VI: Grimório dos Necromantes

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Felipe foi pego de surpresa, ali, lendo seu livro, deitado em sua cama. A porta foi escancarada com tudo por Aron, que não pediu licença:

— Eu preciso que você venha para o esconderijo, agora! — Aron parou imediatamente, ao ver o namorado parado no meio do quarto, extremamente assustado. Assim, ele o abraçou, lhe pedindo desculpas.

— Está bem, porque essa pressa toda? — Felipe se desvencilhou do namorado e já caminhava em direção a um armário.

— Eu estava certo!

— Sobre? — desinteressado, Felipe colocava uma jaqueta.

— Sobre Hector!

— De novo com isso, Aron? — os dois rapazes se viraram para a porta, onde Emma se encontrava, escorada no batente.

— Como você sabia que eu estava aqui?

Emma apontou para a janela, onde um trio de pombos olhava para dentro:

— É sério isso? Eu não posso ter privacidade no meu próprio quarto? — disse Felipe, caminhando em direção à saída e sendo acompanhado de Aron.

— Eu quis ter certeza que Aron estava aqui. Pois sempre que pedem para eu encontrar com vocês, os dois demoram demais — quando estavam saindo do alojamento, e andando pela gigantesca praça central do campos. Emma se virou para Aron. — Você também recebeu um chamado?

Aron concordou com a cabeça, mas não disse mais nada, até que o grupo alcançou a biblioteca e subiu ao terceiro andar:

— Então, o que era tão importante assim? — perguntou Emma.

— Bom, eu sabia que Hector tinha algo de estranho. Lembra da mensagem que eu li, no e-mail dele? — os outros dois permaneceram calados, prestando atenção. — Então, quando eu recebi o chamado...

— Você não quer dizer que aquilo tem a ver com a morte dos necromantes, quer? — se precipitou Emma.

— Espera, eu sou o único que não sabe o que está acontecendo?

— Quando eu fui chamada, Felipe, me falaram que uma ordem de necromantes foi morta por um dos seus aprendizes. O irmão da Rainha estava no meio das vítimas. Eles ainda não sabem o que o rapaz quer. Eles eram sete necromantes.

— Encaixa com a mensagem, não é? — Aron parecia uma criança, explicando uma descoberta para os adultos.

— Sim, encaixa, mas isso não explica o que o seu chefe tem a ver com isso. Você mesmo disse que ele não é como nós... — Emma parou de falar bruscamente. Seu olhar focava o corredor atrás de Aron, como se algo invisível existisse ali.

— Emma, está tudo bem? — Aron se virou, mas não viu nada no corredor.

— Sim, está... eu pensei ter ouvido... bom, era só isso que você queria dizer?

— Não, eu já ia me esquecendo — Aron tirou a mochila das costas. De lá de dentro, tirou o livro de capa negra e entregou a Felipe, que imediatamente começou a folheá-lo. — Dochard me deu esse livro, mas eu não posso ler ele.

— Você se esqueceu como se lê? — Emma revirou os olhos e se virou para o primo, que estava totalmente atônito. — Felipe?

— Eu não quero isso. Devolve já! Eu não quero!

— O que foi?

Emma pegou o livro das mãos de Felipe e começou a folear suas páginas. Como encontrou um livro sem nada escrito, se voltou para o primo novamente e perguntou:

— O que tem demais com isso? Não tem nada escrito.

— Como assim?! Vocês não veem?

— Não! — Aron e Emma disseram ao mesmo.

— As palavras na primeira página, vocês não viram?!

— Felipe, não tem nada aqui — Emma olhava para a primeira página, a qual estava completamente em branco.

— Como não, olha aqui, está dizendo meu nome e que eu seja bem-vindo! — Felipe arrancou o livro da mão da prima e mostrou a primeira página para os outros dois. Esses, confusos, olharam para a página em branco e depois se entreolharam

— O que mais tem escrito aí? — perguntou Aron.

— Mais nada, só me dá as boas-vindas e me chama de necromante... espera, tem alguma coisa sendo desenhada.

— Como assim?!

— É um prédio abandonado, não muito alto...

— Espera — Aron voltou a mexer na mochila, e de lá pegou um caderno de desenhos e um lápis. — Descreve melhor para mim.

— É um prédio rodeado por tapumes. As janelas estão com tábuas...

Enquanto Aron desenhava, Emma olhava por cima do ombro do rapaz, enquanto o local tomava forma. Assim que o desenho estava quase completo, Emma arregalou os olhos. Ela conhecia aquele lugar:

— Isso não é muito longe! É a aquele lugar que iria ser uma clínica, mas os donos não tiveram dinheiro. Sabe a construtora dos gêmeos? Isso foi um escândalo, anos atrás.

— Não tem mais nada no desenho? — Aron olhava para o namorado, que já havia fechado o livro, e negava com a cabeça baixa. — Mas o que tem de importante nesse lugar? Ele não está interditado há anos?

— Aron, eu acho que você vai querer ver isso — Emma olhava para a tela do celular, tão espantada quanto o primo ao ver o livro. Em seguida, virou o aparelho para o amigo, que imediatamente soltou um sorriso de satisfação.

— Eu sabia! — na foto que era mostrada, dois homens, idênticos, estavam ao lado de Hector, em frente a um prédio em construção. — Eles estão juntos, várias das doações vieram da construtora dos Kenar. Se tem alguma coisa lá, eu devo ir!

Aron já se virava para a saída, quando Emma o segurou pelos ombros:

— Eu não vou deixar você ir sozinho. Não quero um dragão destruindo um prédio no meio da cidade. Vou com você — Emma olhou para o primo, que continuava encarando o chão, com o livro em mãos. — Felipe, você também vem?

Felipe demorou para olhar para a prima. Mas, quando o fez, concordou com extrema má vontade:

— Está tudo bem. Não vai acontecer nada, se você ver alguma coisa lá, a gente desiste na hora — Aron estendia a mão para o namorado, esperando que ele tomasse coragem.

Felipe aceitou e então os três saíram do esconderijo. Lá fora, a noite já tomava conta, quando o trio ia em direção à saída do campus da faculdade

Os Guardiões: Parte I - Correntes de FogoWhere stories live. Discover now