Três dias depois o corpo é libertado e realiza-se assim o funeral. A autópsia feita pelo Instituto de Medicina Legal confirmou o suicídio através da ingestão de comprimidos misturados com álcool. No velório várias pessoas compareceram para dizer o último adeus a Márcio Biscaia. Entre os quais, além de Sofia, Bianca e Isabel, alguns dos amigos com quem Márcio partilhou incontáveis noites loucas de farra por essa Lisboa fora, um ou dois ex colegas de trabalho de quem ele era mais próximo e também o Hélio, que veio de propósito de Espanha para se despedir do ex namorado pela última vez. Só da família, e mesmo tendo sido avisada, é que não apareceu ninguém, dado esta e Márcio terem estado de relações cortadas nos últimos anos. Já Rui apenas pôde estar presente no velório por breves momentos, uma vez que se encontrava em estágio com a equipa no norte do país.
–¡No puedo creer que es verdad! Yo lo amaba mucho! - Desabafou Hélio a chorar abraçado a Bianca.
–Estamos todos em choque com o que aconteceu. - Respondeu Bianca aconchegando o amigo nos braços.
–Tú debes ser Sofia. - Deduziu ao reparar em Sofia, que estava imediatamente ao lado de Bianca.
–Sou. Finalmente conhecemo-nos, pena que as circunstâncias não sejam as melhores. - Respondeu, dando em seguida um abraço sentido a Hélio.
–Es verdad. - Concordou. - Márcio hablaba mucho en ti y en Bianca.
Da cerimónia na igreja, o cortejo fúnebre segue para o cemitério da Ajuda. A tristeza, que já imperava de forma bem clara em todos os rostos, acentuou-se ainda mais no momento em que o padre proferia as últimas palavras e o caixão descia em direção à terra com o auxílio de dois coveiros.
Especialmente Sofia, que já mal conseguia respirar com tanto choro e teve que ser Hélio a trazê-la até à
parte de fora da entrada do cemitério para tentar acalmá-la.–¡Tienes que calmarte, Sofia! Márcio no me gustaría verte en ese estado. - Hélio tentou acalmar Sofia ao mesmo tempo que lhe fazia festinhas no rosto limpando-lhe as lágrimas.
–Eu sei, mas não consigo. Isto é tão injusto! - Balbuciou Sofia continuando a chorar. Ficaram os dois mais algum tempo cá fora e regressaram depois ao interior do cemitério, onde os dois coveiros acabavam de compor a terra que formava um pequeno monte na campa de Márcio.
–Vou andando. Qualquer coisa, já sabem que podem contar comigo! Muita força nesta altura, sim? -
Despediu-se Isabel afagando o ombro de Bianca.–Obrigada, Isabel. - Agradeceu Bianca. Já depois de todos se terem ido embora, ela, Sofia e Hélio ainda ficaram uma boa meia hora debruçados sobre a campa de Márcio, agora coberta de coroas de flores.
******
[Uma semana depois]
–Ai, a sério, já não posso com esse gato! Há meia hora que não pára de miar aí à porta! - Reclamou Bianca. - Vê lá o que é que o animal quer! - Sofia deslocou-se até à porta e, ao abri-la, o felino entra em casa indo logo sentar-se no sofá, no lugar onde habitualmente se sentava Márcio.
–Olha, já viste? Parece que temos um hóspede cá em casa! - Exclamou Sofia surpreendida olhando para o animal, um Azul da Rússia felpudo que se deixava descansar na poltrona movendo calmamente a cauda, pouco se importando se podia de facto ali estar ou não.
–Não o achas parecido com um que Márcio teve quando era criança e que desapareceu? - Reparou Bianca quando olhou para o gato aproximando-se dele.
–Sim, também me lembrei disso. O Márcio contou-nos que ficou inconsolável quando ele desapareceu! - Acrescentou Sofia, sentada no braço do sofá a acariciar o animal. - Curioso que ele tenha vindo ter justamente a esta casa, não achas?
–Agora que falas nisso, realmente não deixa de ser uma enorme coincidência. É como se o Márcio tivesse regressado para ao pé de nós! - Concordou Bianca dizendo a última frase com alguma emoção. – Temos que ficar com ele! - Afirmou decidida. - Isto é o universo a dizer para ficarmos com ele. Não há hipótese!
–Por mim tudo bem. E que nome lhe damos? - Perguntou Sofia já com o gato ao colo.
–Acho que é óbvio! Temos que o chamar de Márcio. - Decidiu Bianca.
–Concordo. Vamos cuidar dele como um membro da família, tal como o Márcio. - Afirmou Sofia olhando carinhosamente para o felino que mantinha no seu colo. - O nosso outro Márcio. - Clarificou.
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Tudo Tem Um Fim II
RomanceNão há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe. Ano e meio se passou, as coisas evoluem e quando elas parecem claras e estarem a correr num determinado sentido, é quando a maldita da vida resolve aparecer e causar uma grande reviravolta. E a vid...