36. Renascimento

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Somos seres cômodos, buscamos sempre pela facilidade, aprendemos a aceitar o que nos é ensinado e seguimos vivendo em um comodismo taxado como costume de toda uma sociedade por pura conveniência ou medo. Medo e receio da mudança, investir no novo amedronta e questionar o que aprendemos como verdade absoluta, assusta. E mesmo que essas convenções ditas certas não sejam o melhor pra você, em um determinado momento da vida ninguém se importa. Se você mesmo não tentar mudar o que te incomoda, porque acha que os outros se importariam? Deve partir de você a certeza de uma verdade fora da caixa.

Eu particularmente, sempre adiei ao máximo momentos de despedidas, colocar um ponto final em uma realidade viva é tão difícil quanto acreditar no final feliz das histórias infantis, é ilusório, é muito mais que um simples até logo, e acima de tudo, é doloroso...muito doloroso! Fugia de situações assim igual diabo foge da cruz pura e unicamente por não querer lidar com o sofrimento eminente, mas, mesmo tentando evita-los de todas as formas, os fins existem, são diários e muitas vezes necessários. Ninguém é ensinado a enfrentar o sofrimento, somos levados a acreditar que a vida é um mar de rosas perfumadas, mas em um belo dia eu resolvi buscar a minha verdade e então entendi que a realidade nua e crua da mudança de hábitos pode ser bastante cruel, mas muito válida quando traz paz.

Nunca havia prestado atenção em como essa campainha demora para soar e mais ainda no quanto demoram para atendê-la. Acho que a agilidade só funciona realmente bem, quando o assunto é de interesse pessoal, assim como quase todas as questões desse mundo, as coisas só funcionam rapidamente com base na conveniência de uma das partes e para que isso aconteça não importa o quê ou quem fique pelo caminho.

- Porquê você demora tanto pra abrir essa porta?

- Estava ocupado!

- Tentando criar alguma desculpa esfarrapada pra tentar escapar de mais uma conversa?

- Do que você tá falando Ana Clara? Na verdade quem me deve um explicação aqui é você que saiu feito uma bala disparada do restaurante ontem e não deu mais nenhum sinal de vida. Os meus pais ficaram preocupados, sabia?

- Talvez eu estivesse muito ocupada tentando reverter a merda que você tentou fazer e não tive tempo pra avisar aos seus pais onde eu estava. Mas, isso não importa agora, meu assunto é com você e pare de usar seus pais como escudo, você já é bem grandinho.

Por muito tempo eu tive medo de enfrentar Maicon, seja lá por qual motivo fosse eu me subjugava fraca e incapaz de falar e expressar tudo o que eu queria. Sempre tive muito claro em mim a convicção de que ele me venceria em todos os jogos de poder que me fizesse entrar, então porque comprar uma disputa perdida? Fui controlada e submissa por quase todos os anos em que estivemos juntos e isso foi tempo demais para se calar, hoje o seu olhar frio e calculista não é mais um problema, não me sinto em nenhuma desvantagem ou dependência emocional da pessoa que está parada a menos de 20cm do meu corpo me fuzilando com o olhar.. Não vejo o porquê de fugir, me esconder e muito menos evitar todas as verdades que gritam e que me fazem ser quem eu quero ser.

- Você é uma pessoa horrível, Maicon. Dentre todos os sentimentos que a nossa separação pudesse me fazer sentir, eu nunca pensei que o desprezo fosse a mais forte delas. Nunca achei que sentiria repulsa do ser humano narcisista que você tem demonstrado ser.

- É melhor conversarmos aqui dentro Ana! Não pega bem você ficar esbravejando ai na porta.. Entra!

- Não pega bem pra quem? Eu não ligo pro que vão ver ou ouvir aqui. Você é a pessoa mais arrogante e egocêntrica que conheço e confesso que fiquei surpresa em saber que além de ser inseguro e controlador, você é um péssimo perdedor. Qual o seu problema, Maicon? Não estamos mais juntos, deixa eu viver a minha vida em paz! - Antes que eu pudesse concentrar toda a minha raiva em uma única linha de raciocínio para continuar a falar o que estava engasgado, sua mão se fechou em meu punho na mesma velocidade em que foi a minha surpresa.

SensaçõesWhere stories live. Discover now