XII: Ninho de Cascavéis

386 56 10
                                    

— Onde será que ele está? — Amélia olhava para a multidão lá fora, enquanto Aron jogava em seu celular, alheio ao que acontecia.

— Não sei, apenas se atrasou.

— Mas, ele nunca se atrasou para um comício, ainda mais o último, antes da eleição.

— Talvez ele desistiu — Aron disse baixinho, sem ao menos tirar os olhos da tela do celular.

— Se ele tivesse desistido, garoto, ele faria isso na frente de todo mundo — Morgan apareceu atrás do rapaz, o qual congelou por completo. — Agora, para de jogar nessa coisa e vai ver com o pessoal se o som está pronto.

— Sim, Morgan.

Aron resolveu obedecer, ou fingir que o fazia. Fechou o jogo, colocou o celular no bolso e se dirigiu para mais dentro dos bastidores. Enquanto passava pelos funcionários da campanha, viu que a preocupação estava estampada em cada um deles. Amélia não era a única que estranhava o atraso de Hector.

O rapaz, ao invés de ir ver a equipe de som, foi para fora da tenda, feita para abrigar a equipe do candidato. Aron se encostou em uma parede e ficou olhando as pessoas que já se reunião, esperando o comício começar. Logo, ele viu Emma andando pela plateia, o olhar dois se encontraram, mas a moça desviou e continuou andando até a plateia, sem ao menos responder o cumprimento do amigo. Desconcertado, Aron olhou para outra direção, bem no momento que viu Hector a um canto escuro, parado e sem reação. O rapaz apertou os olhos, para ter certeza se era realmente aquilo que estava vendo.

Hector estava com os olhos arregalados, com as mãos paralisadas e os dedos endurecidos. Aron começou a andar em direção a ele, mas algo parecia não estar certo, suas pernas também ficaram paralisadas. Quanto mais o rapaz tentava andar, mais era impossível se mexer. De repente, um zunido alto invadiu seus ouvidos. O rapaz os tampou e fechou os olhos. Porém, de forma tão súbita quanto antes, sua sensação de aprisionamento se dissipou:

— Você não deveria estar lá dentro?

Quando a visão de Aron focou, Hector estava há poucos metros dele, o encarando com uma expressão impaciente:

— Sim, acho que sim.

— Vem, está na hora de começar.

Hector foi andando na frente. Aron ficou ainda alguns segundos parados, tentando entender o que acabara de acontecer, antes de acompanhar o candidato. Assim que voltou para perto do palco, Aron se postou novamente ao lado de Amélia, enquanto assistia o comício começar.

O discurso do candidato, de início, foi normal, cheio de promessas e galanteios. Mas, ao longo do comício, algo mudou em Hector. Quando começou a falar de sua rival, Mônica, não poupou os xingamentos. Sua fala passou a ser extremamente furiosa. Da plateia à equipe, todos estavam desconcertados com as palavras ditas pelo candidato.

De repente, como se estivesse acordado de um pesadelo, Hector parou com tudo no centro do palco. O silêncio constrangedor atingiu a todos. O candidato encarou cada um dos eleitores. Em seus rostos existia a mesma expressão, ora de vergonha, ora de confusão. Hector procurou os olhos de Morgan, ao pé dos bastidores. Sem dizer nada, nem ao menos as costumeiras gratidões vazias, soltou o microfone e correu ao encontro da secretária.

Do nada, um funcionário, avisou à multidão que o comício tinha chegado ao fim. Nem mesmo seus agradecimentos conseguiram acalmar ninguém, nem a si mesmo. Porém, a multidão logo se dispersou.

Enquanto isso, Hector e Morgan cochichavam um com o outro. Os funcionários que os rodeavam, assustados, encaravam os dois, esperando qualquer ordem. Morgan percebeu isso, tomou a dianteira e então disse rispidamente:

Os Guardiões: Parte I - Correntes de FogoWhere stories live. Discover now