XX: O Nascimento de um Anjo

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Seu corpo parecia mais pesado a cada segundo, como se afundasse em águas profundas. A cada momento, mais escuridão abraçava Emma, deixando a praça esfumaçada para trás. Quando parou de cair, a moça se encontrava em um beco. A alguns metros à sua frente, um jovem estava encolhido. Quando se aproximou, viu que se tratava do Anjo. Ali, ele estava indefeso, todo ensanguentado. Ela podia sentir sua dor. Cada ferimento em sua pele, cada osso quebrado. Mas, o mais sufocante, era o beijo da morte, que se intensificava cada vez mais em torno daquele pobre rapaz. Eventualmente, seus olhos azuis perderam o brilho, banindo Emma de volta para a escuridão.

Não demorou muito, a moça foi parar em outra visão. Agora, o rapaz estava deitado em uma mesa. Emma conseguia sentir o esforço que ele fazia para se movimentar. Seu rosto tinha aquela expressão congelada, e seus olhos pediam que a dor terminasse, que alguém o colocasse de volta nos braços da morte.

Depois o lugar a sua volta mudou mais uma vez. Agora os dois estavam em uma caverna, iluminada por velas com chamas azuladas. Várias pessoas proferiam um encantamento, formando um círculo em volta do rapaz nu ao centro. A visão terminava e depois recomeçava, bem no ponto que o rapaz sentia o fogo lhe queimar a pele. Porém, a cada vez que a visão se repetia, mais Emma podia sentir a liberdade do rapaz.

Quando a visão mudou novamente. Emma pôde ver o Anjo sentado ao chão. Ele conversava com alguém, mas ela não conseguia ver quem era. Porém, de repente, o quarto começou a desaparecer. O teto deu lugar a um céu totalmente escuro, sem nenhuma estrela sequer. Ao redor, existiam habitações feitas com poucos recursos. Todas as pessoas que andavam para lá e para cá, vestiam roupões vermelho e pareciam ocupadas. O Anjo, se levantou e Emma imediatamente o acompanhou.

Ninguém parecia ver os dois, como se não fizessem parte dali.

O Anjo chegou até um enorme portal, delimitado por duas estátuas gigantescas. Era a representação de uma mulher e um homem, tão imponentes quanto a altura do monumento propiciava. Do outro lado do portal, se podia ver um castelo esculpido ao longo de uma montanha. O Anjo encostou no portal, mas não o atravessou, ao invés disso, se voltou para Emma e disse:

— Esse é o futuro que tanto vi. Essa é a morte do mundo. Você não vê? Aqui a humanidade pode renascer, se tornar algo a mais.

— O que aconteceu?

— Guerra. Destruição. Morte. O de sempre. Mas, com o sangue daqueles que morreram, uma proteção irá ser colocada e a humanidade irá renascer, quando o mundo se curar.

— Quem são esses dois?

— Uma guardiã e seu marido. Ela é a rainha desse novo mundo. Foi ela quem criou tudo isso.

— Mas, eu não entendo. Por que você quer o mundo assim?

— Pois o nosso mundo está quebrado. Você viu minha morte. Eu fui estúpido. Me declarei para alguém que não estava disposto a me amar, que me achou uma aberração. E o que os humanos fazem com suas aberrações? Eles a matam. Aniquilam. Foi além da dor que percebi que eles têm medo, foi na morte que encontrei uma nova vida. Temem o diferente, aquilo que coloca em contradição a verdade que acreditam. Ou que inventaram para acreditar.

— E você resolve isso como, matando as pessoas?

— Não, eu as libertei — o Anjo rodeou Emma, até que ficou atrás dela e colocou as mãos em seus ombros. — Como eu fui liberto quando morri. Eu tive acesso a tanto conhecimento.

— Mas, eles são inocentes. Não tem culpa do que aconteceu com você.

— Não, minha cara. Todos são culpados, ninguém é inocente. Nem mesmo você.

O Anjo começou a sufocar Emma. Ela tentou revidar, mas seus poderes não funcionavam ali. Então, tudo o que podia fazer,era tentar gritar por socorro e se livrar daquelas mãos que a sufocavam.

Os Guardiões: Parte I - Correntes de FogoWhere stories live. Discover now