35. Explica...Ação

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- Depois que falei com você ontem, virei de lado na cama e tentei ao máximo dormir.. Me forcei a isso de verdade, porque sabia que se ficasse remoendo tudo o que tinha acabado de me acontecer, eu iria vê o dia amanhecer e isso não me levaria a lugar nenhum, então, deixei tudo de lado e dormi. Às 08:00 acordei com batidas na porta e mesmo que você não pergunte e que eu também não precise falar, vou lhe dizer para evitar assim qualquer abertura pra dúvida, eu dormi no quarto que costumava ser meu naquela casa, mas, obviamente que dormi sozinha. Maicon fez questão, insistiu dizendo que nunca iria permitir que eu dormisse na sala e como já estava cansada demais para começar mais uma nova discussão, aceitei. Voltando para as batidas, era Elisa, que acordou mais disposta, se sentindo melhor e pronta a me ouvir.  Abri a porta para ela e no quarto mesmo falei tudo o que queria, expliquei como nosso casamento estava sendo levando, como eu estava me sentido, o que Maicon me fazia sentir, o porquê da minha decisão e principalmente como cheguei a isso. E então  chorei.. Chorei feito uma condenada recebendo sua sentença de morte, porque era exatamente assim que estava me sentindo Vitória. Eu enfrentei um leão por dia pra chegar exatamente onde cheguei essa manhã, eu sonhei, idealizei e muitas vezes pensei em desistir achando que jamais iria me livrar desse peso que estava sobre meus ombros. Eu fui julgada, recebi olhares tortos, fui humilhada, ouvi xingamentos e chorei em silêncio por dias só porque decidi seguir com aquilo que meu coração dizia ser o melhor pra mim e sabe o que é mais irônico, Vi?  Só eu sei o que é melhor pra mim!

Elisa me ouviu, guardou pra si as dores que minhas palavras lhe causaram e aceitou, pelo menos foi o que demonstrou, e se não aceitou, entendeu que eu não estava abandonando seu filho "por nada", que essa decisão doía mais em mim do que em qualquer outra pessoa e"concordou"...Até porque era sobre as minhas escolhas e a minha felicidade que estávamos falando e eu não faço mais parte do time daqueles que deixam que os outros falem por si. Depois fomos tomar café e ela me pediu para lhe fazer companhia no almoço, eu não queria ficar mais tempo do que o necessário, mas também não podia negar isso a ela. Elisa é como uma mãe pra mim e carregar o peso das minhas escolhas já é pesado demais pra acrescentar a carga de uma recusa tão simples, e então fui. Fomos na verdade, o almoço foi em um restaurante onde sempre íamos quando eles estavam aqui na cidade e eu encarei isso como uma despedida. O fim de um ciclo que foi único, importante e muito significativo na minha vida. 

- Ana.. - Seus olhos que até esse momento não haviam se desviado dos meus, agora passeiam por todo o meu corpo, como se buscassem tempo para escolher as palavras certas a usar, e também para disfarçar, porque assim como eu, algumas lágrimas inundavam a íris dos seus olhos. 

Sentei ao seu lado no sofá e vendo que ela ainda não estava pronta pra falar, continuei.
- Vi, eu nunca pensei em me divorciar, nunca passou pela minha cabeça uma vida que não fosse aquela que eu levava ao lado do Maicon, eu tinha nas mãos a fantasia de criança e era real!  Todo sonho que foi construído durante a infância agora era palpável, eu tinha o casamento perfeito e nada fora daquela realidade era pensado, até um certo dia. Minha mãe costuma dizer que assim como nós, não somos eternos, nada na nossa vida é. Eu peguei pra mim essa frase e percebi que o sonho de menina já não existia mais. Você sabe como foi e como está sendo difícil passar por tudo isso, Vitória. Você escutou todas lamentações, entendeu todas as dúvidas, guardou as confissões, leu os olhos sem precisar de uma só palavra, você chegou em meio a mudança e renovou a minha esperança.. Eu posso imaginar o quanto tenha sido confuso pra você olhar essas fotos, lê essa mensagem e imaginar uma situação completamente diferente da real, mas Vi, eu nunca faria nada que te machucasse ou que colocasse a prova o que estamos construindo juntas! - Me aproximei um pouco mais do seu corpo quieto no sofá e segurei sua mão.. Sua pele está fria, sua mão suada e um pouco trêmula, Vitória está diante de um confronto interno e eu sou o centro disso. 

SensaçõesWhere stories live. Discover now