An eile

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O mundo sempre me pareceu muito confuso, como se o enxergasse em uma ótica diferente das dos demais, e por isso tudo o que as pessoas faziam não tinha muito sentido para mim. Durante as aulas com a minha avó ela sempre ficava frustrada por isso, quando minha mente navegava para longe do que ela queria me passar, do que não me interessava.

Eu tentava explicar para ela a razão, mas não conseguia. Havia tanto o que ela dizia que eu já sabia no íntimo, como se fosse algo que apenas precisasse de um empurrão para surgir, sussurrado por uma voz em minha mente, e isso sempre a deixava ainda mais preocupada. Meu avô, no entanto, entendia, em uma resignação que a deixava ainda mais frustrada.

Foi meu avô que me contou então de um salmão em que diziam era contido todo o conhecimento do mundo. E tinha um guerreiro, Finn MacCool, que queria todo o conhecimento do mundo para si. Um dia então ele capturou o salmão e resolveu que a forma mais prática de ter esse conhecimento seria o devorar.

Quando ele tentou cozinhar o peixe, o caldo esguichou e queimou o seu polegar, e ele o enfiou na boca para amenizar a dor da queimadura, e imediatamente soube do conhecimento de dentro do salmão. A partir de então, sempre que ele colocava o polegar na boca, conseguia o conhecimento que procurava.

Vovô dizia que meu conhecimento estava lá, eu só precisava o buscar. As verdades que me deixavam tão desconectado desse mundo e das pessoas, e as que me traria de volta para eles.

Quando eu me perdia dentro de mim, eu precisava achar meu caminho de volta para casa.

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ESTAVA NO MEIO DA FLORESTA NOVAMENTE, se vendo em mais uma das malditas provas. Podia ver as árvores altas distribuídas aleatoriamente, suas copas escuras, o chão forrado por folhas em decomposição, terra molhada, gravetos e pedras.

Assim que o sinal foi dado, começou a caminhar, seus coturnos afundando no chão fofo. Os olhos azuis serpentearam pela floresta, procurando pelo perigo eminente, que sabia estar ali. Os outros haviam sido soltos em outras partes, mas não se demorariam a se cruzar, se não tivesse cuidado.

Sabia o que precisava ser feito. Em poucos minutos já estava correndo, passando e pulando por troncos caídos, evitando galhos. Girou levemente a lança, a arma de escolha dessa vez, entre os dedos e respirou fundo, o ar gélido da madrugada ferindo seus pulmões. Seus cabelos jogados para trás, os lábios entreabertos por trás da máscara.

E por alguns segundos se permitiu pensar nos dias anteriores até ali, em como a situação se encontrava cada vez mais difícil.

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Suas mãos tremiam levemente enquanto removia a calça úmida, seus olhos focados na pia e não nas mãos enfaixadas. Era difícil se concentrar no que estava acontecendo, mas era mais fácil do que pensar em todos os seus problemas no momento. Enquanto se permitisse ficar a deriva, não seria preciso absorver todo o trauma dos últimos dias.

Naruto recusou ajuda para se trocar no banheiro da enfermaria. Acordar com o cheiro de urina e Sasuke o olhando daquele jeito já era ruim o bastante.

Convulsões. Era o que me faltava.

Com todos os problemas que havia tido quando criança, aquele nunca havia sido um, mas ele conhecia o bastante das visitas ao hospital com sua mam para torcer que fosse um resultado do estresse e não permanente.

Colocou o moletom com as cores da escola que a enfermeira lhe passou com um olhar preocupado que preferiu ignorar. Pelo menos haviam tido o bom senso de não a deixar o examinar, Kimimaro aparecendo como invocado quando o trouxeram. Ninguém queria sussurros sobre as marcas óbvias no seu corpo, obviamente.

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