Cicatrizes em tons pastéis.

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Capítulo quinze


Bambam abriu os olhos preguiçosamente, um formigar estranho em seu braço direito o incomodando assim que recobrou os sentidos. O teto de cor clara mostrava a monotonia dos dormitórios, entretanto aquele quarto em especial não era seu — não podia ser, havia um pôster de uma banda japonesa que ele nunca vira na vida pregado ali. Seu pequeno corpo era envolvido por duas massas de calor tranquilizadoras, uma delas notavelmente mais intensa que a outra. Um roncar baixo fazia cócegas em seu ouvido direito, enquanto que um ressonar sereno ressoava próximo ao outro, quase como um assovio calmo de um pássaro pequeno. O perfume suave e característico de Jinyoung atiçou-o por um momento, o sentimento tranquilizante lavando cada poro aberto por um outro perfume, esse mais forte e amadeirado, que dizia o nome de Jackson sem precisar de palavras. As lembranças da noite passada voltaram de repente, a consciência voltando a funcionar como deveria. Afinal o que Bambam estava pensando em ir até o quarto de ambos dessa forma, intrometendo-se na vida deles? O tailandês tinha dito que se manteria distante, que mudaria seu jeito de ser, então por quê? Talvez estivesse sendo idiota, mas ele sequer se lembrava do momento em que decidiu sair do próprio quarto e rumou até outro, apenas o fez e agora estava ali entre os dois.

Quando finalmente caiu em si, vendo a encruzilhada em que se metera, tentou a todo custo sair do aperto aconchegante sem causar muito movimento, entretanto Jackson tinha os reflexos de um gato jovem e o enlaçara com os braços fortes, usando-o como um travesseiro fofinho e confortável. O perfume intenso dele impregnou em cada pedacinho da mente de Bambam, e isso o fez vagar pelo seu subconsciente recheado de memórias boas e sorrisos verdadeiros. Em contrapartida, ao ser agarrado como um peso leve, Jinyoung por puro instinto se aninhou mais ainda em si, roçando seu nariz nas bochechas avermelhadas e quentes do tailandês, estranhamente gostando da sensação macia e quentinha próxima a sua pele, não demorando em chegar cada vez mais perto. Ao contrário de Jackson, a presença de Jinyoung acalmava Bambam rapidamente, o relembrava de uma calmaria com cheiro de chuva no final da tarde, uma xícara cheia de chá fumegante e carinhos manhosos. Nunca tinha parado realmente para perceber, mas Jinyoung era alguém que o causava muita coisa mesmo sem tentar, e se o fizesse provavelmente o resultado seria semelhante a todos os que Jackson conhecia.

Bambam não era um garoto realmente apegado, e se por acaso se tornasse por alguém já tinha a total certeza de que estaria completamente ferrado. Eram raros os casos em que se via sorrindo facilmente para qualquer um, que se permitia compartilhar de sentimentos mais íntimos, coisas mais sérias e discussões importantes. Geralmente agia como todo ser humano devidamente educado agiria: com um sorriso de lado meio desconfortável, os olhos transbordando ansiedade e um medo reconhecível a qualquer um, cumprimentaria quem quer que fosse e caminharia em direção ao nunca mais, acenando com vontade para o recém-conhecido. Contudo com Jackson e Jinyoung as coisas não andaram por esse caminho. O chinês havia despertado muito mais que curiosidade na mente fértil e jovem de Bambam, ele trazia uma estranha sensação de calma que o abraçava de maneira quase que única, mas ao mesmo tempo em que o tranquilizava Jackson também conseguia intensificar tudo que sentia de seu jeito. Já Jinyoung, com sua educação fora do normal, era a serenidade em pessoa, e não o deixava com os hormônios a flor da pele em nenhum momento — e isso não era ruim, não queria dizer que não o achava atraente ou desejável, apenas não se sentia tão extremo assim, tão radical.

Ambos, sendo completos opostos, tinham captado o melhor e pior de Bambam, e ele por sua vez não tinha deixado de notar nenhum detalhe, havia anotado tudo mentalmente e pretendia usar cada uma de suas anotações para conseguir escapar das teias de sentimentos que se formavam dentro de seu peito. Não era nenhum idiota, sabia que estava sendo acolhido pelos braços gentis do coreano porque esse não queria o ver triste, e Jackson provavelmente só o fizera por pena. Era impossível pensar quê, mesmo sendo amigo dos dois, eles sorririam e dividiriam um espaço pessoal tão facilmente assim. Bambam não se lembrava de muita coisa depois de entrar com os pés nus no quarto quente, só recordava-se da sensação de ser observado de um jeito diferente — e mal saberia dizer quem estava o olhando dessa forma. De alguma forma, mesmo não querendo visualizar mentalmente nenhuma cena parecida como esta, ele alimentava dentro de si a ideia de que Jinyoung e Jackson estavam internamente rindo de si e de suas fraquezas.

Absorto em vocêWhere stories live. Discover now