III: Biblioteca

1.2K 135 10
                                    


A satisfação de Aron estava estampada em seu rosto. A sensação de liberdade, ao voar nas costas de um dragão, era incomparável. A madrugada ainda estava presente e o campos da faculdade completamente deserto. Os inúmeros prédios e alojamentos estavam com as luzes apagadas. Condições perfeitas para o dragão pousar em uma colina próxima.

Assim que desceu das costas do animal, Aron o acariciou:

— Você realmente me salvou, Kyra — Aron encostou a cabeça na draga e ela fechou os olhos. — Pode voltar agora.

Assim, ela se afastou de seu dono, abriu as asas e voou, desaparecendo em pleno ar. Sozinho, Aron desceu a colina, indo em direção a um prédio específico, o qual tinha a aparência mais abandonada.

Quando alcançou a construção, foi até os fundos dela. Lá, tirou uma tábua de uma das janelas e entrou pela abertura. Dentro do prédio, ele estendeu a mão e uma esfera luminosa foi conjurada, essa flutuou até acima de sua cabeça e ali ficou, rodeando Aron. O rapaz foi em direção a uma escada, ao passo que tomava cuidado com as tábuas soltas e os inúmeros ratos que ali passavam.

No momento em que encontrou o terceiro e último andar, Aron entrou em mais um corredor, onde seu final dava em uma sala ampla e luminosa. Assim que se aproximou do fim do caminho, a esfera de luz se dissipou acima de sua cabeça.

Na sala, estantes vazias e empoeiradas foram colocadas nas paredes, deixando o centro livre para algumas mesas e poltronas. Pequenas luzes brancas foram penduradas nas estantes, sendo a fonte da grande claridade dali de dentro. Havia duas pessoas ali, dois jovens tanto quanto Aron.

Um era um rapaz, sentado em uma poltrona, lendo um livro. A outra, era uma moça loira, que se encontrava deitada em uma das mesas enquanto mexia em seu celular. Assim que avistou o recém-chegado, o rapaz que lia se levantou e foi na direção de Aron:

— Você só pode querer me ver morrendo do coração! Por que você pulou daquele jeito?

— Calma Felipe, era a única saída que eu tinha — Aron pegou o rapaz pela cintura e lhe deu um beijo.

— Nunca mais faz isso.

— Pode deixar, tudo por você.

Por ser muito branco, Felipe estava com as bochechas vermelhas, de tanto nervoso. Abraçado com Aron, dava para notar que era mais baixo do que o namorado. Os óculos escondiam um pouco os olhos verdes, e sempre eram arrumados pelo rapaz, já que caiam o tempo todo.

— Pelo menos ninguém viu um dragão voando pela cidade — a moça, agora sentada em cima da mesa, mostrava o celular. — Imagina como seria isso, por causa de uma irresponsabilidade sua.

— Sim, mamãe Emma. Me desculpa mamãe Emma — brincou Aron, soltando Felipe gentilmente.

Emma era parecida com o outro rapaz. Tinha o rosto cumprido e os olhos claros, além dos cabelos curtos e aloirados. Mas, tinha mais postura do que Felipe, que andava um pouco encurvado.

— Não tem graça, Aron. É sério, você pede para a gente te ajudar com suas coisas, e depois não segue nada dos planos.

— Eu me desesperei, ok?

— Eu nem sei porque você foi lá, para começo de conversa. Só por que ouviu Hector e a secretaria discutindo, não quer dizer que você pode invadir o escritório dele à noite.

— Você sabe como eu desconfio dele. Aquelas contas não batem, ele com certeza está recebendo dinheiro de alguém.

— E daí? Ele é só mais um. Além disso, se ele é pego, você fica sem emprego.

— Eu não ligo. Eu nem gosto de trabalhar naquela campanha e você sabe disso. Só estou lá por causa da minha mãe.

— Na verdade, você quis, no começo. Eu lembro... — interrompeu Felipe.

— Felipe, me ajuda a vencer sua prima em uma discussão. Pelo menos uma vez.

— Aron, você precisa crescer. Nós dois somos guardiões, você não lembra de seu juramento, quando aceitou isso? — Emma desceu de cima da mesa, e agora arrumava uma mochila.

— Eu sei, por isso eu quero fazer algo. Imagina se eu descubro que ele é um Vilão, ou coisa do tipo.

— Aron, nós não somos heróis e você sabe disso. Se você se machucar feio, ou pior, morre, ninguém vai aparecer do nada e salvar sua vida — nesse momento, uma coruja branca entrou na sala, e pousou no ombro da moça. — Eu não posso me responsabilizar por você.

— Mas você usou seus pássaros, por que eu não posso usar os meus dragões?

— Por que não vemos dragões voando por aí. E se vissem, imagina o desespero. O mundo nunca entenderá gente como a gente.

— Mas, então é o mundo que está errado.

— Sim o mundo está, mas não é você quem irá muda-lo. Agora, eu vou dormir, pelo o resto da noite que me falta, já que o senhor demorou demais.

Assim, com a coruja nos ombros, Emma foi em direção às escadas.

Sozinhos, Aron se virou para o namorado, que tinha uma expressão de pavor no rosto, enquanto encarava o corredor:

— O que foi? Viu alguma coisa?

— Acho que sim — Felipe balançou a cabeça, e se desvencilhou do abraço, mas logo foi puxado por Aron.

— Quantas vezes eu já falei que não precisa ter medo? Não tem nada de errado em ter seus poderes.

— É fácil para você dizer. Você não vê coisas horríveis te olhando no escuro, quando você menos espera. Nem ninguém te acha um esquisito, por ter seus poderes.

— Eu não te acho um esquisito. Se você for um, então é o mais bonito deles.

Felipe acompanhou o sorriso de Aron, se entregando a um abraço extremamente aconchegante:

— A gente pode ficar aqui, o dia já vai amanhecer mesmo. O que você acha?

Felipe olhou para o corredor mais uma vez:

— Está tudo bem, eu vou ficar aqui com você. Nada pode te machucar.

Assim, o rapaz aceitou o pedido do namorado. E então, os dois sentaram juntos em uma poltrona grande o suficiente, e, enquanto trocavam carinhos e conversavam, Emma estava no primeiro andar, se preparando para sair pela janela.

Porém, um barulho repentino, a fez voltar

— Olá? — Emma, ainda com a coruja no ombro, arrumou uma mexa de cabelo, a colocando atrás da orelha.

O animal soltou um pio e voou em direção ao corredor, Emma o acompanhou de imediato. A coruja entrou em uma sala tomada por folhas e pousou no parapeito de outra janela. A moça imediatamente se assustou, e então uma ventania forte tomou conta da sala, formando um redemoinhou bem ao centro. Emma apenas ouviu um baque de algo batendo com força na parede.

Quando a ventania passou, Emma se aproximou de onde o barulho veio. No chão, um rato estava esmagado, e a parede manchada com seu sangue.

— Que nojo! — a coruja, que até aquele momento estava no mesmo lugar, saiu voando em direção do rato e começou a comê-lo, o que fez Emma ficar com ainda mais aversão daquela cena. — Eu só devo estar ficando louca. Agora consigo ouvir os pensamentos de um rato também.

Assim, Emma voltou para o corredor em direção à janela. Lá fora, deu a volta no prédio e foi a um dos alojamentos. 

Os Guardiões: Parte I - Correntes de FogoWhere stories live. Discover now