Absorto na dor.

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Capítulo vinte e dois


Youngjae olhava pela janela do ônibus enquanto se botava a pensar sobre um assunto que o atormentava desde que descobrira mais um pouco de Jaebum por conta da mãe dele. Não sabia se era sensato de sua parte pergunta-lo tão diretamente, mas porque a mente absorta nele — e apenas nele — precisava de respostas coerentes e diretas, ele achou que era melhor não enrolar. Virou-se um pouco de lado e fitou a face despreocupada do mais velho encarando aquele livro antigo que encontraram entre as malas, e aproveitando-se de que estavam na última fileira e quase ninguém estava dentro do ônibus — apenas alguns garotos estranhos mais a frente —, Youngjae perguntou:

— Como você superou sua depressão, hyung?

Jaebum por um momento pensou ter ouvido errado, mas abaixou o livro em seu colo e fitou Youngjae seriamente. Não entendia muito bem como o mais novo tinha chego a tal suposição, não tinha dado evidências para isso, mas agora que já estava bem mais confortável com ele não sentia que era de todo ruim se abrir mais um pouco. Fechou o livro e o deixou na cestinha da cadeira em frente, sua mente trabalhando para explicar de uma maneira coerente e tranquila por tudo que já tinha passado quando mais novo. Youngjae era uma pessoa muito inteligente, isso era um fato, mas esse fato não dava aberturas para tratar de um assunto tão delicado com ele — que também sofre da doença — de uma forma tão cientifica e cheia de coisas já entendidas por uma maioria. Queria poder se expressar com palavras, com as suas próprias palavras, e não apenas ficar no comodismo de dizer que teve tratamento e que por conta dos remédios conseguiu melhorar. Jaebum sabia que não era tão simples assim, ele também sabia que Youngjae compartilhava do mesmo pensamento, entretanto não era fácil discutir sobre quando seu ponto de inicio já se assemelhava ao ponto final. Mesmo confuso, sorriu fraco ao fitar o rosto bonito e pequeno.

— Não sei te dizer exatamente como — deu de ombros — Começou em um verão e melhorou em outro, não foi rápido nem devagar. Apenas aconteceu.

— E você não toma mais remédios?

— Pode voltar a qualquer momento, mas eu não os tomo e não me lembro de ter dependido deles por muito tempo — murmurou — Não sou estável emocionalmente, mas de uns tempos pra cá tem sido muito mais fácil me encontrar tranquilo. Em casa eram muitos problemas, meu irmão era caótico e meus pais não podiam muda-lo por ser assim. Quando eu me mudei pra cá depois de finalizar o ensino médio as coisas melhoraram, mas ainda sim foi complicado.

— Só melhorou esse ano?

— Não, já deve fazer uns três ou quatro anos — sorriu — Não comecei a faculdade aqui, assim como você eu vim de outra e recomecei minha vida.

— Entendi — assentiu.

Jaebum também se virou para olha-lo, dessa vez um pouco mais tranquilo.

— Como tem sido?

— É melhor agora, acredite — sorriu — Antes eu me sentia preso a um sentimento que não me deixava, mas que eu também não queria que sumisse, porque na minha cabeça ele era a única coisa que eu tinha e eu não queria ficar sozinho. Minha psicóloga comentou um dia comigo, mas eu não tinha levado isso a sério até então: houve um tempo que eu não quis melhorar. Eu me acostumei com esse sentimento horroroso, essa falta de capacidade de compreender que eu fui importante para alguém um dia, e que ainda sou. No passado era comum eu não querer sair da cama, eu ficava dias estagnado em um mesmo cômodo porque não queria sair ou viver, eu não queria fazer nada fora dormir. Foi quando eu comecei a faltar as aulas, eu acho. Não queria nem mesmo a companhia de Yugyeom, e mesmo que eu o xingasse e apresentasse um comportamento agressivo ele sempre estava lá pra mim. Acho que foi por causa dele que eu me mantive tão são em alguns dias realmente caóticos, eu nunca sequer cheguei a tentar fazer nenhuma loucura apenas por me lembrar dele. Eu acho que porque eu estava tão solitário, tão sozinho, eu não queria que ele ficasse também, então eu me mantinha vivo. Foi quando eu conheci um garoto, ele tinha o mesmo nome que você.

Absorto em vocêWhere stories live. Discover now