capítulo XII

163 23 6
                                    

Eram sete à mesa, Jorge e Silvia nas cabeceiras. Carmen, Jhenny e Elizabeth ocupavam o lado próximo a janela. Os pais da castanha do outro. Pilar era o tipo de pessoas que deixava qualquer ambiente pesado, e ela fazia isso com um brilho nos olhos por saber que sua presença causava tanto desconforto nas pessoas, principalmente no genro a quem ela não gostava nem um pouco.

Silvia havia ficado em silêncio por quase todo o jantar, flagrou-se observando a fisioterapeuta do marido diversas vezes, também observava o marido que também estava em silêncio, as poucas vezes que interagia era com o sogro ou Elizabeth. A loira parecia ser a única pessoa confortável do jantar, ria às gargalhadas das piadas que Luiz estava fazendo para tentar descontrair o ambiente.

- Eu deveria ter imaginado que seria uma menina - ele disse se referindo a gravidez da esposa - a Pilar ficou muito emotiva, coisas que ela não é.

Pilar sorriu.

- Isso, a Silvia me transformou em uma manteiga derretida, e ainda tinha os desejos absurdos, eu espero realmente que ela não passe por isso agora, até porque ela não tem um marido que possa fazer todas as suas vontades.

- Como? - Perguntou Jorge a encarando - por que eu não posso fazer todas as vontades da minha esposa?

- Talvez porque esteja impossibilitado de andar, fica difícil fazer as vontades de uma mulher estando preso em uma cadeira de rodas - a senhora lançou um sorriso desafiador para o genro, vendo-o engolir em seco seu comentário - aliás, minha filha, como essa casa irá se manter daqui pra frente? Seu marido virou um verdadeiro inútil, terá que trabalhar por dois se quiser manter o estilo de vida que vocês tem, além de cuidar da criança...

Carmen levantou e caminhou até o lado da mesa em que Pilar estava, mas o filho a segurou pelo braço quando ela passou ao seu lado. Jorge a encarou por alguns segundos e a senhora acabou saindo da cozinha bufando.

- Estressada ela - disse Pilar e recebeu um olhar de repreensão por parte do marido.

O resto do jantar foi em um silêncio constrangedor, as únicas vozes ouvidas era De Jhenny e Luiz que tantavam manter uma conversa civilizada para que Elizabeth não se sentisse tão desconfortável. Logo após o jantar, Jorge acompanhou a fisioterapeuta até a saída da casa, o que deixou sua esposa ainda mais irritada pela presença da loira.

- Você estava linda hoje - disse Jorge quando entrou no quarto, observando a esposa que estava em frente ao espelho - se a sua mãe não tivesse aqui poderíamos ter tido um jantar mais agradável.

A castanha não deu ouvidos ao que o marido falava e entrou no banheiro fechando a porta com força. Ele estranhou aquela atitude, mas não deu muita importância dando de ombros antes de ir até a cama, tendo um pouco de dificuldade em sair da cadeira de rodas, depois de três tentativas ele conseguiu sentar na cama, respirando aliviado por não ter caído como na noite anterior.

- Está tudo bem? - ele perguntou quando Silvia saiu do banheiro, passando um creme hidratante nos seus braços.

- Não, Jorge, como vai está tudo bem com a minha mãe aqui disposta a infernizar a nossa vida e se não bastasse isso eu ainda tenho que aguentar o meu marido trazendo a fisioterapeuta bonitona dele pra jantar na minha casa sem ao menos falar comigo antes, e ainda me pergunta se está tudo bem.

Jorge levantou uma das sobrancelhas surpreso pela resposta da esposa, e logo em seguida soltou uma gargalhada.

- Eu não acredito que você está com ciúmes da Elizabeth - disse ele entre risos, o que deixou a castanha ainda mais furiosa.

- Para de sorrir seu... - ela caminhou até ele enquanto falava e depositou alguns tapas no marido - idiota, filha da...

- Hey! - Jorge exclamou a interrompendo e segurando sua mão, fazendo com que ela parece de bater nele - desculpa, eu não vou mais rir, agora você tem que parar de me bater porque você bate forte, mulher! E tudo isso só porque eu convidei a Elizabeth pra jantar com a gente?!

- Você quer dizer com você, né seu safado - a castanha voltou a bater no marido, mas ele novamente segurou na mão dela a impedindo e sorrindo da situação - me solta! - ela exclamou quase gritando.

Silvia caminhou até o closet e não demorou para voltar para o quarto segurando um edredom, então ela caminhou até o seu lado da cama pegando um travesseiro.

- Onde você vai dormir?!

- No quarto de hóspedes.

- Como?! Silvia! - exclamou Jorge quando a esposa abriu a porta - hoje nós iriamos...

- Transar?! Serio que você pensa que eu vou transar com você depois desse jantar!? - a castanha perguntou com um certo deboche - você vai ficar sem sexo por muito tempo querido e se quiser transar chame a sua... - ela parou de falar, respirando fundo antes de sair do quarto fechando a porta com força.

- Silvia!

Escutou a voz do marido a chamando enquanto caminhava até um dos quartos de hóspedes do andar de baixo da casa. Onde passou uma noite mal dormida.

- Bom dia - Jhenny disse entrando na cozinha onde só tinha a cunhada.

- Bom dia - a castanha respondeu - como a sua mãe está?

- Ótima, esta fazendo as malas dela, disse que iria para um hotel porque não aguentava ficar no mesmo lugar que a sua mãe.

- Queria poder fazer o mesmo - Silvia murmurou, comendo um pedaço de sua torrada.

- Você e o Jorge brigaram ontem?

- Não - mentiu, mas a cunhada continuou a encarando, o que fez a castanha revirar os olhos - uma pequena discussão.

- Por causa da fisioterapia sem sal - Jhenny deduziu sorrindo com certa ironia para a castanha - eu imaginei que você fosse ficar irritada por causa da presença dela no jantar.

Silvia apenas sorriu fazendo uma negativa com a cabeça, não queria entrar naquele assunto com a cunhada e nem com ninguém, depois que terminou seu café da manhã foi até o  escritório, onde ficou trabalhando por algumas horas na esperança de que quando terminasse o trabalho o marido já tivesse saído para a fisioterapia.

Já passava das onze da manhã quando a castanha saiu do escritório após ter passado algumas horas em uma conferência com investidores franceses. Viu que seu pai estava saindo de casa, pensou em chamar ele, mas já era tarde demais, então ela subiu para o quarto onde pretendia tomar um banho e descer novamente para o almoço - que ela tinha quase certeza que seria um inferno por causa da presença da mãe.

- Eu estava pensando que você não fosse voltar mais para o nosso quarto.

Ela surpreendeu-se ao escutar a voz do marido quando entrou no local.

- O que faz aqui?

- Estava te esperando, precisamos conversar sobre ontem.

- Eu não quero conversar.

- Mas...

- Eu não vou conversar sobre ontem, Jorge - ela disse o interrompendo - estava em uma conferência e estou exausta, preciso de um banho e eu não vou conversar com você sobre ontem, você não deveria está na fisioterapia.

- Não fui porque eu pretendia conversar com você.

A castanha fez uma negativa com a cabeça entrando no banheiro para tomar seu banho. O marido aproximou-se da porta.

- Silv, eu... Só queria pedir desculpa por ter trazido a Elizabeth pra jantar ontem sem antes ter falado com você - ele começou a dizer - eu sei que errei e... Desculpa, isso não vai mais acontecer e eu não quero ficar brigado com você... - ele passou a mão no cabelo respirando fundo - eu não consegui dormir a noite porque você e o bebê estavam longe, você vai voltar a dormir aqui hoje?!

Ela abriu a porta e de um leve sorriso para o marido.

- Nós também ficamos com saudades de você a noite e eu te desculpo - ela aproximou-se e deu um beijo leve no marido - agora eu preciso tomar banho...

Memory • Parte IIWhere stories live. Discover now