Oíche mhaith

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A primeira vez que transei foi no banco de trás de um jeep. Nós dois estávamos muito bêbados. Naquela época eu ainda estava tentando me encaixar, ser aceito. Foi na mesma época que comecei a fumar atrás do muro da escola, com um grupo de caras dos quais nem lembro o nome.

Depois dessa primeira experiência, eu lembro de me sentir tão vazio. E da segunda. E da terceira. Eu tinha apenas 16 anos, e logo estava saindo com meninas que já estavam no colégio. Tirando a primeira vez, a foda não era ruim: Era o depois. A sensação de estar fazendo algo errado, o sentimento de vazio só aumentava.

E ainda assim eu continuava. Fodendo, fumando, mentindo. Eu mentia em casa sobre a escola e sobre ter amigos, eu mentia na escola sobre quem eu era. Eu mentia sobre a terapia ter ajudado, sobre estar bem quando aquele vazio só aumentava e vendo sangue nas paredes do quarto quando ficava sozinho. E toda a raiva dentro de mim parecia escapar pelos meus poros, enquanto eu acordava toda noite camuflando meus gritos no travesseiro, mesmo sabendo que a casa devia estar vazia.

E até isso era minha culpa.

Meu pai não me olhava mais, ele não sabia mais quem eu era. Minha mãe estava sempre triste.

'Você está mentindo.' Meu pai dizia, de forma decepcionada.

Eu mordia minha língua para não responder.

'Não leve para o lado pessoal, daídi.' Eu pensava. 'Eu minto para todo mundo.'

...............

NAGATO SE ENCARAVA NO ESPELHO, A FACE ESQUERDA LEVEMENTE INCHADA DENUNCIAVA A AGRESSÃO QUE SOFRERA. A briga com Obito no dia anterior não havia sido muito agradável, claro, não podia esperar menos daquele homem, mas ainda assim sabia bem que ele não era páreo para si.

Comparando-se com Naruto, ambos tinham um estilo de luta bastante parecido: O posicionamento do corpo, a altura das mãos em punhos, o modo em que erguiam os ombros. Claro que tudo era questão de detalhes, mas ainda assim eram detalhes que ele reconheceria em qualquer lugar. E por isso sabia bem quem o havia ensinado a lutar.

A diferença entre os dois, era que Naruto tinha aqueles movimentos fluidos, como se incorporando vários tipos de luta e criado seu próprio. Ele era uma mistura perigosa, algo que nunca havia visto. Minato o havia ensinado bem, como havia ensinado Nagato, junto daquele velho encrenqueiro.

O pensamento, apesar de tudo, o deixou um pouco nostálgico. Pensar em Naruto, no entanto, o fez pensar em toda a situação, mas desde que se permitira ver o que acontecia, não conseguia tirar a imagem dele da sua cabeça. Era diferente saber teoricamente de um risco e outro ver as consequências de suas escolhas de forma tão crua.

Ele havia dito a si mesmo que estava disposto a correr aquele risco, a fazer aquele sacrifício, mas ao ver aquele vídeo, ver o vídeo do que Obito havia feito... As coisas fugiram do controle tão rápido. Odiava começar a ter segundos pensamentos, principalmente agora. Não tinha mais volta, não ia desistir tendo chegado a esse ponto. Depois de ter sacrificado tanto: a relação com sua irmã, e agora seu sobrinho.

A imagem de uma criança loira tomou sua mente e balançou a cabeça, espantando a visão.

Voltou ao quarto, parou alguns segundos antes de se deitar, olhando para fora da janela as luzes da cidade, brilhantes abaixo de si. O balanço da noite na cidade grande era quase angustiante para si. Estava tão perto de seu intento, mas ao mesmo tempo tão longe.

— Seattle, velha Seattle, que tanto guardas angústia de vossos filhos. Carentes de amor, cheios de dor. — Se sentou na beirada da cama king, ainda olhando pensativo pela janela. As palavras que tanto ouvia sua mãe recitar.

SeachtWhere stories live. Discover now