Presas de gato.

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Capítulo três


Youngjae não sabia dizer se estava se sentindo estranho por estudar de costas para Jaebum enquanto ele estava deitado na cama ouvindo música ou se era apenas porque era sua segunda semana de aula e ele já estava com a cara enfiada nos livros, mas certamente era algo entre essas duas hipóteses. Tremia dos pés a cabeça, tanto de frio por conta da janela aberta permitir a entrada do vento noturno de forma gritantemente assustadora quanto pelo simples estremecer ao pensar quê, mesmo desejando justamente ao contrário, estava dividindo quarto com alguém que era uma incógnita para si. Não era uma pessoa crente, desacreditava de qualquer mito ou coisa relacionada à sorte, mas passava a entender quê, de um jeito ou de outro, algum destino esquisito o queria nessa situação constrangedora.

Gostaria de pedir para o atual companheiro de quarto fechar a janela, mas sempre que essa vontade o atingia o Choi pensava se talvez o vento frio não fosse de alguma ajuda. Afinal, ele estava ali, o relembrando da pele gélida, o mantendo preso no mundo real ao invés de simplesmente deixa-lo viajar por toda sua linha de pensamentos conturbados e nebulosos. Claro, também tinha o olhar de Jaebum, que hora ou outra era sentido em suas costas, mas isso era o de menos comparado à palidez que sua pele já esbranquiçada tomava por conta do vento que o acertava em cheio e fazia suas folhas voarem, mudando de página de um jeito meramente irritante. Youngjae estava com o corpo rígido e dolorido, mas era isso que o mantinha são.

Balançou a cabeça, tentando manter o foco no livro de história da fotografia que repousava em sua mesa de estudos. Separou alguns marcadores de texto, inclinado a apenas pensar sobre o estudo e terminar de antecipar as matérias que precisava. Ao dedilhar os dedos pequenos de pontas avermelhadas — estava realmente frio, Youngjae concluiu — ouviu um ranger assustador, tal como os de filme de terror, e não conseguiu evitar soltar um grito baixo de medo, fitando a janela com os olhinhos castanhos arregalados. Viu a figura grande de Jaebum em pé, abaixando a janela antiga e logo em seguida fitando a si de uma maneira entediada. O Choi não disse muita coisa, entretanto, estava muito assustado com o companheiro de quarto e suas atitudes impensadas.

— V-Você pode deixar ela aberta, se quiser.

Jaebum não o respondeu, apenas deu de ombros e voltou para sua posição inicial, deitado com parte das costas apoiada exatamente na junção das duas paredes e com seus fones de ouvido brancos nas orelhas. Ele fechou os olhos quase que imediatamente ao se chocar com o tecido grosso da cama, apoiando a cabeça na parede e dedilhando os dedos magros e longos em sua coxa grossa coberta pela calça jeans, divagando com a música para o que Youngjae naquele momento apelidara de "Mundo Absorto", esse que o Choi e ele pareciam conhecer e compartilhar bem demais para uma mera coincidência.

Pensar nisso fez Youngjae perceber que Jaebum também parecia muito distraído, principalmente nas aulas. Quando vez ou outra olhava para o mais velho, mais por curiosidade do que por interesse, o via fitando o pátio de maneira entediada, não usando os fones mas aparentemente cantarolando alguma música qualquer. Os cabelos negros caíam sobre os olhos, e de alguma forma isso só parecia aumentar o nível de tédio que a aparência de Jaebum sempre aparentava em horários como esse. Entretanto, na hora do intervalo ele parecia criar vida, sempre colocando seu fone de ouvido e vez ou outra saindo da sala rapidamente, voltando apenas em exatos dois minutos antes da aula começar novamente. Mark também tinha percebido que ele parecia sistemático demais para alguém de aparência tão largada, mas não comentou com Youngjae por medo de deixa-lo mais paranoico do que já parecia.

— Seu telefone está tocando — Sentiu a mão de Jaebum em seu ombro, o fazendo acordar.

— A-Ah, obrigado por avisar — Curvou-se envergonhado, procurando o telefone em cima da cama.

Absorto em vocêWhere stories live. Discover now