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Chega ao fim mais um dia de treino para Rui. O próximo jogo era muito importante, pois era a contar para a Liga Europa e implicaria a deslocação da equipa à Alemanha, país de origem da equipa adversária. Já tinha ligado a Sofia no final do treino mas esta não havia atendido e agora estranhava o
ladrar incessante de Maggie, que se podia ouvir do exterior.

–Que estranho, ela não costuma ladrar desta maneira! Será que aconteceu alguma coisa? - Pensou Rui e acelerou o passo. Entrou em casa e Maggie veio de imediato ter consigo.

–O que é que se passa? - Perguntou não entendendo o motivo da agitação do animal.

E foi então que a cadela se afastou em direção à cozinha. Rui seguiu-a e ao chegar pôde finalmente perceber o que é que se passava: uma poça de sangue destacava-se da brancura fria do chão e imediatamente ao lado estava Sofia desmaiada.

–SOFIA!!! - Exclamou Rui em choque que, num ápice, se ajoelhou à sua beira tentando reanimá-la. Não tendo tido sucesso, chamou o INEM e seguiu para as urgências, ignorando o ligeiro aparato que a presença da ambulância havia causado à porta do prédio.

–Há quanto tempo é que ela perdeu os sentidos? - Perguntou o enfermeiro que seguia na ambulância.

–Há meia hora, para aí. Ela está grávida de 6 semanas, por favor, salvem a minha namorada e o meu filho! - Suplicou Rui em aflição.

–As ameaças de aborto são comuns no 1º trimestre da gestação. A nossa equipa vai dar tudo para salvar a mãe e o embrião.

Chegaram ao hospital e levaram Sofia de imediato para observação.

–Aguarde na sala de espera, por favor. - Pediu o enfermeiro barrando a entrada de Rui na área reservada do hospital. Este não teve outra escolha senão acatar a indicação e foi até à sala, onde se sentou e levou as mãos à cabeça cabisbaixo e em lágrimas. Algumas pessoas que lá estavam olhavam a sua presença com surpresa mas sem coragem para o abordar.

Na sala de observação efetuaram uma ecografia que, além de ter confirmado o diagnóstico de gravidez, ainda revelou tratar-se de uma gravidez tubária e cuja trompa já se tinha rompido.

–Levem a paciente imediatamente para uma cirurgia de emergência! - Ordenou o obstetra. O rompimento da trompa tinha provocado a hemorragia que, por sua vez, causara o desmaio a Sofia.

Já na sala de cirurgia, realizou-se uma laparoscopia. Um procedimento cirúrgico menos invasivo mas, ainda assim, com algum risco de vida para Sofia, devido à perda sanguínea intensa. Ao observarem a zona afetada, os cirurgiões não tiveram dúvidas: era necessário remover toda a trompa esquerda, onde se encontrava alojada a gravidez. Tal iria baixar as hipóteses de uma nova gravidez mas era o mais seguro para diminuir o risco de uma nova gravidez tubária e salvaguardar a vida de Sofia.

Contudo, uma hemorragia interna inesperada coloca em risco a sua vida.

–Temos uma hemorragia. Compressas, rápido! - Pediu o cirurgião com urgência. As compressas são
insuficientes para estancar o sangue e dá-se uma interrupção súbita dos batimentos cardíacos.

–A paciente entrou em paragem cardio-respiratória. Manobras de reanimação imediatamente! - Uma das enfermeiras aproxima-se e faz várias compressões sobre a caixa torácica.

–A paciente não responde aos estímulos. O que fazemos, doutor? - Perguntou a mesma enfermeira.

–Insista mais uma vez. Entretanto preparem o desfibrilhador para o caso da paciente continuar sem responder. - Indicou o cirurgião.

–Não responde. - Afirmou a enfermeira após mais uma tentativa falhada de reanimação.

–Nesse caso avancem com o desfibrilhador. - Autorizou o cirurgião. Um segundo enfermeiro aproximou-se e a restante equipa afastou-se para que este pudesse atuar.

–Afastem-se, por favor! - Pediu dando em seguida um choque com as placas metálicas do aparelho.

–Mais uma vez, por favor! - Insistiu o cirurgião ao ver que Sofia continuava sem reação. O enfermeiro volta a dar mais um choque e o coração de Sofia volta a registar batimentos cardíacos, para alívio de toda a equipa médica.

Retomaram então a cirurgia e a trompa esquerda foi removida com sucesso. Concluída a intervenção cirúrgica, levaram Sofia para a ala de convalescença.

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–Como é que ela está? - Perguntou Rui levantando-se ao ver o cirurgião a caminhar em direção a si.

–A Sofia neste momento já se encontra fora de perigo. - Informou, causando um sorriso de alívio no rosto Rui.

–E o meu filho? Como é que ele está?

–Infelizmente não foi possível salvar o embrião. - O sorriso de Rui desvaneceu-se para dar lugar à tristeza e à aflição.

–Não!!! - Exclamou Rui acabando por se sentar novamente.

–Lamento imenso. - Tentou acalmar o cirurgião. – A Sofia tinha uma gravidez ectópica. O embrião encontrava-se alojado fora da cavidade uterina, que neste caso era na trompa esquerda, e isso acabou por causar o seu rompimento. A remoção da trompa e da respetiva gravidez foi a melhor solução para salvaguardar a vida de Sofia. - Rui limpou as lágrimas e voltou a levantar-se.

–Posso vê-la? - Pediu. O cirurgião assentiu e levou-o até à ala onde Sofia se encontrava.

Tudo Tem Um Fim IIOnde histórias criam vida. Descubra agora