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O efeito da anestesia foi atenuando e Sofia abriu lentamente os olhos. Inspecionou em volta e poisou o seu olhar em Rui, que há mais de duas horas se encontrava a seu lado de mão dada a si. Este sorriu-lhe. Sofia sorriu de volta e tentou erguer-se mas as dores detiveram-na.

–Cuidado para não rebentares os pontos! - Acautelou Rui ajudando a namorada a sentar-se na cama.

–Pontos? - Perguntou Sofia confusa acusando ainda alguns efeitos da anestesia.

–Calma, eu estou aqui contigo! - Acalmou Rui fazendo-lhe uma festinha no rosto, beijando-a em seguida. - Qual é a última coisa que te lembras? - Após uns instantes em silêncio, como que a pensar no significado da pergunta, Sofia respondeu:

–Estava na cozinha a preparar o almoço... e depois senti uma dor horrível e já não me lembro de mais nada.

–...e entretanto cheguei a casa e encontrei-te desmaiada no chão. - Completou Rui.

–Desmaiada?! O bebé? O nosso bebé está bem não está? - Questionou Sofia entrando em pânico ao mesmo tempo que tocava na barriga. Rui engoliu em seco. - O nosso filho está bem não está? - Insistiu Sofia apreensiva vendo Rui a desviar o olhar.

–Infelizmente não conseguiram salvar o nosso filho. - Revelou por fim. Um ar de aflição instalou-se no rosto de Sofia, que desatou a chorar. Rui sentou-se na borda da cama e reconfortou-a com um abraço apertado.

–Nós queríamos tanto ter este filho! - Balbuciou Sofia em lágrimas.

–Pois queríamos, mas foi melhor assim. O médico esteve a explicar-me e disse que tinhas uma gravidez ectópica. Ou seja, o bebé não estava no sítio onde devia estar, percebes? E se a gravidez fosse para a frente podias morrer! Mas felizmente conseguiram salvar-te e isso é que importa! Nem sei o que fazia se te perdesse a ti também!

–Mas porquê a nós? O que é que fizemos para merecer isto? - Questionou Sofia chorando continuamente.

–Não tem nada a ver com aquilo que fizemos ou deixámos de fazer. São coisas que acontecem e que ninguém controla. - Tranquilizou-a enquanto lhe acariciava os cabelos.

–Eu só quero ir para casa e esquecer isto tudo! - Desabafou Sofia. Não estava a ser uma fase nada fácil para si. Não bastavam as preocupações que já tinha como ainda sofria mais este revés. Eram várias coisas a acontecer ao mesmo tempo na sua vida e Sofia não sabia o que fazer para conseguir lidar com tudo isso.

*******

Ao fim de três dias Sofia tem alta e regressa a casa, ainda que condicionada a uma cadeira de rodas.

–Queres ir descansar para o quarto ou preferes ficar aqui? - Perguntou Rui, que vinha a conduzir a cadeira de rodas onde vinha Sofia.

–Quero ficar aqui na sala. Ajudas-me só a ir para o sofá, por favor? - Pediu Sofia.

–Claro. - Acedeu Rui. Encostou a cadeira à beira do sofá e ajudou-a a sentar-se de modo a que ela fizesse o menor esforço possível. Nessa tarde Sofia teve a companhia de Bianca, Márcio e Isabel, que a vieram visitar a casa e tentar animá-la.

–Então, amiga? Deixaste-nos a todos preocupados! - Exclamou Bianca que foi a correr abraçar Sofia.

–Nem me digas nada! Ainda estou à nora com tudo o que aconteceu. - Desabafou Sofia.

–Trouxemos-te estas flores para te animar um bocado. - Afirmou Isabel entregando um ramo de margaridas amarelas.

–Obrigada. São muito bonitas! - Agradeceu Sofia fazendo um sorriso.

–E como é que agora estás numa cadeira de rodas? - Perguntou Márcio curioso.

–É por causa dos pontos. Como fiz uma operação, a cadeira de rodas é mais para evitar esforços que possam fazer rebentar os pontos, percebes? - Explicou Sofia. - Mas o pior nem é a cadeira de rodas, o pior é que não vou poder voltar a dançar nas próximas semanas.

–Então? A operação foi assim tão delicada? - Perguntou Bianca.

–Foi. Como a trompa já se tinha rompido tiveram que a tirar. Os médicos disseram-me que perdi muito sangue e que se tivesse dado entrada nas urgências uns minutos mais tarde podia ter sido bastante pior. - Respondeu Sofia.

–Essas situações são sempre complicadas. Mas tu és uma rapariga forte e vais ultrapassar isto de
certeza! - Animou Isabel optimista colocando o braço em volta de Sofia. - E em relação às atuações, não te
preocupes com isso agora. Preocupa-te em te pores boa, que é para isso que estamos todos a torcer.

Tudo Tem Um Fim IIWhere stories live. Discover now