11° Dia

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Árvores da infância(autor@RegioAndradeJr)

Lembro-me do vento nos pinheiros daquela chácara

Lembro-me como a chuva chegava

Lembro-me da sensação que causava na alma Como se a fé antiga habitasse aquele lugar

Lembro-me das risadas dos meus tios e do meu pai

Lembro-me do som dos pássaros que deixava o peito arcaico

Lembro-me de cada árvore que eu subia como se elas não tivessem fim

Lembro-me da minha avó grisalha que falava com os filhos, autoritária e calma

A chácara falava, a sussurrar na verdade histórias antigas. Sabia que meu pai e os meus tios também subiam aquelas árvores

Encontrei um dia entalhado em uma delas, que hoje já não me lembro o que era

Nas clareiras sentia Deus com sua caneta escrevendo o que é beleza

Chácara agora abandonada, mas ainda se escuta o que alguma árvore fala calma com o vento

Era a alma matriarca que falava.

Acampamento ( autora@JucimaraLara)

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Acampamento ( autora@JucimaraLara)

Era a primeira vez que íamos acampar. Tudo estava pronto e esperávamos meu tio que viria nos buscar. Meu coração palpitava de tanta ansiedade. Então ele chegou, colocamos tudo no carro: barracas, cobertores, comida, tudo que pensamos ser necessário.

Chegamos a uma linda cachoeira. Ainda era dia, por isso nós, crianças, nos banhávamos enquanto meu tio montava as barracas. Ríamos e nos divertíamos, sem medo de nada, sentindo a liberdade que a natureza nos proporciona.

Escureceu. Sentados ao redor da fogueira, ouvimos casos da infância de meu tio: córregos explorados, frutas no pé, brincadeiras.... Enfim, uma infância feliz!

Dormimos. E quando acordamos... Não havia mais nada! Talvez um cachorro-do-mato, um lobo, uma onça, ou só um cão vira-lata comeu toda nossa comida e tivemos que partir.

Nós fomos embora, mas a lembrança ficou em nossa memória e em nossos corações...

     Nós fomos embora, mas a lembrança ficou em nossa memória e em nossos corações

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Dominado pela mente ( autor@dioghofernandes)

Não tive noção dos perigos da floresta, pensei que poderia ser mais fácil cortar caminho dentro dela. Assim, arrisquei a minha vida e a de meus amigos. Quanto mais penetrávamos na floresta, mais perdíamos da saída. No primeiro momento pensamos em retornar, mas era tarde. A floresta se movimentava rapidamente mudando as trilhas. Entardecia rapidamente deixando-nos perdidos. Meu pensamento martelava furiosamente por ter pegado este atalho para chegar mais rápido. E no fim se tornou o mais longo.

Precisávamos achar um lugar para acampar, e o chão se movia. Uma grossa camada de lama cobria o chão com a chegada inesperada da chuva. Passamos toda noite em pé e cobertos com a lona da barraca na proteção das árvores.

Ao amanhecer, conseguimos avista uma cabana pequenina próxima à outra imensa árvore, ela era tão larga que mesmo eu e meus outros dois amigos déssemos a mão, ainda sim não a completava em abraço. A exaustão tomou conta de nossos corpos, assim dirigimos em direção a cabana que não demonstrava ser aconchegante. Decidimos entrar vagarosamente na busca de ajuda, e não havia ninguém em seu interior.

De inicio uma cabana que por fora não dava boas impressões, e seu interior demonstrava totalmente o contrario. Ela estava muito limpa e com uma enorme mesa aconchegante próximo à lareira. A mesa era farta de variadas comidas. Quem a organizou fez questão de manter cada detalhe. A grande curiosidade foi ver tudo aquilo e ninguém por perto. Em volta da mesa tinha varias confortantes cadeiras. À noite nos deixou com uma enorme fome, não pensamos duas vezes, sentamos e começamos a comer. A comida era incrivelmente bem feita, e depois da primeira mordida não se conseguia segurar os bons modos.

Quanto mais comíamos, mais se tinha. Parecia ser bruxaria, cada pedaço engolido a mente era levada ao sentimento profundo da grande felicidade. Passamos dois dias inteiros comendo sem parar. Nossas barrigas inchavam pela enorme quantidade de comida engolida. Não sobrava espaço para outros pensamentos que nos tirasse dali. Ao se aproximar o terceiro dia com o corpo crescendo, a cadeira de um dos meus amigos veio a se quebrar. Foi quando do nada surgiu um homem totalmente magro anêmico com vestias tampando apenas suas intimidades. O nosso olhar era o único que não fora dominado pela comida e olhamos este homem entrar lentamente e arrastar meu amigo caído para fora da casa.

Tirei forças inimagináveis do meu corpo para parar de comer e assim o homem entrou e veio em minha direção. Por instinto eu voltei a comer e percebi no momento o homem recuar para fora da casa. Pensei então que ao parar de comer ele viria em meu encontro. Assim com mais forças de sair e viver, eu levantei ainda comendo e segui para porta da frente com as mãos cheias. Em curtos prazos eu saio da casa e vejo o homem esquartejar meu amigo no canto do chão. Parecia que ele não me avistava, era como se eu estivesse invisível ao continuar comendo sem parar. De repente escuto um barulho dentro da casa e volto a olhar. No chão estava meu outro amigo longe de toda comida. Assim o homem levanta passando por mim despercebido e segue arrastando o para fora.

No mesmo processo ao primeiro, ele o faz com o segundo. Em minhas mãos a comida estava acabando e eu não conseguia mais voltar para dentro pelo tamanho da porta que diminuía constantemente. Eu me vi sendo a próxima vitima. Então avistando um machado no canto, eu coloquei o ultimo pão na boca e fui em sua direção para decapita lo. O machado pegou direto em sua cabeça o fazendo desaparecer por inteiro. Um grito ensurdecedor dominou a floresta me levando a desmaiar ali mesmo.

Ainda tremulo e zonzo, acordei em um quarto branco com uma placa escrita:

"Centro Hospitalar do Manicômio Santa Tereza."

Nas condições que me encontraram, disseram que em um surto psicótico eu devorei  meus amigos na floresta.

ANTOLOGIA 1Onde histórias criam vida. Descubra agora