[Um mês depois]
É hoje a 1ª audiência do processo de divórcio dos pais de Sofia, que deixou a cadeira de rodas há já uma semana e que irá retomar as atuações na Velha Senhora dentro de quatro dias.
Faltavam ainda duas horas para o início da audiência e já um batalhão de jornalistas se encontrava plantado à espera dos principais protagonistas de um dos divórcios mais escrutinados da vida social portuguesa dos últimos tempos.Henrique e Zé Maria foram os primeiros a chegar juntamente com o advogado. De óculos escuros e ar altivo, nenhum prestou qualquer declaração à imprensa. 45 minutos depois chegava Madalena acompanhada de Sofia, Bianca e o advogado, que tentava abrir caminho por entre o mar de máquinas fotográficas, microfones e gravadores que tentavam a todo o custo arrancar uma foto ou uma declaração de Madalena, que tapava a cara com a mão.
-Deixem passar, por favor! - Foi a única frase que se ouviu do advogado de defesa de Madalena. Rui, tendo vindo de uma deslocação à Madeira no dia anterior, teve permissão para se ausentar desta primeira audiência.
Já no interior do tribunal, num espaço amplo, Sofia e Bianca encorajavam Madalena, ao mesmo tempo que acertavam os últimos detalhes da defesa com o advogado. Foi nessa altura que Henrique se aproximou de Madalena de forma intimidatória.
-Você não vai conseguir UM TOSTÃO daquilo que me pertence! - Exclamou Henrique encarando Madalena com um olhar fulminante.
-Veremos! A situação para o seu lado não é lá muito famosa, sabe? - Respondeu Sofia confiante num desfecho positivo para a mãe.
-A sua mãe saiu de casa com uma mão à frente e outra atrás, nunca fez nada na vida. Como é que pensa que ela vai pagar os honorários do advogado, quanto mais sobreviver sozinha? - Continuou Henrique em tom provocatório.
-Afaste-se, por favor! - Ordenou Sofia abraçando a mãe em forma de proteção.
-Tenho pena de si! - Atirou Henrique olhando Madalena com menosprezo.
-Henrique, por favor... - Pediu Madalena demonstrando ainda algum receio de Henrique. Este olhou para o grupo durante uns instantes e afastou-se a passo lento, indo de volta para o pé de Zé Maria e do advogado.
Entretanto dá-se início à audiência. Feitos os procedimentos iniciais, o juiz começa por inquirir Madalena.
-Diga-me: que motivos a levam a querer acabar com um casamento de 30 anos? - Madalena inspirou fundo de olhos fechados e respondeu:
-Um dos princípios do matrimónio é o respeito e esse princípio foi claramente desrespeitado pelo meu ainda marido.
-Desrespeitado em que sentido? Pode citar exemplos? - Perguntou o juiz. Madalena baixou o olhar tentando disfarçar algum nervosismo mas depressa o reergueu.
-O Henrique sempre agiu de modo intimidativo comigo no modo como falava e se dirigia a mim. Fazia-me sentir inferior, desvalorizava os meus pontos de vista sobre as coisas e muitas vezes obrigava-me a agir da maneira que ele queria mesmo que eu não concordasse. - Relatou Madalena.
-No seu requerimento fala igualmente em violência doméstica, nomeadamente, violência física. -
Referiu o juiz passando os olhos nuns documentos que tinha na mão. - Em que situações se davam esses casos de violência doméstica? - Madalena voltou a fechar os olhos e a respirar fundo enquanto aguentava o choro. - Consegue dizer quando é que aconteciam as situações de violência doméstica? - Insistiu o juiz vendo que Madalena estava a demorar mais tempo a responder.-Peço desculpa Sr. Dr. Juiz. Há coisas que ainda me custam relembrar sem me ir abaixo. - Desculpou-se Madalena.
-Tudo bem. Quando quiser pode prosseguir. - Desvalorizou o juiz.
-As situações de violência doméstica aconteciam essencialmente quando nos encontrávamos sozinhos em casa ou quando as outras pessoas da casa se encontravam longe o suficiente para não se aperceberem (o que numa mansão não é muito difícil) e à noite. E aumentaram de frequência depois que a minha filha Sofia saiu de casa. - Argumentou Madalena.
-E que mais?
-O Henrique chegou a trancar-me no quarto vários dias sem contacto com o exterior e, às vezes, sem comida. E quando perguntavam pela minha ausência ele respondia que estava doente ou que não queria ver ninguém.
-E nunca ninguém se apercebeu do que estava realmente a acontecer? - Questionou o juiz incrédulo.
-Não. Nem o meu filho nem nenhum dos nossos empregados mas a minha filha desconfiou uma vez quando a fui visitar, depois dela ter saído de casa.
-E foi com a ajuda da sua filha que conseguiu sair de casa, certo? - Perguntou o juiz.
-Exato. Aproveitei o facto de Henrique se ter ausentado para uma deslocação ao Porto e saí de casa pela calada da noite. Foi a minha filha mais a Bianca que me ajudaram nessa altura a ir para um sítio longe o suficiente daqui.
-Muito bem, por agora é tudo. - Concluiu o juiz, dando ordem para que Madalena regressasse ao seu lugar. Na plateia Henrique e Zé Maria mantinham o mesmo ar sério e altivo. De vez em quando, discretamente, iam trocando comentários com o advogado mas sem deixar de estarem atentos ao desenrolar do julgamento.
BẠN ĐANG ĐỌC
Tudo Tem Um Fim II
Lãng mạnNão há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe. Ano e meio se passou, as coisas evoluem e quando elas parecem claras e estarem a correr num determinado sentido, é quando a maldita da vida resolve aparecer e causar uma grande reviravolta. E a vid...