25. {PENÚLTIMO}

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[Dois meses depois]

Lisboa está em festa. Em todos os bairros da cidade, a população come, bebe e celebra em honra do seu santo casamenteiro, deixando as preocupações do dia-a-dia de lado. Em Alfama, o cheiro das sardinhas a estalar na grelha confunde-se com as luzes que iluminavam as ruas, as conversas dos moradores e os olhares curiosos dos turistas que passam de máquina ao pescoço.

Numa das várias mesas instaladas no meio da rua juntavam-se Sofia, Rui, Bianca e Madalena, que se deliciavam com uma saborosa tigela de caldo verde acompanhada de uma bifana ou uma sardinha a pingar no pão. Depois dos últimos tempos conturbados bem merecem descontrair um pouco.

–Eu nem me lembro quando é que foi a última vez que celebrei o Santo António! - Exclamou Madalena que, finalmente começava a sorrir para a vida.

–A partir de agora, a mãe é livre e pode ir onde bem quiser e apetecer! - Respondeu Sofia satisfeita por ver a mãe feliz. Um capítulo negro da sua vida encerrava-se e tanto mãe como filha podiam finalmente respirar de alívio e apreciar as coisas boas da vida.

–Claro, e quando quiser aparecer lá em casa é só avisar! - Acrescentou Rui.

–Ainda me estou a habituar a esta nova fase da minha vida. Quando estava em Bragança tinha o meu part-time na florista e habituei-me a ter a minha rotina diária. Agora voltei de vez para Lisboa e quero arranjar emprego rapidamente para recuperar a minha independência. - Desabafou Madalena, que tinha regressado de vez do norte do país, onde esteve refugiada antes de dar entrada com o processo de pedido de divórcio.

–E faz muito bem, dona Madalena. No entanto pode continuar lá em casa o tempo que for preciso, está bem? - Assegurou Bianca.

–Obrigada, minha querida! A Bianca ajudou-me tanto... considero-a quase como uma segunda filha! - Agradeceu Madalena pegando na mão de Bianca.

–Ai, não diga isso senão começo a chorar! - Respondeu Bianca sentindo-se sem jeito.

–Digo sim senhora, porque é verdade! Poucas pessoas se dispunham a ajudar-me como a Bianca me ajudou. E são essas poucas pessoas que eu quero manter perto de mim. - Bianca não disse mais nada, levantou-se do lugar, deu a volta à mesa e abraçou Madalena de lágrimas nos olhos. Num espaço de dois anos Madalena deixou de ser apenas a mãe da sua melhor amiga e passou a ser a sua segunda mãe.

*******

[Dia seguinte]

Sofia estava em casa e Bianca tinha vindo visitá-la. Enquanto isso, Rui tinha ido a Alvalade para uma reunião com o presidente do clube e o representante de um clube estrangeiro.

–Sabes se o Rui vem almoçar? - Perguntou Bianca.

–Ele não me disse nada porque não sabia. Mas, para terem marcado a reunião para as 11 horas, o mais certo é ele almoçar por lá. - Respondeu Sofia enquanto tirava dois pratos do armário. - No entanto ele disse para irmos almoçando se ele demorar.

–Mas não me pareces animada. Algum problema entre o Rui e o clube? - Perguntou Bianca, que ajudava Sofia a pôr a mesa, vendo-a de cara fechada.

–Não, que eu saiba não mas... - Hesitou Sofia poisando os pratos na mesa.

–Achas que poderá ser alguma proposta do estrangeiro? - Inferiu Bianca.

–É bem provável. O clube tem recebido várias propostas e algumas bem tentadoras. O Rui diz que se sente bem aqui e que quer ficar mas, ao mesmo tempo, percebo que ele, mais cedo ou mais tarde, queira dar o salto na carreira. E, como sabes, a carreira profissional dele é bem mais curta do que a nossa. - Explicou Sofia.

–E a confirmar-se essa hipótese, achas que vai afetar a vossa relação?

–Vai, porque se eu for com ele vou ter que deixar a minha carreira de lado, percebes? E depois ele hoje está aqui, amanhã está ali, a seguir está além... Mesmo que venha a retomar a minha carreira, estaria sempre a recomeçar do zero, porque um jogador de futebol raramente fica muito tempo no mesmo clube. E eu estando aqui sempre tenho alguma hipótese de evoluir, entendes? - Desabafou Sofia.

–Claro, entendo perfeitamente. E achas que manter a relação à distância está fora de questão? - Lembrou Bianca. - Se chegarem os dois a um compromisso talvez a relação à distância resulte.

–Não sei, só depois de eu e o Rui falarmos é que podemos chegar a uma solução.

–Vais ver que tudo se vai resolver pelo melhor! - Encorajou Bianca acariciando o ombro de Sofia. - Agora vamos mas é acabar de pôr a mesa senão o arroz ainda fica frio! - Sofia gracejou timidamente e terminou de pôr a mesa para logo depois iniciarem as duas a refeição.

*******

Eram quase duas horas e meia da tarde quando Rui chegava finalmente a casa, ainda a tempo de se cruzar com Bianca.

–Olha, é a minha deixa! Vou andando, querida. Qualquer coisa, já sabes! - Bianca despediu-se, deixando Sofia e Rui sozinhos.

–Então, como é que correu a reunião? Alguma proposta formal do estrangeiro? - Perguntou Sofia
apreensiva, sentando-se no sofá junto de Rui.

Tudo Tem Um Fim IIWhere stories live. Discover now