18.

12 1 0
                                    

[Um mês depois]

É hoje a 1ª audiência do processo de divórcio dos pais de Sofia, que deixou a cadeira de rodas há já uma semana e que irá retomar as atuações na Velha Senhora dentro de quatro dias.
Faltavam ainda duas horas para o início da audiência e já um batalhão de jornalistas se encontrava plantado à espera dos principais protagonistas de um dos divórcios mais escrutinados da vida social portuguesa dos últimos tempos.

Henrique e Zé Maria foram os primeiros a chegar juntamente com o advogado. De óculos escuros e ar altivo, nenhum prestou qualquer declaração à imprensa. 45 minutos depois chegava Madalena acompanhada de Sofia, Bianca e o advogado, que tentava abrir caminho por entre o mar de máquinas fotográficas, microfones e gravadores que tentavam a todo o custo arrancar uma foto ou uma declaração de Madalena, que tapava a cara com a mão.

-Deixem passar, por favor! - Foi a única frase que se ouviu do advogado de defesa de Madalena. Rui, tendo vindo de uma deslocação à Madeira no dia anterior, teve permissão para se ausentar desta primeira audiência.

Já no interior do tribunal, num espaço amplo, Sofia e Bianca encorajavam Madalena, ao mesmo tempo que acertavam os últimos detalhes da defesa com o advogado. Foi nessa altura que Henrique se aproximou de Madalena de forma intimidatória.

-Você não vai conseguir UM TOSTÃO daquilo que me pertence! - Exclamou Henrique encarando Madalena com um olhar fulminante.

-Veremos! A situação para o seu lado não é lá muito famosa, sabe? - Respondeu Sofia confiante num desfecho positivo para a mãe.

-A sua mãe saiu de casa com uma mão à frente e outra atrás, nunca fez nada na vida. Como é que pensa que ela vai pagar os honorários do advogado, quanto mais sobreviver sozinha? - Continuou Henrique em tom provocatório.

-Afaste-se, por favor! - Ordenou Sofia abraçando a mãe em forma de proteção.

-Tenho pena de si! - Atirou Henrique olhando Madalena com menosprezo.

-Henrique, por favor... - Pediu Madalena demonstrando ainda algum receio de Henrique. Este olhou para o grupo durante uns instantes e afastou-se a passo lento, indo de volta para o pé de Zé Maria e do advogado.

Entretanto dá-se início à audiência. Feitos os procedimentos iniciais, o juiz começa por inquirir Madalena.

-Diga-me: que motivos a levam a querer acabar com um casamento de 30 anos? - Madalena inspirou fundo de olhos fechados e respondeu:

-Um dos princípios do matrimónio é o respeito e esse princípio foi claramente desrespeitado pelo meu ainda marido.

-Desrespeitado em que sentido? Pode citar exemplos? - Perguntou o juiz. Madalena baixou o olhar tentando disfarçar algum nervosismo mas depressa o reergueu.

-O Henrique sempre agiu de modo intimidativo comigo no modo como falava e se dirigia a mim. Fazia-me sentir inferior, desvalorizava os meus pontos de vista sobre as coisas e muitas vezes obrigava-me a agir da maneira que ele queria mesmo que eu não concordasse. - Relatou Madalena.

-No seu requerimento fala igualmente em violência doméstica, nomeadamente, violência física. -
Referiu o juiz passando os olhos nuns documentos que tinha na mão. - Em que situações se davam esses casos de violência doméstica? - Madalena voltou a fechar os olhos e a respirar fundo enquanto aguentava o choro. - Consegue dizer quando é que aconteciam as situações de violência doméstica? - Insistiu o juiz vendo que Madalena estava a demorar mais tempo a responder.

-Peço desculpa Sr. Dr. Juiz. Há coisas que ainda me custam relembrar sem me ir abaixo. - Desculpou-se Madalena.

-Tudo bem. Quando quiser pode prosseguir. - Desvalorizou o juiz.

-As situações de violência doméstica aconteciam essencialmente quando nos encontrávamos sozinhos em casa ou quando as outras pessoas da casa se encontravam longe o suficiente para não se aperceberem (o que numa mansão não é muito difícil) e à noite. E aumentaram de frequência depois que a minha filha Sofia saiu de casa. - Argumentou Madalena.

-E que mais?

-O Henrique chegou a trancar-me no quarto vários dias sem contacto com o exterior e, às vezes, sem comida. E quando perguntavam pela minha ausência ele respondia que estava doente ou que não queria ver ninguém.

-E nunca ninguém se apercebeu do que estava realmente a acontecer? - Questionou o juiz incrédulo.

-Não. Nem o meu filho nem nenhum dos nossos empregados mas a minha filha desconfiou uma vez quando a fui visitar, depois dela ter saído de casa.

-E foi com a ajuda da sua filha que conseguiu sair de casa, certo? - Perguntou o juiz.

-Exato. Aproveitei o facto de Henrique se ter ausentado para uma deslocação ao Porto e saí de casa pela calada da noite. Foi a minha filha mais a Bianca que me ajudaram nessa altura a ir para um sítio longe o suficiente daqui.

-Muito bem, por agora é tudo. - Concluiu o juiz, dando ordem para que Madalena regressasse ao seu lugar. Na plateia Henrique e Zé Maria mantinham o mesmo ar sério e altivo. De vez em quando, discretamente, iam trocando comentários com o advogado mas sem deixar de estarem atentos ao desenrolar do julgamento.

Tudo Tem Um Fim IINơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ