V: Castelo na Montanha

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Aron apenas abriu os olhos, e não mais se encontrava em seu quarto. Ao invés disso, seus pés tocavam uma relva tímida, ao pé de uma colina. Ao longe, ele podia ver a cadeia de altas montanhas e o castelo moldado ao longo delas. Uma construção antiga e inimaginável. Inúmeros dragões, de tamanhos e cores diferentes, voavam por ali, saindo de cavernas, mergulhando no rio ao pé da cadeia, ou indo em direção a uma torre, que já abrigava diversos deles. Ali, as distintas cores dos animais saltavam aos olhos. A beleza natural e surreal, levava Aron, a se encantar toda vez que abria os olhos naquele mundo.

De repente, uma das criaturas pousou a seu lado. Era Kyra. Assim que a viu, Aron correu até ela e a acariciou. Em seguida, subiu em suas costas e partiram em direção ao castelo. No caminho, ele foi saldado pelos dragões que encontravam. Kyra, para brincar com o rapaz, desceu com tudo em direção ao rio, sobrevoando um pequeno porto que ali existia. Pessoas viviam naquele castelo, e todas, assim que viam Aron, acenavam. Em seguida, Kyra foi em direção à grande torre no alto de uma das montanhas, o lugar onde quase todos os dragões se dirigiam.

Chegando lá, Kyra passou por uma abertura, ainda com Aron em suas costas. Lá dentro, existia uma espécie de anfiteatro, lotado de dragões que se viravam para o meio. Quando Aron chegou, todos fizeram uma reverência, assim que ele desceu de Kyra, que continuou a seu lado. Não demorou muito, e o rapaz começou a ouvir o bater de uma asa, tão forte e alto, quanto o dragão vermelho que descia em sua direção. Aquele era o maior de todos e com as escamas mais reluzentes. Sua cabeça era tomada por uma galhada de respeito, e os olhos eram dourados, os quais já encaravam o minúsculo rapaz, ao lado de seu dragão, que não era maior do que um cavalo.

— Guardião — disse o dragão, após pousar — você foi chamado aqui, pois deve saber que estamos passando por um momento difícil. A ordem dos necromantes caiu, atacada por um de seus aprendizes. O rapaz é extremamente perigoso, e quero que fique de olho, caso alguma coisa aconteça. Depois dos necromantes, ele pode vir atrás dos guardiões. Qualquer cuidado é pouco.

— Me desculpe, Syli, mas o que é a ordem dos necromantes? — perguntou Aron, encarando o gigantesco dragão em seus olhos dourados.

— Eles são sete necromantes, a serviço de nossa Rainha. Até mesmo entre eles, estava seu irmão mais velho.

— Espera, você disse que eles são sete?!

— Sim — Syli franziu os olhos, e então perguntou. — Você sabe de alguma coisa?

— Não, não mesmo. Não sei de nada.

— Garoto, você está mentindo.

— Não estou não, é que...

— Eu sei sobre sua incursão de ontem à noite. Devo dizer que você foi deveras imprudente.

— Mas, como...

— Eu sei quando um de meus protegidos sai para cumprir um dever com o guardião. Agora, espero que isso não se repita, pois se o mundo descobrir sobre nós...

— Sei, é perigoso e eles não entenderiam. Todo mundo parece querer falar a mesma coisa.

— Você é um guardião, Aron. Então deve agir como tal. Lembre-se, eu já lidei com um guardião antes. Sei muito bem quão teimosos vocês podem ser — Syli abriu as asas, que quase cobriram o anfiteatro inteiro. — Antes que você vá, espero que tome cuidado. Não sabemos do que esse rapaz é capaz, ou do que ele está atrás.

Assim, Syli levantou voo, subindo até o teto da torre e saindo por uma gigantesca passagem. Aron ficou olhando para cima e, assim que o dragão não era mais visto, foi para o lado de fora. Ali, ao lado de uma estátua que representava uma mulher de chifres, Aron encostou em um parapeito, para encarar uma longínqua floresta. Do nada, Kyra chegou perto dele e colocou a cabeça em sua mão, pedindo carinho para o rapaz, o qual prontamente atendeu:

— Eu sabia que ele tinha alguma coisa, Kyra. Ele está envolvido com esse homem, por isso que ele recebeu aquela mensagem — a draga soltou um grunhido, como se tentasse falar. — Emma vai cair para trás, aposto que ela também foi chamada. Aí vai entender o que eu quero.

— Não busque justiça com as próprias mãos garoto.

Aron virou com tudo, quando ouviu aquela voz:

— Olá Dochard, eu só estava...

— Eu sei o que estava pensando — o senhor ficou ao lado de Aron e Kyra, perto do parapeito — Vocês são todos iguais. Todos os guardiões que vi, em meus anos de serviço, parecem que nascem com a realeza inteira na barriga.

Dochard era um senhor sereno, de pele negra e poucos cabelos. Ele usava uma túnica branca, que cobria todo o seu corpo:

— Dochard, eu sinto muito por seu irmão.

— Silas sabia o perigo de acolher o rapaz, mas, mesmo assim o fez. Eu não sinto tanto a morte dele, faz muitos anos que não vejo minha família, então, para mim, eles são apenas um eco distante, assim como a floresta dos mortos.

— Mas, ele era seu irmão.

— Sim, era. Mas, assim que eu assumi meu posto e ele o dele, não somos mais nada, não tínhamos mais nada. Meu rapaz, eu tinha a sua idade quando me separei da minha família. A Rainha não era mais nada do que uma criança, quando eu parti.

— E então, por que você partiu? Para ficar em uma biblioteca.

— Não, meu rapaz, para proteger o conhecimento. Falando em conhecimento... — Dochard tirou um livro de capa preta de dentro de suas vestes, e então o entregou a Aron.

— O que é isso? — Aron foleava o livro, o qual possuía todas as páginas em branco.

— É um livro que só necromantes podem ler. Eu iria dar para meu irmão, mas nunca tive a oportunidade. Agora estou passando para você, para dar ao seu namorado.

— Como você sabe que Felipe é um necromante?

— Quando você está na biblioteca, não para de falar dele. Isso é a pior parte de se ter uma memória como a minha, lembro que palavra — Dochard se afastou do parapeito e começou a andar. — Agora, eu devo voltar a meus afazeres, tenha um bom dia, Guardião. Só tome cuidado com a beirada, elas estão soltas. Não quero que cai no rio lá embaixo. As coisas ali dentro podem ser esquecidas para sempre.

Assim, Aron ficou ali, olhando aquela figura desaparecer pelas escadas:

— Kyra, acho que está na hora de ir. Devemos contar o que sabemos para os outros, e eu não sei como Felipe vai reagir ao presente.

Assim, Aron subiu em Kyra e os dois partiram em direção à colina.

Os Guardiões: Parte I - Correntes de FogoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt