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Sofia era a próxima a responder perante o juiz. Avançou sem medo e respondeu a todas as perguntas do juiz de modo assertivo e confiante.

–Como é que descreve a relação entre os seus pais? - Perguntou.

–Uma relação mais de dominância do meu pai em relação à minha mãe do que uma relação de igual para igual. Sempre foi assim desde que me lembro. O meu pai gosta de ter o controlo de tudo e todos à sua volta, ao passo que a minha mãe teve sempre tendência para se anular. Nunca teve coragem para se fazer respeitar porque sentia medo dele. Acho que sempre sentiu. - Respondeu Sofia.

–E quando é que começou a desconfiar que a sua mãe pudesse ser vítima de violência doméstica? - Perguntou outra vez o juiz.

–Ironia ou não, só depois de ter saído de casa. Mais propriamente numa ocasião em que ela veio visitar-me de surpresa e eu reparei numa marca no braço que antes não tinha. E também me lembro que ela saiu logo a seguir dizendo que estava com pressa. Aliás, o meu namorado Rui também estava presente nessa ocasião. - Recordou Sofia.

–E depois desse dia quando é que voltou a ver a sua mãe? - Perguntou o juiz que segurava o queixo com a mão.

–Na noite em que ela saiu de casa, umas semanas depois. Aproveitou o facto do meu pai se ter ausentado em trabalho e veio bater-me à porta, às tantas da noite, lavada em lágrimas e com duas malas na mão. Foi nessa altura que eu e a Bianca ficámos a saber de tudo o que o meu pai lhe tinha feito. Escusado será dizer que nessa noite já nem dormimos! De madrugada fomos levá-la ao terminal rodoviário, onde daí partiu para casa de uns familiares afastados, que entretanto os pusemos a par da situação toda e foram eles que ajudaram a minha mãe durante a maior parte desse tempo até hoje. - Relatou Sofia.

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A audiência foi prosseguindo até que chega a vez da defesa de Henrique se pronunciar.

–Essas acusações são todas falsas! - Disparou Henrique. - Eu NUNCA toquei num fio de cabelo da Madalena nem fiz nada daquilo que me acusam!

–Não é isso que o relatório médico diz, sabe? - Perguntou o juiz retoricamente, ao mesmo tempo que pegava no dito relatório médico e o citava. - Nódoas negras, marcas de estrangulamento, traumatismos diversos... como é que explica estes factos?

–Eu não fiz nada disso! Ela é que infligiu essas marcas a ela própria para me poder acusar. - Acusou Henrique deixando Madalena escandalizada, assim como Sofia e Bianca.

–Infligir? Acha mesmo que a sua mulher consegue infligir uma marca profunda no PRÓPRIO braço que, segundo as análises, foi feita COM AS DUAS MÃOS? - Questionou o juiz fazendo o réu ver que essa acusação não tinha qualquer sentido. - E se nunca tocou num fio de cabelo da sua mulher, como alega, que motivo é que ela teria para querer fugir de casa precisamente durante uma ausência sua?

–Ela abandonou o lar simplesmente porque quis! Eu dei-lhe tudo e durante todo este tempo não quis saber da família nem se dignou a dar notícias. - Insinuou Henrique tentando manchar a defesa de Madalena.

A audiência prosseguiu com constantes trocas de acusações entre as duas partes. A audiência final, onde seriam ouvidas as restantes testemunhas e proferido o veredito final do juiz, ficou agendada para sensivelmente dali a um mês.

À saída Madalena e Henrique lançaram um olhar frio e desafiante um ao outro mas nada disseram. Apenas Sofia e Bianca trocavam sugestões sobre a melhor solução para abandonar o edifício sem que a imprensa, que continuava plantada junto à entrada principal do tribunal, se apercebesse. Ao que acabaram por fazê-lo por uma das saídas de emergência que dava acesso ao parque de estacionamento, ao invés de Henrique e Zé Maria, que saíram pela entrada principal da mesma maneira com que entraram: altivos e sem prestar declarações.

Tudo Tem Um Fim IIWhere stories live. Discover now