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Já o dia tinha amanhecido e Sofia ainda permanecia acordada. Ao seu lado Rui remexia-se debaixo do cobertor alcançando a rapariga e voltando a sossegar em seguida. Olhou para ele, fez-lhe uma festinha no cabelo e sorriu. As últimas 24 horas têm sido tão agitadas para si que ainda nem tinha tido tempo para gozar esta nova fase da sua vida.

Vendo que já não valia a pena voltar a tentar adormecer, levantou-se e foi à casa de banho. Quando regressou encontrou Rui já acordado.

–Acordaste cedo hoje! – Exclamou.

–Na verdade nem cheguei a pregar olho. Continuo preocupada com o Márcio. – Desabafou Sofia sentando-se na cama, ao lado do namorado.

–Alguma coisa que eu possa fazer para ajudar? – Perguntou Rui levantando-se e aproximando-se da rapariga.

–Infelizmente não. O Márcio continua internado e agora só o tempo é que vai dizer como é que vão evoluir as coisas. – Respondeu Sofia desanimada.

–Vais ver que as coisas vão melhorar! – Encorajou Rui dando uma festinha no rosto da rapariga. – E agora quero o meu beijinho de bom dia. – Sofia acedeu e deu-lhe um beijo mas sem grande emoção.

–Ultimamente não te tenho dado a atenção que mereces. Tem sido tanta coisa ao mesmo tempo e quem acaba por sofrer por tabela és tu. A sério, desculpa!

–Eu percebo aquilo que estás a passar. Mas também precisas de relaxar de vez em quando, senão qualquer dia apanhas um esgotamento! – Aconselhou Rui preocupado com o ritmo de vida frenético que Sofia levava nos últimos dias.

–Eu sei que devia descansar mais mas não consigo relaxar quando as pessoas de quem eu gosto estão a passar por problemas, o que é que tu queres? – Respondeu Sofia que, acusando o stress acumulado, acabou por se desfazer em lágrimas.

–Calma, também não é preciso chorar! Fazemos assim: assim que tiver folga tiro o dia só para estar contigo e fazemos aquilo que te apetecer, boa? – Sugeriu Rui aconchegando a rapariga nos seus braços.

–Pode ser. Acho que é disso que eu estou a precisar. – Aceitou Sofia esboçando um leve sorriso e limpando as lágrimas.

–Até que enfim que vejo um sorriso nessa cara! – Exclamou Rui. – E agora tenho que me despachar para ir para o estágio. Mas a promessa fica feita: a próxima folga é só para nós os dois! – Prometeu levantando-se da cama. Arranjou-se, tomou o pequeno-almoço e saiu logo de seguida.

Entretanto Sofia recebia uma chamada. Era da sua mãe. Desde que se mudara para o Norte que apenas se falavam ocasionalmente.

–Estou, mãe?

–Olá querida, tudo bem consigo?

–Mais ou menos e com a mãe? Aconteceu alguma coisa? – Perguntou Sofia, dada a pouca frequência com que se falavam nos últimos tempos.

–Não querida, está tudo bem. Eu estou a ligar-lhe porque tomei uma decisão e quero que a menina seja a primeira a saber.

–E o que é, então? É algo relacionado com o pai?

–É. Eu estive a aconselhar-me e decidi que vou avançar com um pedido de divórcio para tribunal.

–Acho que fez bem em tomar essa decisão. Aliás, a mãe já devia era tê-la tomado há mais tempo! Mas tem consciência de que vai comprar uma guerra com o pai, não tem? – Acautelou Sofia.

–Tenho. E acredite que eu não ia com esta ideia para a frente se não tivesse refletido antes. E acredite que é isso que mais tenho feito no último ano e meio. Além disso os seus primos têm me apoiado imenso durante este tempo e estar-lhes-ei eternamente agradecida. Sabe que eu até já estou a trabalhar? –Revelou Madalena não escondendo a satisfação por, aos poucos e pela primeira vez, estar a tomar o controlo da sua própria vida.

–A sério? Mas isso é ótimo! – Exclamou Sofia em êxtase. Não esperava que a progenitora tivesse já este grau de autonomia da sua vida. – E está a trabalhar em quê?

–Estou a trabalhar numa florista mas por enquanto é só um part-time.

–Mas já é bom! Está a ganhar a sua independência financeira e isso é importante para os tempos que aí vêm. Estou mesmo muito feliz por si! E quando é que vai entrar com o pedido em tribunal?

–Muito em breve. Só me falta juntar mais uns documentos e avanço logo.

–A mãe já sabe que vai ter que se preparar MUITO BEM para a batalha que aí vem mas também sabe que pode contar comigo. Aliás, comigo, com a Bianca e com o Rui. Qualquer um de nós pode perfeitamente testemunhar a seu favor. – Apoiou Sofia.

–Eu sei, querida. Em relação a isso não tem que se preocupar. Os primos puseram o advogado deles ao dispor e é ele quem está a tratar de tudo. – Tranquilizou Madalena.

No final da conversa Sofia desligou a chamada com um sorriso esperançoso. Finalmente a mãe ia libertar-se das amarras do pai. Mesmo tendo estado este tempo todo albergada em Bragança os esforços de Henrique em encontrar Madalena têm sido incansáveis. Começou por pressionar Sofia nos primeiros tempos mas depois, vendo que não iria conseguir nada através dela, virou-se para outros elementos da família e amigos próximos e, tendo tido a mesma sorte, agora até a detetives privados Henrique já se vê obrigado a recorrer.

O facto de Madalena ainda não ter sido descoberta já era por si só uma sorte, dado o esforço e os meios à disposição de Henrique. Mas tal sorte também não iria durar eternamente, por isso, a melhor altura para Madalena reagir é agora.

Tudo Tem Um Fim IIWhere stories live. Discover now