IV: O Chamado dos Dragões

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Viaturas se encontravam na frente do prédio. Aron passou por elas rapidamente, mostrando um pouco de culpa. Quando chegou na frente do elevador, se emparelhou com uma moça que se escondia atrás de seus livros:

— Você sabe o que aconteceu? — a moça falava tão baixo que Aron quase não percebeu sua pergunta.

— Não sei! — respondeu rapidamente, como se ela o acusasse de algo.

— Aron, você está bem?

— Sim, Amélia, estou bem... um pouco cansado... só isso...

Amélia apenas fez um gesto tímido. Assim que o elevador chegou, ela e Aron entraram. Enquanto subiam, os dois olhavam para frente, sem ao menos conversar mais. A moça, ficava mordendo os lábios, e tinha o corpo enrijecido, como se qualquer ato seu pudesse trazer alguma vergonha. Quando chegaram no andar que queriam, ela saiu do elevador rapidamente, deixando Aron para trás. O rapaz parou por alguns segundos na frente da grande foto na parede. Quando olhou para o lado, um mecânico mal-humorado arrumava o sensor de movimento.

Depois de tomar um pouco de coragem entrou no escritório, onde Amélia já havia sumido há muito tempo. O lugar agora estava lotado. Pessoas vinham de uma lado para outro. O barulho dos teclados e conversas enchia o ambiente. Aron, paranoico, cumprimentou algumas pessoas no caminho, como se qualquer gesto dele pudesse revelar algo.

Assim que sentou em sua mesa, encarou a sala ao fundo do escritório. As persianas estavam fechadas e a secretária Morgan não era vista em sua mesa, ou em lugar nenhum. Antes de ligar o computador à sua frente, olhou ao redor e percebeu que Amélia, sentada não muito longe o encarava. Assim que seus olhos se encontraram, ele percebeu o momento em que ela desesperadamente desviou o olhar. Aron não ligou, apenas se concentrou em fazer o seu trabalho, naquelas inúmeras e cansativas planilhas.

A cada minuto que passava o nervosismo o atingia, e mais difícil era se concentrar. De tempos em tempos, ele discretamente olhava para a sala de seu chefe, a qual ainda permanecia com as persianas fechadas. Porém, em uma das olhadas ele viu o exato momento em que pessoas saíram de lá de dentro. Principalmente uma figura aterradora. Uma que o fez se voltar com tudo para o computador à sua frente. A mulher, em seus mais de quarenta anos, andava na direção de Aron. Seus cabelos negros, estavam domados por um rabo de cavalo. As roupas sóbrias, combinavam com a pele morena. O distintivo, preso ao cinto. Aron, mesmo olhando para o computador, podia sentir cada passo dela. "o que ela está fazendo aqui?! O que ela está fazendo aqui?!", pensava, enquanto fingia que trabalhava. De repente, sentiu braços o envolverem, o tirando do conforto de sua mesa:

— Meu filho lindo!! — a mulher abraçou Aron com muita força, o que fazia as pessoas do escritório olharem por um segundo e soltarem um risinho contido.

— Oi mãe! — a cada beijo dela, Aron se encolhia.

— Deixa o menino, Sara, está fazendo ele passar vergonha — quando Hector chegou perto deles, Aron ficou ainda mais nervoso.

— Mãe, o que você está fazendo aqui? — Sara finalmente o soltou, dando espaço para que ele respirasse.

— Ontem à noite invadiram o escritório de Hector. Ele me pediu para ajudar, caso meus policiais saibam de alguma coisa. E você, o que estava fazendo ontem à noite?

— Eu... eu — Aron suava tanto, que parecia que seu corpo o queria entregar.

— Não precisa falar, eu já sei.

— Como assim! Quê?!

— Não precisa mentir, ou ficar com vergonha — Sara fitou a expressão de susto de Aron, que estava congelada em seu rosto. — Eu sei que você estava com um certo rapaz loiro.

— Ah... é claro... eu... eu...

— Vamos Sara, acho que você já fez o rapaz passar muita vergonha — Hector foi andando em direção à porta, tentando levar Sara consigo.

— O que foi? Não tem problema o que ele estava fazendo.

Aron estava tão atônito, que apenas queria se esconder embaixo da mesa. Quando a mãe lhe deu um último beijo de despedida, ele apenas soltou um sorriso nervoso e a ficou olhando partir, juntamente com seu chefe. Apenas voltou a si, quando alguém chamou sua atenção:

— Garoto, não está me escutando?

— Sim, claro, desculpa Morgan.

— Eu quero que você me entregue as planilhas sobre as despesas da campanha, até amanhã, me escutou? Eu não vou aceitar mais atrasos. Não é porque você é filho da amiga do chefe, que eu não posso tirar você da campanha.

— Sim, Morgan. Me desculpa, eu já estava terminando.

Assim, sem mais nem menos, Morgan foi até outro funcionário. Aron não sabia do que tinha mais medo, de ser descoberto ou da secretária. Afinal, quem ali, dentro daquele escritório, não tinha medo da secretária? Ela sempre tinha aquela cara fechada, que deixava suas rugas ainda mais evidentes. Morgan, a todo momento, fulminava as pessoas com aquele olhar, sendo esse a origem de seu respeito.

Aron então voltou a se sentar, mas assim que o fez, outro acontecimento o impediu de continuar seu trabalho.

Os ouvidos do rapaz se encheram de um zunido forte, que, com o tempo, se transformaram em rugidos agudos. Assim que fechou os olhos, ele viu outro lugar, cheio de criaturas gigantescas e com chifres. Elas chamavam por ele.

"Agora não!" pensou, assim que abriu os olhos. Mas, como se pudessem ler seus pensamentos, os rugidos ficaram ainda mais fortes.

Aron então se levantou e foi até o banheiro, no corredor de entrada. Ele lavou o rosto e criou um plano em sua mente. Então, voltou para o escritório, mas, ao invés de ir para a sua mesa, foi em direção a Amélia, que, assim que percebeu sua presença, ficou extremamente vermelha:

— Amélia, você poderia me ajudar em uma coisa?

— S – sim, o – o quê?

— Eu tenho que sair agora, você poderia falar para a Morgan. Dizer que tive um imprevisto na faculdade? É importante. Eu só não falo, porque ela já me deu uma bronca hoje, e você como ela é. Ela gosta de você.

— Faço sim.

— Muito obrigado, fico te devendo uma.

Amélia tentou falar mais coisa, mas Aron já havia ido embora.

Na rua, Aron desviava das pessoas, enquanto andava rapidamente. Assim que chegou no metrô, impacientemente esperou na plataforma. Depois de algumas estações desembarcou e correu em direção à saída. Assim que estava na rua novamente, agora em um bairro mais residencial, foi em direção a uma das casas. Parou em frente de um sobrado, e entrou. Era uma casa charmosa, com um jardim bem cuidado. Assim que entrou em sua casa, fechou a porta com tudo e foi em direção a seu quarto. O lugar era pequeno, mas bem decorado. Aron tirou o tapete do chão, revelando assim, um pentagrama desenhado no piso.

O rapaz se postou em cima do pentagrama e fechou os olhos. Em pouco tempo, o quarto foi envolto em uma ventania sobrenatural. De repente, Aron sumiu do nada, deixando o quarto intacto, como se nada tivesse acontecido, ou alguém ali tivesse passado.   

Os Guardiões: Parte I - Correntes de FogoWhere stories live. Discover now