Díoltas

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Minha mãe costumava brincar dizendo que eu era o menininho do papai.

Não havia ciúmes, apenas divertimento e resignação em sua voz. Não que eu não amasse minha mam, eu a amava e a respeitava com todo o meu coração, mas eu era completamente louco por daidí desde que me entendia por gente.

Eu sofria mais quando ele estava longe, sempre tinha uma noção estranha quando ele estava perto de chegar em casa. Eu sentia quando ele estava triste, ou com problemas, de uma forma diferente.

Eu queria bem a todos, de verdade, mas quando era daidí, eu queria sempre ter certeza de que ele estava ali. Ficar longe dele havia sido a pior parte de ir morar com o meu avô. E pelo o olhar dele quando vinha me ver, a forma quase desesperada com que ele me abraçava, era algo mútuo.

Eu sempre tinha um medo quase irracional que ele um dia não ia retornar. Mentir pra daidí nos últimos anos havia sido a coisa mais difícil que eu já havia feito, mas a necessidade de o proteger dos meus problemas sempre ganhava.

Às vezes, eu tinha a noção estranha que na minha cabeça as relações se invertiam. Daidí não era mais meu daídí, mas alguém tão ou mais precioso.

Às vezes, quando eu olhava para daidí, eu via um sonho distante e estranho, de um menininho correndo uma colina enquanto eu observava de longe, escondido na floresta. Os cabelos ruivos ao vento, uma mulher o esperando na porta, olhando na minha direção com um olhar triste.

Eu via esse menininho crescendo de longe, e então...um corpo enrolado em um lençol, um anel ensanguentado no chão.

Essa visão sempre me fazia chorar.

............

INO NÃO QUERIA RIR. De verdade.

Sakura havia saído da cantina com Sasuke com uma cara tão esperançosa e Ino apenas sabia no que aquilo ia dar. E quando ela retornou ao quarto das duas com a expressão frustrada e confusa Ino apenas tentou não rir de imediato.

Sakura nunca aprendia a lição dela. Para alguém dita como genial, ela podia ser bem boba.

Ino segurou a risada enquanto fingia praticar sua meditação diária, mas ia ficando cada vez mais difícil a medida que a colega de quarto caia na cama e grunhia daquela forma, virando, parecendo querer perguntar algo, ou apenas descontar a frustração em algum saco de areia.

As duas eram amigas. Mais ou menos. Era complicado.

A verdade: Ino tinha uma queda em fazer amizade por pessoas com sérios problemas na cabeça. Talvez fosse um complexo seu de querer analisar e tentar consertar as pessoas que herdara do seu pai, um psiquiatra de primeira.

No começou havia ignorado isso, até perceber que havia se interessado pela complexidade de Sasuke Uchiha — o que havia gerado a briga com Sakura — até conhecer Sai, que era um ser mais complexo e problemático ainda.

Perto de Sai e — Deus o abençoe — Naruto, Sasuke Uchiha era completamente normal. São até.

Enfim, voltando a Sakura. Sua amiga-rival, colega de quarto, gênio por trás daquela testa e bipolar — clinicamente diagnosticada —, que estava perigosamente perto de ter um episódio naquele momento se não intervisse.

Sakura maníaca era um grande oh ho. Melhor evitar.

Por fim suspirou, tentando aparentar indiferença: —O que foi, Sakura?

Foi o que bastou.

—Eu nunca pensei que diria isso na vida, mas Sasuke é tão estranho.

SeachtWhere stories live. Discover now