos estamos aqui em busca do amor, todos queremos senti-lo no mais profundo estágio, todos nós desejamos amar e sermos amados na mesma intensidade e foi assim que eu me sentir com e por Vitória. 

Mas, não se engane, amar dói!

É por isso que para amar, é preciso coragem. Amar não é encontrar uma cópia dos nossos sonhos, não é se deparar com uma pessoa perfeita, não é resolver todos os outros problemas da sua vida, não é ter um sentimento que faz você se sentir nas alturas 24 horas do seu dia, não é possuir uma garantia do futuro ou de que você vai ser amado de volta.

O amor em si, não dói: ele é uma força pura que une, cura, perdoa, restaura, dá sentido à vida e carrega uma essência enorme. O que dói é nosso jeito ainda doente de amar. O que dói é amar carregando nossas imperfeições, nossas carências, nossas ilusões, nossas cobranças, nossas dores. Nós amamos, mas ainda não sabemos amar. Porque o amor é a lição e o próprio mestre. Você só aprende se tiver a coragem de tentar e de amar de novo, de amar sempre, de amar acima de qualquer medo, mas tenha em mente que vai doer pois é sempre um risco. Dói fechar ciclos, para que novos possam se abrir. Dói deixar para trás velhos hábitos, pessoas e zona de conforto. Mas sabe o que dói muito mais? Quando nossa alma pede por transformação e ficamos estagnados.

Vai doer todas as vezes que você amar e for rejeitado, todas as vezes que esperar algo em troca e não receber, todas as vezes que alimentar um sonho de amor e a vida não te oferecer. O amor vai colocar em risco a sua paz, o seu equilíbrio, a sua autoestima, vai fazer você se questionar como é por dentro e por fora, vai fazer você sonhar e você cair. Você tem coragem de amar? Tem a coragem de suportar a dor, cair, se iludir, sofrer, duvidar de si, desacreditar da vida, daquilo que aprendeu como uma verdade absoluta, depois se levantar, sacudir a poeira, sorrir e amar mais uma vez? Você tem a resiliência para se recuperar, para mostrar que não é igual a maioria, para não deixar que suas cicatrizes sejam maiores que você? 

Eu achei que não fosse capaz, eu afirmei que nunca mais seria. Decidir que nada e nem ninguém faria eu sentir tudo isso outra vez. Mantive todo o meu foco na minha carreira, nos meus pais e naquilo que eu chamava de vida paralela, quando vez ou outra eu saia socialmente. Mas ai um certo dia eu recebi um convite. Um convite para a primeira apresentação solo da musicista Vitoria Fernandes Falção, na Royal College of Music. E não satisfeita apenas com esse convite, ela fez questão de especificar que cantaria ''Yours - Ella Henderson'' A musica que se fez encontro e que me levou até ela anos atrás.

E nesse exato dia eu me dei conta de que tudo aquilo em que eu acreditava, tudo aquilo que eu afirmava ser a minha verdade, não passava da minha propria ilusão, porque se amar dói, viver sem ele dói muito mais. É preciso amar, mesmo que doa. Porque ele é a dor e a cura, é quem te transforma e te fortalece, e foi acreditando nisso que eu disse sim para o convite e principalmente para ela. Foi amando Vitoria que eu disse sim para uma vida completamente nova e cheia de desafios. Foi por amá-la que eu disse sim para um casamento improvisado e sem muitas convenções. E foi por acreditar na força do nosso amor que eu continuo dizendo sim para todas as novas sensações que surgem no nosso caminhar, porque é só amando que o amor pode te encontrar e fazer todo esse caminho de feridas e aprendizados valer a pena. Só assim compreendemos que o amor não dói, ele era na verdade a cura que procurávamos para nossas feridas.  






"Viva intensamente todas as SENSAÇÕES que a vida lhe oferece."

Fim.

SensaçõesWhere stories live. Discover now