Capítulo IV

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Silvia estava parada à alguns minutos, observando a própria imagem no espelho do banheiro.

"...Procurei palavras que descrevessem, a sua importância em minha vida… Mas em anos de busca ainda não consegui encontrá-las. Por enquanto colhi poucas palavras, mas para mim é apenas o começo da descrição do que és em minha vida..."

Ela lembrou as palavras de uma mãe que havia lido em um site sobre maternidade, ainda concentrada em sua própria imagem no espelho. Os olhos um pouco úmidos com o acúmulo de lagrimas que se formava no local, os cabelos desalinhados indicando que ela havia acordado a alguns minutos.

A castanha deslizou a mão em seu ombro, levando em seus dedos a alça da camisola que usava e deixou que ela deslizasse em seu corpo e caísse aos seus pés. Silvia olhou para seu corpo semi nu, perfeito aos olhos de qualquer um. Seus olhos pousaram em seu ventre e não havia o menor indício que havia um ser crescendo alí dentro.

"...Passei a respirar diferente depois que você nasceu, meu ar ficou mais puro, meu pulmão trabalha melhor. Depois deste dia também parece que meus olhos enxergam sempre o lado bom dos acontecimentos."

Após analisar e ter certeza que não havia indício de sua gravidez, Silvia retirou a calcinha e andou até o chuveiro, ligou e rapidamente se colocou em pé em baixo da água quente, que descia em seu corpo. Ficou por minutos naquela posição, sem movimentar um músculo, até que decidiu sentar no chão e deixar que a água continuasse caindo em sua cabeça.

Depois de mais alguns minutos sentada no chão do banheiro, ela finalmente desligou o chuveiro, enxugou seu corpo e secou seu cabelo, enrolou-se em um roupão e sai do banheiro, caminhando até o closet, onde vestiu um vestido azul marinho e seus scarpin preto, e saiu do quarto.

Quando estava descendo as escadas escutou Carmen falando ao telefone sobre a volta de Jorge para casa, que aconteceria nesse mesmo dia. Sem ser notada pela sogra a castanha saiu, entrando no carro, sendo guiada pelo seu motorista que dirigia em total silêncio. Enquanto olhava as ruas de Chicago, pensando que estava prestes à fazer uma loucura, logo o carro parou em frente a uma loja de roupas para infantis.

Silvia observou enquanto uma jovem ruiva saia da loja empurrando um carrinho de bebê, a jovem se curvou e ela pegou o bebê–que antes estava no carrinho– nos seus braços, a criança que Silvia julgou ter por volta de cinco meses sorriu esticando os braços pequenos para toca o rosto da mãe. A castanha não percebeu quando uma lagrima desceu por seu rosto e logo o carro voltou a andar, fazendo Silvia perder o contato visual com aquela mãe e seu bebê.

Demorou mais alguns poucos minutos até que ela chegasse a clinica, onde se apresentou para a recepcionista, que pediu para ela aguarda sua vez. A castanha olhou para o lado, nervosa, então procurou uma cadeira para sentar e esperar sua vez.

Enquanto caminhava até a cadeira, Silvia se perguntou se era aquilo mesmo que ela queria fazer, e diferente das outras vezes que ela havia se feito essa pergunta, ela não conseguiu pensar na resposta. Quando sentou ela pode observar que tinha alguns cartazes espalhados pela clínica, onde mostrava os diferentes estágios da gravidez.

- Você está grávida?

Silvia levantou a cabeça e encarou a senhora a sua frente, não fazia a menor ideia de onde aquela mulher havia saido, mas percebeu que ela vestia uma roupa com o logon da clínica, pensou em ignorar a pergunta, afinal, não tinha razão para ser simpática, mas resolveu responder.

- Sim.

- Ah, parabéns - a mulher sentou ao seu lado, sem ao menos ter sido convidada - ser mãe é maravilhoso, dá muito trabalho, mas é maravilhoso.

Memory • Parte IIWhere stories live. Discover now