XVII - Fantasmas do Passado

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"Nós não somos quem costumávamos ser. Nós somos apenas dois fantasmas no lugar de você e eu" - Two Ghosts, Harry Styles

Dedico esse capítulo à minha bebê MaiaraFrancielly

 John Rutherford ajustou a gravata junto ao colarinho da camisa social e respirou fundo examinando sua própria imagem refletida no grande espelho do elevador

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John Rutherford ajustou a gravata junto ao colarinho da camisa social e respirou fundo examinando sua própria imagem refletida no grande espelho do elevador.

O verão no Tennessee atingia temperaturas ainda mais altas do que a sua terra natal na Geórgia, porém aqui ele não poderia simplesmente fazer uma pausa para se refrescar na praia no meio da tarde.

Mesmo assim, ele sabia que eventualmente haveria de se acostumar a andar vestido nesses trajes quentes, eram os ossos do ofício, dada a escolha profissional que houvera feito recentemente.

Quando as portas de aço se abriram no décimo terceiro andar, revelando, por trás da vidraça, a luxuosa recepção do escritório Rose & Jones decorada em madeira escura e mobília neoclássica, John estaria mentindo se dissesse que não estava um pouco nervoso.

Suas mãos suavam um pouco, e ele sentia o nó da gravata apertar seu pescoço, como se pudesse sufocar a qualquer momento. Ele detestava situações onde fosse julgado, detestava a ideia de estar ali.

O único motivo para ter ido, era Judith, a quem considerava como sua própria avó, e que, com tanto carinho e cuidado, havia lhe arrumado aquela entrevista. E também, porque precisava – tanto financeiramente quanto academicamente – daquele estágio.

Dois verões depois da breve temporada que houveram passado juntos na Geórgia, John já não pensava mais em Alison Grace, tampouco tentava descobrir as razões pelas quais a garota houvera decidido por ir embora sem se despedir, e por que nunca mais atendeu suas ligações ou mandou notícias. Mas a memória desses dias mágicos lhe atingiu como uma granada quando pisou o primeiro pé naquele chão de porcelanato.

As brigas, as brincadeiras, os beijos sobre a caçamba da caminhonete velha e enferrujada que havia ganhado de presente da mãe quando completou dezesseis, e que ele tanto adorava, mas que houvera vendido pra ajudar com as contas da casa.

Ele não imaginou à época que a tendência da vida era somente ficar mais e mais complicada, e que haveria coisas piores do que perder a garota que amava.

Ele não imaginou que o furacão teria impactado de maneira tão decisiva a vida financeira da sua família. Não imaginou que hipotecas precisariam ser pagas, pois, caso contrário, perderiam a fazenda onde ele tanto adorava morar. Não imaginou que se mudaria de lá, que ingressaria na faculdade em que costumava sonhar. E, principalmente, não imaginou que com a perda da sua mãe, não houvesse sido o único ficar machucado. Não imaginou que por trás da imagem segura e serena que Frederick Rutherford transparecia sobre o púlpito de sua igreja, ele estava sofrendo assim como ele.

Todas as Estrelas da GeórgiaWhere stories live. Discover now