Scáthanna

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Havia um recanto em minha mente para onde eu sempre fugia.

Eu podia apenas descansar minha cabeça, fechar os olhos e deixar de existir.

E isso me assustava tanto, porque sempre que eu ia para esse lugar, eu não queria mais voltar.

Não existir era tão mais fácil.

Viver era o mais difícil

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SASUKE LEMBRAVA DAQUELA FLORESTA. Era a mesma que visitava quando criança com o pai e o irmão para acampar. Lembrava das grandes sequoias que mudavam de cor naquela época do ano, das folhas secas que faziam barulho nos pés. De como sempre podiam cruzar o caminho com os mochileiros em certas épocas. Aquele cheiro sempre o acalmou. Havia algo na floresta que o fazia se sentir diferente.

Agora mesmo, estava deitado nas folhas, sentindo a terra nas mãos e nos pés descalços. Um barulho de pegadas lhe chamou atenção e levantou a cabeça devagar, porém alerta. Ah, lembrava daquilo. Do pelo vermelho, os olhos curiosos e inteligentes. Lembrava de ter 10 anos e ter se afastando um pouco do acampamento para pegar água em um riacho, apenas para se deparar com uma Raposa Vermelha pela primeira vez. Apesar dos avisos de seu pai quando se encontrasse com um animal selvagem, ela o deixou fascinado. Apenas ficou parado, a encarando, tentando não ceder a vontade de ir até lá. Os dois se encararam por muito tempo, até que o animal se foi sem mais. Desde esse dia percebera, mais do que decidira, que as raposas eram seus animais favoritos. Sentiam uma inclinação por elas, e por várias vezes depois daquilo se afastara do acampamento, tentando ter sorte novamente.

Lembrava do olhar de Itachi ao descobrir sua nova obsessão. Só agora entendia aquela pontada de tristeza nos olhos dele. Agora mesmo, olhando a linda raposa que o encarava conseguia sentir o mesmo. O pelo dessa não era vermelho, era dourado como as raposas do deserto. O tamanho também era diferente. Era bem maior que um lobo, e caminhava de forma orgulhosa, a cabeça erguida, os olhos azuis o fitando com algo que conhecia muito bem. Inteligentes, antigos. Doloridos.

Voltou a descansar a cabeça nas folhas, ainda virada em direção ao animal que após uma pequena pausa, checando ao redor, continuava a caminhar orgulhosa em sua direção. Não sentia medo, mas cautela. Sentia vontade, como anos atrás, de ir ao encontro do animal, afundar suas mãos no pelo, testar sua consistência, se era macio como parecia. Porém, ficou parado, sabendo que não devia ser ele a fazer a aproximação. Ele perdera esse direito, apenas sabia disso.

Apenas quando o belo animal estava ao alcance da sua mão, sentou-se devagar, em posição submissa. Os olhos azuis pareciam checá-lo, e, quando ergueu a mão devagar em direção ao animal, a deixando estendida em permissão, ele aproximou-se por conta própria, a cheirando, para então o deixar acariciar o pelo macio e quente. Quente e confortante. Seguro. Assim, de perto, via que os olhos tinham um brilho cinzento e algo nobre. Algo que reconhecia, no fundo sempre reconhecera.

Ficaram assim por algum tempo, até o animal se afastar, devagar. Ficou imóvel, até que a raposa parou perto das árvores, o encarando. Soube no mesmo momento que ela queria ser seguida. O fez, sem relutar.

Não soube quanto tempo passou, por vezes perdia de vista o pelo dourado por entre as árvores, apenas para encontrá-lo mais na frente. Tudo ao redor ficava mais escuro, mais profundo dentro das árvores. Uma névoa parecia vir do chão, e tudo ficava mais frio. Tremeu, sentindo-se grato quando ela voltou a se aproximar, o emprestando seu calor enquanto caminhava. Sons começavam a surgir ao redor. Como sussurros, que nunca pareciam audíveis o bastante para serem entendidos. E a sensação de que era observado era no mínimo enervante.

SeachtWhere stories live. Discover now