Rabiscos do meu passado.

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Capítulo dois


Youngjae cruzou a porta da sala ainda um pouco sonolento, mesmo que tivesse acabado de caminhar por alguns minutos em um clima frio e tomado alguns goles de café. Mark estava ao fundo desenhando alguma coisa em um caderno pequeno, e nem mesmo percebeu quando o novo amigo desanimado entrou na sala. Youngjae fitou o restante dos alunos, percebendo que os mesmos grupos que já estavam montados pela manhã permaneciam com sua mesma formação. Jaebum continuava isolado no canto, perto da janela, ouvindo música com seu fone de ouvido branco e tamborilando os dedos na mesa de madeira. Os olhos negros fitavam com afinco algo do exterior, e mesmo muito curioso em saber o que Youngjae simplesmente foi até a carteira vaga em frente ao americano.

— Oh, você chegou Youngjae! — Mark sorriu, tocando as bochechas coradas do amigo. — Seu rosto está inchado, estava dormindo?

— Eu tirei um cochilo — murmurou sorrindo fraco, deixando de lado sua bolsa. — O que está fazendo?

— Desenhando no meu sketchbook — Mostrou a capa preta do caderninho decorada com várias pétalas rosa em aquarela. — Fazia um bom tempo que eu não terminava algum, então decidi finalizar logo esse que já está no final.

— O tema é flores? — Questionou curioso.

— Sim — Assentiu animado, folheando algumas páginas e mostrando os traçados suaves e bonitos. — Acho que estamos em um bom clima para desenhos e café, então estou animado em finalizar outro desses aqui.

— Faz um bom tempo que eu não desenho também — Suspirou. — Às vezes sinto falta.

— Compre um desses, não vai se arrepender. Perto da faculdade, em uma papelaria que fica bem no centro, vendem por um preço bom, acho que você consegue vários desse e ganha um desconto.

— Vou pensar melhor sobre isso depois hyung — Sorriu.

Mark assentiu e voltou a desenhar, imerso nos riscos que traçava com tanto cuidado e paciência. Youngjae passou a observa-lo em silêncio, sentindo saudades de quando também passava horas rabiscando em seu próprio sketchbook — coisa que por mais simples que fosse, o acalmava de uma maneira incrivelmente prática, superando certas vezes até o poder da música. Certamente mais cedo ou mais tarde acabaria seguindo o conselho do mais velho e compraria outro caderno sem pauta para si, aproveitando-se do tempo livre da faculdade e dos amigos e parentes para sentar-se perto de alguma janela e traçar qualquer coisa que o viesse em mente no momento. Mesmo que negasse, Youngjae nunca iria conseguir resistir a saudades de algo ou alguém.

Antigamente era um costume seu desenhar pessoas. Ia de estranhos até familiares, deixando suas impressões em folhas com gramatura alta. Sua mãe costumava dizer que os desenhos nunca eram idênticos aos modelos originais porque Youngjae sempre desenhava as pessoas do jeito que ele as via, e não da forma que elas realmente eram. Por um tempo isso atormentou o Choi, que deixou de desenhar por semanas pensando que estava sendo arrogante demais em seus esboços. Entretanto, Yugyeom lhe explicara que aquilo era ser um artista; retratar o mundo como o via, e não como ele realmente era representado para todos.

Com essa lembrança em mente passou a observar Mark. A áurea dele era calma e pacifica, tranquila e também de fácil convivência, digna de alguém que mostrava a vida acontecendo nos olhos. O americano era uma pessoa de sorriso fácil, amigável e de beleza extraordinária, sempre mantendo a postura fina. Com essa imagem acolhedora dele, Youngjae provavelmente faria riscos suaves e pouco marcados, deixando apenas os olhos em evidência. Também usaria de cores pasteis caso quisesse pinta-lo, talvez uma hora ou outra arriscando alguma aquarela para detalhar bem a cor clara e leitosa que cobria Mark. Seria provavelmente um dos desenhos mais bonitos do Choi, que já estava muito acostumado a desenhar pessoas mais extravagantes e alegres, como Yugyeom por exemplo, que sempre era retratado com um amarelo berrante.

Absorto em vocêWhere stories live. Discover now